17 setembro 2007
sementes estranhas
Nosso epifânico doutor – q, como resenhista literário dos Cadernos de Plausibilática, tem uma longa bibliografia crítica oral – publicou hoje uma resenha na Copa de Literatura Brasileira, ditada impromptu via telefone desde Basra, onde ora ministra um curso de Plausobélica Mirim a um grupo de moscas.
14 setembro 2007
Origens lingüísticas do atraso brasileiro, parte 3
Após ler o adendo a este artigo, o Alex Castro me aperguntou a següinte coisa:
Tãovamolá.
a tese
A civilização – entendida como o processo complexificante de civilizar – depende da acumulação de instruções e obediência a elas: qto mais complexa e civilizada é uma cultura, tanto mais instruções se descobrirá permeando toda sua estrutura. Uma instrução é qqer declaração q direcione uma ação: leis, decretos, regras, manuais, avisos, comandos, &c.
Uma instrução sempre almeja a explicitude. Pra ser explícita, uma instrução precisa ser seca, direta e clara. Sem instruções assim, é impossível juntar 10 mil pessoas numa organização amparada por uma comunidade de 100 mil, inserida numa cidade de 1 milhão, suprida por um país de 10 milhões, e esperar q aquelas 10 mil construam Porsches.
A tese do doutor é simples. O português e o espanhol, com suas rocoquices e frescuras, são línguas em q a explicitude dá trabalho demais. O brasilês é pior ainda. Já o inglês, o alemão e o japonês são línguas explícitas: secas, diretas, claras. A explicitude das instruções vem duma característica presente mais claramente no japonês: o ideograma. O ideograma é um símbolo imutável: vc bate o olho e já vê o q é, sem referência à gramática circundante. Em inglês e japonês, essa imutabilidade está presente também na língua falada: as palavras têm poucas variantes gramaticais (em inglês, por exemplo, adjetivos, preposições, artigos e advérbios são imutáveis; verbos têm no máximo 5 formas, exceto o be q tem 8; substantivos só mudam em número). Assim, as instruções podem ser dadas como seqüências de ideogramas.
Além disso, essas línguas mantêm a mesma ortografia há séculos, auxiliando a função ideogramática de seus vocábulos.
exemplo inglês
Veja este exemplo, tirado do manual de treinamento de novos funcionários duma firmeca inglesa:
Tente escrever essas instruções em português. Pior: tente em brasilês. Vc vai ter q incluir preposições, artigos, concordâncias; vai ter q acochambrar as traduções de 'allow time', 'report' e 'completion', e pra arrematar, vai ter q dar um jeito de esclarecer q é o supervisor do treinador e não o do treinando q deve ser avisado.
Essas coisas ocupam um espaço precioso na cabeça do portuguesante e, pior, um tempo precioso em sua vida.
A seguir, dois exemplos de instruções originalmente idealizadas e redigidas em português. Vc vai querer chiar q esses exemplos todo o mundo vê q foram mal redigidos, &c. Mas nem se incomode. A questão q o doutor quer esclarecer não tem a ver diretamente com a redação.
exemplo brasilês 1
Uma lei promulgada pelo governo do estado de SPaulo determina q o seguinte aviso deve ser afixado em toda porta de elevador no estado.
“ANTES DE ENTRAR NO ELEVADOR ... NESTE ANDAR”
• Ô, Pedro Bó, só é possível entrar no elevador se ele está parado neste andar. Se entro no elevador, ele não pode estar na quarta dimensão dum buraco negro. Só por essa, o aviso já parece saído de alguém de mente confusa.
“...VERIFIQUE SE...”
• Ou seja, não precisa CONFIRMAR QUE ele está no andar. Basta verificar SE ele está ali.
– Ok, já abri a porta e verifiquei. Ele NÃO está. ¿Posso atravessar a porta agora?
“...O MESMO...”
• Questão gramatical amplamente discutida na internet, orkut, &c, onde se tende a sugerir “...verifique se ELE se encontra...”. (Note o seguinte, leitor: grande bosta. Essa é a parte do aviso semanticamente MENOS absurda, e ¿o q acontece? Milhões de portuguesantes reclamam dela pq trata-se duma questão formal. Êitcha.)
“...ENCONTRA-SE PARADO...”
• ¿Como assim, “encontra-se” parado? ¿Pq, se dissesse “está parado”, daria a impressão de “está quebrado”?
– Olha lá aquele cara na esquina. ¿Ele encontra-se parado ao lado do poste?
– Olha lá o sapato no chão. ¿Ele encontra-se jogado embaixo da cama?
– Olha lá meu carro. ¿Ele encontra-se estacionado em frente ao banco?
“...NESTE ANDAR.”
• Não, Pedro Bó, estou neste andar pra pegar o elevador no andar de cima.
Parafraseando a mensagem lógica desse aviso, o q ele de fato DIZ é algo assim:
A barbaridade do aviso existente não quer dizer q a idéia central dele não possa ser facilmente expressa em português. Veja:
exemplo brasilês 2
A rocoquice do português confunde o redator. Ele acha q a instrução q redige é tão pedante qto a gramática q quer usar. Observe esta protuberância, excretada por não menos q o Ministério da Saúde (via ANVISA):
QUA QUA QUA QUA QUA QUA
¿Por que não faz assim, ó:
prestenção agora
Mas a questão q o Dr Plausível enfatiza é COMPLETAMENTE OUTRA. O problema do português não é q ele tem maus redatores q escrevem coisas ilógicas e pedantes. O problema [¡prestenção!] é q o leitor ENTENDE o q o redator quis dizer. As rocoquices confundem tanto a cabeça do redator qto a do leitor.
Vc pode ter achado q nosso exosférico doutor entrou em contradição, pois ¿como é q diz q o leitor “entende”, se as rocoquices o “confundem”? Veja bem: o leitor entende o q o redator quis dizer, e não outra coisa, apesar de q é a outra coisa q está efetivamente sendo dita.
Pois é. Citando o artigo q começou esta série: “Não pode ter muito a dizer uma língua em q algo de significado contraditório pareça fazer sentido porque, no contexto, só pode ter outro significado.” O significado entendido é sempre aquele q mais costumeiramente se adapta ao contexto. Esse é um problema gravíssimo pra uma cultura numa era tecnológica: ele condena o brasilês a ficar preso a lugares comuns, a repetir idéias comuns, a sempre voltar ao eixo caseiro e banal das percepções, a jamais prover a base pra pensamentos revolucionários, a sempre consumir idéias importadas de línguas q facilitam a criação de idéias q estarão cada vez mais fora do meramente intuitivo.
E então, de todas as coisas hilariantes q poderiam acontecer a esta língua provinda dos confins da Europa – ali, antes de acabar o mundo conhecido – aparecem, como lagostas entediadas emergindo do mar de sargaço a q estão relegados, os reformadores da ortografia.
Exatamente o q o português precisava. 250 milhões de analfabetos instantâneos.
«mas agora eu queria te ver explicando pq a lingua portuguesa nao produz porshes... o que ela tem intrinsicamente de diferente, digamos, do ingles ou do alemao que a impede de fazer isso ou ou aquilo... alias, isso ou aquilo o que?»Levei a pertinente indagation a nosso embasbacante doutor, q me arrespondeu numa conversa de quase 14 horas, ao mesmo tempo chatíssima e interessantíssima. (¡Vai dar exemplo assim lá em Torquemada!) Posso dizer, sem medo de passar ridículo, q não me alembro nem de 10% do q ele disse, embora eu tenha, por assim dizer, “pegado a idéia geral” – essa categoria de pensamento q é o ganha-pão de professor de faculdade.
Tãovamolá.
a tese
A civilização – entendida como o processo complexificante de civilizar – depende da acumulação de instruções e obediência a elas: qto mais complexa e civilizada é uma cultura, tanto mais instruções se descobrirá permeando toda sua estrutura. Uma instrução é qqer declaração q direcione uma ação: leis, decretos, regras, manuais, avisos, comandos, &c.
Uma instrução sempre almeja a explicitude. Pra ser explícita, uma instrução precisa ser seca, direta e clara. Sem instruções assim, é impossível juntar 10 mil pessoas numa organização amparada por uma comunidade de 100 mil, inserida numa cidade de 1 milhão, suprida por um país de 10 milhões, e esperar q aquelas 10 mil construam Porsches.
A tese do doutor é simples. O português e o espanhol, com suas rocoquices e frescuras, são línguas em q a explicitude dá trabalho demais. O brasilês é pior ainda. Já o inglês, o alemão e o japonês são línguas explícitas: secas, diretas, claras. A explicitude das instruções vem duma característica presente mais claramente no japonês: o ideograma. O ideograma é um símbolo imutável: vc bate o olho e já vê o q é, sem referência à gramática circundante. Em inglês e japonês, essa imutabilidade está presente também na língua falada: as palavras têm poucas variantes gramaticais (em inglês, por exemplo, adjetivos, preposições, artigos e advérbios são imutáveis; verbos têm no máximo 5 formas, exceto o be q tem 8; substantivos só mudam em número). Assim, as instruções podem ser dadas como seqüências de ideogramas.
Além disso, essas línguas mantêm a mesma ortografia há séculos, auxiliando a função ideogramática de seus vocábulos.
exemplo inglês
Veja este exemplo, tirado do manual de treinamento de novos funcionários duma firmeca inglesa:
Let trainee read task instructions.Ou seja, com uma série seca de palavras-ideogramas, a instrução diz q o treinador deve deixar o treinando ler as instruções duma tarefa, dar um tempo pra q ele a realize e, qdo este terminar, avisar o supervisor dele (do treinador) q a tarefa foi terminada.
Allow trainee time to complete task.
Report task completion to your supervisor.
Tente escrever essas instruções em português. Pior: tente em brasilês. Vc vai ter q incluir preposições, artigos, concordâncias; vai ter q acochambrar as traduções de 'allow time', 'report' e 'completion', e pra arrematar, vai ter q dar um jeito de esclarecer q é o supervisor do treinador e não o do treinando q deve ser avisado.
Essas coisas ocupam um espaço precioso na cabeça do portuguesante e, pior, um tempo precioso em sua vida.
A seguir, dois exemplos de instruções originalmente idealizadas e redigidas em português. Vc vai querer chiar q esses exemplos todo o mundo vê q foram mal redigidos, &c. Mas nem se incomode. A questão q o doutor quer esclarecer não tem a ver diretamente com a redação.
exemplo brasilês 1
Uma lei promulgada pelo governo do estado de SPaulo determina q o seguinte aviso deve ser afixado em toda porta de elevador no estado.
ANTES DE ENTRAR NO ELEVADOR, VERIFIQUE SE O MESMO ENCONTRA-SE PARADO NESTE ANDAR.Ok. Essa é velha. Largamente criticado e escarnecido. Mas atente pros detalhes.
“ANTES DE ENTRAR NO ELEVADOR ... NESTE ANDAR”
• Ô, Pedro Bó, só é possível entrar no elevador se ele está parado neste andar. Se entro no elevador, ele não pode estar na quarta dimensão dum buraco negro. Só por essa, o aviso já parece saído de alguém de mente confusa.
“...VERIFIQUE SE...”
• Ou seja, não precisa CONFIRMAR QUE ele está no andar. Basta verificar SE ele está ali.
– Ok, já abri a porta e verifiquei. Ele NÃO está. ¿Posso atravessar a porta agora?
“...O MESMO...”
• Questão gramatical amplamente discutida na internet, orkut, &c, onde se tende a sugerir “...verifique se ELE se encontra...”. (Note o seguinte, leitor: grande bosta. Essa é a parte do aviso semanticamente MENOS absurda, e ¿o q acontece? Milhões de portuguesantes reclamam dela pq trata-se duma questão formal. Êitcha.)
“...ENCONTRA-SE PARADO...”
• ¿Como assim, “encontra-se” parado? ¿Pq, se dissesse “está parado”, daria a impressão de “está quebrado”?
– Olha lá aquele cara na esquina. ¿Ele encontra-se parado ao lado do poste?
– Olha lá o sapato no chão. ¿Ele encontra-se jogado embaixo da cama?
– Olha lá meu carro. ¿Ele encontra-se estacionado em frente ao banco?
“...NESTE ANDAR.”
• Não, Pedro Bó, estou neste andar pra pegar o elevador no andar de cima.
Parafraseando a mensagem lógica desse aviso, o q ele de fato DIZ é algo assim:
Antes de entrar no elevador, veja se é possível NÃO entrar. Se for possível entrar, entre. Se NÃO for possível entrar, entre assim mesmo.HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
A barbaridade do aviso existente não quer dizer q a idéia central dele não possa ser facilmente expressa em português. Veja:
CUIDADO! NÃO ATRAVESSE ESTA PORTA SE O ELEVADOR NÃO ESTIVER DO OUTRO LADO.Simples, não?
exemplo brasilês 2
A rocoquice do português confunde o redator. Ele acha q a instrução q redige é tão pedante qto a gramática q quer usar. Observe esta protuberância, excretada por não menos q o Ministério da Saúde (via ANVISA):
AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, O MÉDICO DEVERÁ SER CONSULTADO.uma frase q igualmente poderia ser interpretada como “quando os sintomas persistirem, pois certamente persistirão, é provável q o único médico do mundo seja consultado por alguém.”
QUA QUA QUA QUA QUA QUA
¿Por que não faz assim, ó:
“SE OS SINTOMAS PERSISTIREM, CONSULTE UM MÉDICO.” ?É tão fácil.
prestenção agora
Mas a questão q o Dr Plausível enfatiza é COMPLETAMENTE OUTRA. O problema do português não é q ele tem maus redatores q escrevem coisas ilógicas e pedantes. O problema [¡prestenção!] é q o leitor ENTENDE o q o redator quis dizer. As rocoquices confundem tanto a cabeça do redator qto a do leitor.
Vc pode ter achado q nosso exosférico doutor entrou em contradição, pois ¿como é q diz q o leitor “entende”, se as rocoquices o “confundem”? Veja bem: o leitor entende o q o redator quis dizer, e não outra coisa, apesar de q é a outra coisa q está efetivamente sendo dita.
Pois é. Citando o artigo q começou esta série: “Não pode ter muito a dizer uma língua em q algo de significado contraditório pareça fazer sentido porque, no contexto, só pode ter outro significado.” O significado entendido é sempre aquele q mais costumeiramente se adapta ao contexto. Esse é um problema gravíssimo pra uma cultura numa era tecnológica: ele condena o brasilês a ficar preso a lugares comuns, a repetir idéias comuns, a sempre voltar ao eixo caseiro e banal das percepções, a jamais prover a base pra pensamentos revolucionários, a sempre consumir idéias importadas de línguas q facilitam a criação de idéias q estarão cada vez mais fora do meramente intuitivo.
E então, de todas as coisas hilariantes q poderiam acontecer a esta língua provinda dos confins da Europa – ali, antes de acabar o mundo conhecido – aparecem, como lagostas entediadas emergindo do mar de sargaço a q estão relegados, os reformadores da ortografia.
Exatamente o q o português precisava. 250 milhões de analfabetos instantâneos.
09 setembro 2007
Sobre ler e crer
O Dr Plausível já disse q "manter-se bem-informado é o jeito trabalhoso de ser neurótico". Mas o mais engraçado é jornal alardear a própria credibilidade. ¿É pra acreditar? 'Credibilidade' parece palavra inventada pra não dizer nada.
E fala a verdade, caro leitor. Qdo abre um jornal, ¿vc espera "acreditar" no q lê? tipo qdo vai ver uma comédia esperando gargalhar? ¿Acaso alguém alardeia a 'gargalhabilidade' duma comédia?
Nosso emoldurado doutor não acredita numa palavra do q lê nos jornais. Não é pra "acreditar" q ele abre um jornal; nem é pra se informar. E ele tem sérias dúvidas de q, mesmo q afirmem o contrário, os jornaleitores sujem os dedos em busca de informações críveis. O q eles querem é debater opiniões interminavelmente.
O jornal é um Big Brother da época em q não havia televisão, e os jornaleitores são viciados em xeretar a vida alheia, convencendo-se de q vai fazer alguma diferença pessoal saber ou não saber o q acontece no congresso, no estádio ou na delegacia. Na verdade, os xeretas e sua xeretagem é q fazem diferença na vida dos xeretados, e não o contrário. Se existe algum valor na veracidade dum jornal, é um valor totalmente interesseiro: qto mais verdadeira a informação, tanto menos provável q alguém seja processado por publicá-la. Campanha com o tema "credibilidade" soa como gambito preventivo contra possíveis disputas judiciárias.
Agora, o grau de veracidade das informações não faz a menor diferença pro jornaleitor, q só lê jornal pra achar uma confirmação a favor ou um debate contra suas opinões. A vida dum leitor médio é tão ínfima, q pelo menos ISSO, né?
Já o Dr Plausível só abre jornal por três coisas: quadrinhos brasileiros, cruzadas e sudoku. Tem tempo pra ser "bem-informado" não.
E fala a verdade, caro leitor. Qdo abre um jornal, ¿vc espera "acreditar" no q lê? tipo qdo vai ver uma comédia esperando gargalhar? ¿Acaso alguém alardeia a 'gargalhabilidade' duma comédia?
Nosso emoldurado doutor não acredita numa palavra do q lê nos jornais. Não é pra "acreditar" q ele abre um jornal; nem é pra se informar. E ele tem sérias dúvidas de q, mesmo q afirmem o contrário, os jornaleitores sujem os dedos em busca de informações críveis. O q eles querem é debater opiniões interminavelmente.
O jornal é um Big Brother da época em q não havia televisão, e os jornaleitores são viciados em xeretar a vida alheia, convencendo-se de q vai fazer alguma diferença pessoal saber ou não saber o q acontece no congresso, no estádio ou na delegacia. Na verdade, os xeretas e sua xeretagem é q fazem diferença na vida dos xeretados, e não o contrário. Se existe algum valor na veracidade dum jornal, é um valor totalmente interesseiro: qto mais verdadeira a informação, tanto menos provável q alguém seja processado por publicá-la. Campanha com o tema "credibilidade" soa como gambito preventivo contra possíveis disputas judiciárias.
Agora, o grau de veracidade das informações não faz a menor diferença pro jornaleitor, q só lê jornal pra achar uma confirmação a favor ou um debate contra suas opinões. A vida dum leitor médio é tão ínfima, q pelo menos ISSO, né?
Já o Dr Plausível só abre jornal por três coisas: quadrinhos brasileiros, cruzadas e sudoku. Tem tempo pra ser "bem-informado" não.
03 setembro 2007
Copa e cozinha
O Dr Plausível é um dos jurados da I Copa de Literatura Brasileira, o tipo de coisa prà qual a internet existe.
Nosso emulsificante doutor não costuma se misturar com literatos – por falta de tempo, diga-se. Mas foi impossível resistir ao cachê astronômico e à possibilidade de exercer o direito à crítica num país assolado pelo dever divulgatório.
Nosso emulsificante doutor não costuma se misturar com literatos – por falta de tempo, diga-se. Mas foi impossível resistir ao cachê astronômico e à possibilidade de exercer o direito à crítica num país assolado pelo dever divulgatório.
31 agosto 2007
"uai, ¿ovo não tem pelo?"
Nosso emulsificante doutor viu o debate promovido pelo Estadão sobre a blogosfera. Chama-se "Responsabilidade e Conteúdo Digital."
hahahaha
HAHAHAHAHAHA
HAHAHAHAHAHAHAHA
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Raras vezes ouviu tanta besteira junta.
Debatedor é um tipo de fazendeiro mineiro, não é? No fim do dia, senta na sala com a família e joga conversa fora até a hora da caminha.
(Ah... Tá bem. De vez em quando alguém fala algumas palavras sensatas.)
hahahaha
HAHAHAHAHAHA
HAHAHAHAHAHAHAHA
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Raras vezes ouviu tanta besteira junta.
Debatedor é um tipo de fazendeiro mineiro, não é? No fim do dia, senta na sala com a família e joga conversa fora até a hora da caminha.
(Ah... Tá bem. De vez em quando alguém fala algumas palavras sensatas.)
29 agosto 2007
Houaiss x Oxford
Um caro leitor deste blogue pediu a nosso ecoante doutor q desse uma resposta final e definitiva à pergunta q não quer calar no peito de tantos amantes sopeados da língua portuguesa:
Afinal, ¿o português tem mais palavras q o inglês, ou o inglês tem mais palavras q o português?
Uma empreitada dessas requer uma certa pachorra. O doutor —q tem uma edição eletrônica do Houaiss— se dispôs a contar o número de verbetes total. Não é tão difícil. O Houaiss traz um buscador onde vc pode chamar todos os verbetes q, por exemplo, começam com P e terminam com A (ou seja, p*a). O resultado mostra também o número desses verbetes —q, no caso, são 3.711. Isso não quer dizer q todos esses 3.711 verbetes sejam palavras. Temos, por exemplo:
PA: sigla do estado do Pará
Pa: símbolo de protactínio
Também há verbetes q começam ou terminam com hífen (os sufixos, prefixos e elementos de composição), além de verbetes q terminam em ponto final (as siglas como F.O.B. e abreviaturas como loc. cit.).
Pois então. Fazendo a soma de todos os verbetes q começam com A, Á, Â, B, C ... .Z e terminam com A, Á, Ã, B, C ... Z, mais todos os prefixos &c, mais todas as siglas &c, o número total de verbetes do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é...
186.252
Hm. Tirando os prefixos &c, as siglas, os símbolos e as abreviaturas, o número total de palavras ou locuções é
175.705
Hm.
O prefácio do Houaiss fala em 228.500 "unidades léxicas". A discrepância talvez se explique pelo fato de q uma mesma palavra pode ter mais de um significado. Se for esse o caso, o prefácio deveria ter falado em "unidades semânticas" e não "léxicas". Houaiss indeed.
O prefácio tbm indica q no Houaiss também tão incluídas muitas palavras usadas exclusivamente em Portugal, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e Moçambique – por exemplo, as portuguesíssimas palavras djila, macuaiela, lunyaneka, e ocaviiúla.
Hm.
Mas como a pergunta q não quer calar é sobre o número de palavras e não de unidades semânticas, fiquemos com 175 mil.
Dessas, muitas são apenas variantes. Por exemplo, dentre os verbetes "p*a" temos, por exemplo:
pacata = pacatez
pachocha = pachoucho
páfia = empáfia
pagadoiro = pagadouro &c &c &c
Mas já q o Houaiss deve tbm ter "se esquecido" de muitas palavras (tipo 'bicicletaria', q não consta), digamos q o número total de palavras da língua portuguesa teja por volta de 175 mil mesmo.
Hm. Resta mais um "hm".
Agora vamos ao inglês.
O Oxford é um dicionário bastante conservador. Sua edição atual tem 20 volumes.
http://en.wikipedia.org/wiki/Oxford_English_Dictionary
http://www.oed.com/public/about
A maior parte do espaço desses 20 volumes é constituída de exemplos. O Oxford pega um pouco pesado nos exemplos (todos tirados de fontes externas), e esse é um dos motivos por quê digo q ele é conservador. Mas digamos q, tirando todos os exemplos, sobrem 5 volumes.
Hm.
A edição de 1989 define e/ou ilustra 615.100 palavras e locuções. Agora observe um fato revelador. O Oxford tem um conceito q eles chamam de "main entry" (verbete principal). Essas 615 mil palavras aparecem dentro de 301 mil main entries, assim como as 228 mil "unidades léxicas" do Houiass aparecem em suas 175 mil palavras.
Só que...
O Houaiss é feito nos moldes dos dicionários brasileiros: talvez pra inflar o tamanho (e certamente fazendo pouco caso da inteligência do usuário), cada palavra tem um verbete independente, inclusive todas as derivadas (exceto advérbios formados com -mente). Por exemplo, cada uma das palavras abaixo tem um verbete independente no Houaiss:
destrucionismo, destrucionista, destruição, destruído, destruidor, destruir, destruível, destrutibilidade, destrutível, destrutividade, destrutivismo, destrutivista, destrutivo, destrutor
Já o Oxford, utiliza a inteligência do usuário e coloca muitas dessas palavras dentro do mesmo main entry, como derivadas.
Outro exemplo. No Houaiss, temos estes 18 verbetes independentes:
fenil, fenila, fenilalanina, fenilalanínico, fenilamina, fenilanina, fenilbutazona, fenilcetonuria, fenilcetonúria, fenilcetonúrico, fenilefrina, fenilênico, fenileno, fenilenodiamina, fenilidrazina, fenil(o)-, fenilo, fenilpirúvico
HAHAHAHAHAHAHA
Já no Oxford, temos o verbete único phenyl, no qual tão incluídas as correspondentes inglesas de todas as palavras acima, mais uma caralhada de outras do mesmo grupo químico. Veja vc mesmo:
http://fds.oup.com/www.oup.co.uk/pdf/0-19-861186-2.pdf
Então é MUITO diferente o Houaiss ter 175 mil palavras e o Oxford ter 301 mil main entries, não é? O q o Houaiss faz é um tipo de ilusionismo.
Caso reste alguma dúvida sobre qual das duas línguas tem mais palavras, dê uma olhada nisto:
http://www.urbandictionary.com/
um dicionário colaborativo q, claro, não tem critérios tão rigorosos como os do Oxford. Muitos verbetes são gírias localíssimas, e muitos são apenas trocadilhos. Mas se algum ufanéscio, depois de dar uma olhada no Urban Dictionary, ainda falar da "riqueza" da língua portuguesa, vc pode levá-lo amarrado à filial mais próxima da Clínica Dr Plausível.
O português tem inúmeras qualidades. O número de palavras não é uma delas.
________________
Adendo:
No Brasil (mais: em toda a América Ibérica) todos reclamam do atraso, da ignorância, dos erros administrativos, da corrupção, da pobreza, da lentidão nos processos, da incompetência na execução, do desprimor nos resultados. Todo reclamante tá basicamente invocado com um enigma: "Entende-se o atraso na África, no Paquistão, até na China. Mas ¿por quê nós —logo nós, descendentes diretos da Europa— estamos assim?"
Todas aquelas moléstias têm múltiplas causas. Mas pro Dr Plausível, uma causa é comum a todas elas —a ferramenta-mor da sociedade: a língua.
Dizem —com razão— q o mau artesão reclama das ferramentas q tem; mas não dá pra construir um Porsche com as ferramentas e os processos q se usa pra construir um Corsa.
A América Latina é uma fábrica de Corsas q recebeu o encargo de produzir Porsches; claro, as máquinas não tão produzindo com a qualidade necessária. Numa fábrica, qdo uma máquina não funciona com precisão, pode ser pq não tá bem calibrada. Quem determina isso é o inspetor de qualidade. Chama-se então o ferramenteiro pra calibrar a máquina. Este usa instrumentos de medição, q tbm devem tar calibrados. Quem determina se eles tão calibrados é o metrologista.
Nosso excomungável doutor só (!) tá dizendo q o metrologista, o ferramenteiro, o inspetor de qualidade e o operador da máquina latino-americana atribuem a baixíssima qualidade de seus Porsches ao salário, às condições de trabalho, à incompetência da chefia, às dificuldades do projeto &c, qdo na verdade o problema é a máquina em si. Seria preciso trocar de máquina, assim como o Brasil precisaria trocar de língua —pois a língua portuguesa, left to its own devices e do jeito q é proposta pelo gramático-metrologista, jamais vai produzir o Porsche da sociedade justa, culta, complexa, competente, asseada e otimista q seus falantes almejam.
Ou então optar pelo caminho mais honrado porém mais difícil de mandar o projeto-Porsche às favas de onde veio e procurar descobrir pra quê serve afinal a língua portuguesa, qual universo cultural ela pode engendrar, qual organização social, ideológica e pragmática ela tá univocamente posicionada pra criar, desenvolver e exportar.
E contra isso tudo está a poderosa, estúpida e aviltante pressão ideológica e política exercida pelos gramáticos e lexicógrafos da NoCu.
¿A esperança do Dr Plausível? Zero.
Afinal, ¿o português tem mais palavras q o inglês, ou o inglês tem mais palavras q o português?
Uma empreitada dessas requer uma certa pachorra. O doutor —q tem uma edição eletrônica do Houaiss— se dispôs a contar o número de verbetes total. Não é tão difícil. O Houaiss traz um buscador onde vc pode chamar todos os verbetes q, por exemplo, começam com P e terminam com A (ou seja, p*a). O resultado mostra também o número desses verbetes —q, no caso, são 3.711. Isso não quer dizer q todos esses 3.711 verbetes sejam palavras. Temos, por exemplo:
PA: sigla do estado do Pará
Pa: símbolo de protactínio
Também há verbetes q começam ou terminam com hífen (os sufixos, prefixos e elementos de composição), além de verbetes q terminam em ponto final (as siglas como F.O.B. e abreviaturas como loc. cit.).
Pois então. Fazendo a soma de todos os verbetes q começam com A, Á, Â, B, C ... .Z e terminam com A, Á, Ã, B, C ... Z, mais todos os prefixos &c, mais todas as siglas &c, o número total de verbetes do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é...
186.252
Hm. Tirando os prefixos &c, as siglas, os símbolos e as abreviaturas, o número total de palavras ou locuções é
175.705
Hm.
O prefácio do Houaiss fala em 228.500 "unidades léxicas". A discrepância talvez se explique pelo fato de q uma mesma palavra pode ter mais de um significado. Se for esse o caso, o prefácio deveria ter falado em "unidades semânticas" e não "léxicas". Houaiss indeed.
O prefácio tbm indica q no Houaiss também tão incluídas muitas palavras usadas exclusivamente em Portugal, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola e Moçambique – por exemplo, as portuguesíssimas palavras djila, macuaiela, lunyaneka, e ocaviiúla.
Hm.
Mas como a pergunta q não quer calar é sobre o número de palavras e não de unidades semânticas, fiquemos com 175 mil.
Dessas, muitas são apenas variantes. Por exemplo, dentre os verbetes "p*a" temos, por exemplo:
pacata = pacatez
pachocha = pachoucho
páfia = empáfia
pagadoiro = pagadouro &c &c &c
Mas já q o Houaiss deve tbm ter "se esquecido" de muitas palavras (tipo 'bicicletaria', q não consta), digamos q o número total de palavras da língua portuguesa teja por volta de 175 mil mesmo.
Hm. Resta mais um "hm".
Agora vamos ao inglês.
O Oxford é um dicionário bastante conservador. Sua edição atual tem 20 volumes.
http://en.wikipedia.org/wiki/Oxford_English_Dictionary
http://www.oed.com/public/about
A maior parte do espaço desses 20 volumes é constituída de exemplos. O Oxford pega um pouco pesado nos exemplos (todos tirados de fontes externas), e esse é um dos motivos por quê digo q ele é conservador. Mas digamos q, tirando todos os exemplos, sobrem 5 volumes.
Hm.
A edição de 1989 define e/ou ilustra 615.100 palavras e locuções. Agora observe um fato revelador. O Oxford tem um conceito q eles chamam de "main entry" (verbete principal). Essas 615 mil palavras aparecem dentro de 301 mil main entries, assim como as 228 mil "unidades léxicas" do Houiass aparecem em suas 175 mil palavras.
Só que...
O Houaiss é feito nos moldes dos dicionários brasileiros: talvez pra inflar o tamanho (e certamente fazendo pouco caso da inteligência do usuário), cada palavra tem um verbete independente, inclusive todas as derivadas (exceto advérbios formados com -mente). Por exemplo, cada uma das palavras abaixo tem um verbete independente no Houaiss:
destrucionismo, destrucionista, destruição, destruído, destruidor, destruir, destruível, destrutibilidade, destrutível, destrutividade, destrutivismo, destrutivista, destrutivo, destrutor
Já o Oxford, utiliza a inteligência do usuário e coloca muitas dessas palavras dentro do mesmo main entry, como derivadas.
Outro exemplo. No Houaiss, temos estes 18 verbetes independentes:
fenil, fenila, fenilalanina, fenilalanínico, fenilamina, fenilanina, fenilbutazona, fenilcetonuria, fenilcetonúria, fenilcetonúrico, fenilefrina, fenilênico, fenileno, fenilenodiamina, fenilidrazina, fenil(o)-, fenilo, fenilpirúvico
HAHAHAHAHAHAHA
Já no Oxford, temos o verbete único phenyl, no qual tão incluídas as correspondentes inglesas de todas as palavras acima, mais uma caralhada de outras do mesmo grupo químico. Veja vc mesmo:
http://fds.oup.com/www.oup.co.uk/pdf/0-19-861186-2.pdf
Então é MUITO diferente o Houaiss ter 175 mil palavras e o Oxford ter 301 mil main entries, não é? O q o Houaiss faz é um tipo de ilusionismo.
Caso reste alguma dúvida sobre qual das duas línguas tem mais palavras, dê uma olhada nisto:
http://www.urbandictionary.com/
um dicionário colaborativo q, claro, não tem critérios tão rigorosos como os do Oxford. Muitos verbetes são gírias localíssimas, e muitos são apenas trocadilhos. Mas se algum ufanéscio, depois de dar uma olhada no Urban Dictionary, ainda falar da "riqueza" da língua portuguesa, vc pode levá-lo amarrado à filial mais próxima da Clínica Dr Plausível.
O português tem inúmeras qualidades. O número de palavras não é uma delas.
________________
Adendo:
No Brasil (mais: em toda a América Ibérica) todos reclamam do atraso, da ignorância, dos erros administrativos, da corrupção, da pobreza, da lentidão nos processos, da incompetência na execução, do desprimor nos resultados. Todo reclamante tá basicamente invocado com um enigma: "Entende-se o atraso na África, no Paquistão, até na China. Mas ¿por quê nós —logo nós, descendentes diretos da Europa— estamos assim?"
Todas aquelas moléstias têm múltiplas causas. Mas pro Dr Plausível, uma causa é comum a todas elas —a ferramenta-mor da sociedade: a língua.
Dizem —com razão— q o mau artesão reclama das ferramentas q tem; mas não dá pra construir um Porsche com as ferramentas e os processos q se usa pra construir um Corsa.
A América Latina é uma fábrica de Corsas q recebeu o encargo de produzir Porsches; claro, as máquinas não tão produzindo com a qualidade necessária. Numa fábrica, qdo uma máquina não funciona com precisão, pode ser pq não tá bem calibrada. Quem determina isso é o inspetor de qualidade. Chama-se então o ferramenteiro pra calibrar a máquina. Este usa instrumentos de medição, q tbm devem tar calibrados. Quem determina se eles tão calibrados é o metrologista.
Nosso excomungável doutor só (!) tá dizendo q o metrologista, o ferramenteiro, o inspetor de qualidade e o operador da máquina latino-americana atribuem a baixíssima qualidade de seus Porsches ao salário, às condições de trabalho, à incompetência da chefia, às dificuldades do projeto &c, qdo na verdade o problema é a máquina em si. Seria preciso trocar de máquina, assim como o Brasil precisaria trocar de língua —pois a língua portuguesa, left to its own devices e do jeito q é proposta pelo gramático-metrologista, jamais vai produzir o Porsche da sociedade justa, culta, complexa, competente, asseada e otimista q seus falantes almejam.
Ou então optar pelo caminho mais honrado porém mais difícil de mandar o projeto-Porsche às favas de onde veio e procurar descobrir pra quê serve afinal a língua portuguesa, qual universo cultural ela pode engendrar, qual organização social, ideológica e pragmática ela tá univocamente posicionada pra criar, desenvolver e exportar.
E contra isso tudo está a poderosa, estúpida e aviltante pressão ideológica e política exercida pelos gramáticos e lexicógrafos da NoCu.
¿A esperança do Dr Plausível? Zero.
24 agosto 2007
Engulho de ser brasileiro
That which we call a rose
By any other name would smell as sweet.
W Shakespeare
Uma ironia de ser latino-americano é q, por mais desenvolvidas q venham à se tornar estas plagas num futuro hipotético, parece q o amor-próprio, a valorização da cultura e da personalidade latino-americanas jamais se associarão ä tecnologia e à uma visão progressista. Que pena. Latino-americano sempre se sentirá consumidor ao invés de produtor de tecnologia.
¿Tá fazendo cara feia, leitor?
Pois então, olha aqui algumas das mais conceituadas marcas do mundo:
Bic, Boeing, Chevrolet, Citroën, Colgate, Ericsson, Ferrari, Firestone, Ford, Gerdau, Hewlett-Packard, Honda, Honeywell, Johnson's, Lamborghini, Lockheed, Mercedes-Benz, Olivetti, Opel, Peugeot, Philips, Pirelli, Porsche, Renault, Rolls-Royce, Siemens, Suzuki, Yamaha*
¿Notou uma coisa? São todos sobrenomes de seus fundadores.
Muito brasileiro, muito latino-americano, se diz orgulhoso de seu país ou amante de sua terra e sua língua. É natural. Mas ¿será plausível? A próxima vez q vc ouvir alguém dizer algo assim, deixa passar uns dois dias, aí leva o indivíduo prum cantinho calmo e pergunta:
¿Vc compraria um carro Gonçalves?
Apresentamos o novo Gonçalves Crioulo 300L, com injeção eletrônica.
¿Viajaria num avião Coutinho?
Conforto e segurança. Tecnologia e beleza. Coutinho 737.
¿Teria um televisor López?
Televisor López tela plana. Sua melhor imagem.
¿Usaria o creme dental Freitas?
Hálito puro, sorriso Freitas.
Ao ouvir essas sugestões na pesquisa feita pelo Instituto de Plausibilática, 97% dos respondentes deram risada, sugeriram outros produtos e eslôgãs ("Almeida, a marca do homem." "Venha para o mundo de Ipatinga." &c), e nem notaram o desserviço q prestaram ao próprio orgulho.
Seria de se perguntar se um Moreira, um Rodrigues ou um Sampaio alguma vez visualizou, com orgulho e total seriedade, um carro, um avião ou um televisor com seu nome. E caso não (o q é mais provável), ¿por quê não? ¿Por quê é q tecnologia com nome português ou espanhol parece piada?
Outra ironia é q um sobrenome é o nome duma família, e portanto duma linha genética. Toda vez q um Silva ou um Sánchez compra um creme dental Colgate pra fazer bonito com uma Costa ou uma Ramirez e com ela gerar filhinhos, ele tá automaticamente promovendo ao mesmo tempo o nome duma linha genética totalmente outra. Cada dente branco dele é uma chance à mais prum cromossomo Colgate.
Quando vem aqui um grupo de executivos, digamos, alemães da ThyssenKrupp (dois sobrenomes) pra checar si os nativos tão fazendo tudo direitinho [e vira aquela polvorosa na empresa: secretárias, engenheiros e executivos brasileiros suam frio pra falar alemão e, nas reuniões, fazem papel de colegial recitando tabuada na frente da classe], os visitantes –mesmo q não se chamem Thyssen ou Krupp– tão o tempo todo conscientes de q tão promovendo e defendendo os interesses duma firma alemã, ou seja, dum sobrenome alemão, ou seja, duma linha genética alemã com a qual compartilham ou os olhos azuis ou a pele branca ou o cabelo amarelo ou somente a língua.
E à vc, leitor amigo –q se lembra, por exemplo, dos Souza Cruz e dos Camargo Corrêa, &c e q, apesar de entender lá no íntimo a piada com o Gonçalves quatro-portas e o fio dental Freitas, atribue a graça ä sonoridade, ä estranheza, &c–, lembro q é bem diferente a reação de, digamos, um zeuaense ä idéia dum DVD de marca Smith e a dum brasileiro ä de um de marca Simões. O zeuaense ri da incompatibilidade mercadológica. O brasileiro ri da improbabilidade tecnológica.
¿Por quê?
______________________
*Como já vieram me dizer via email q nem todos aqueles nomes de empresas são sobrenomes, aqui vai a lista dos fundadores, separados por país e data de fundação das empresas:
Alemanha: 1811 Friedrich Krupp, 1847 Werner von Siemens, 1860 Friedrich Thyssen, 1863 Adam Opel, 1871 Karl Benz, 1931 Ferdinand Porsche; Brasil: 1901 Johann Kasper Gerdau; Euá: 1806 William Colgate, 1886 Robert & James Johnson, 1900 Harvey Firestone, 1903 Henry Ford, 1906 Mark Honeywell, 1911 Louis Chevrolet, 1912 Alan & Malcolm Loughead (Lockheed), 1916 William Boeing, 1939 William Hewlett & David Packard; França: 1882 Armand Peugeot, 1899 Louis & Marcel Renault, 1919 André Citroën, 1945 Marcel Bich (Bic); Holanda: 1891 Gerard Philips; Inglaterra: 1906 Charles Rolls & Frederick Royce; Itália: 1872 Giovanni Pirelli, 1908 Camillo Olivetti, 1929 Enzo Ferrari, 1963 Ferruccio Lamborghini; Japão: 1897 Torakusu Yamaha, 1909 Michio Suzuki, 1948 Sichiro Honda; Suécia: 1875 Lars Ericsson.
By any other name would smell as sweet.
W Shakespeare
Uma ironia de ser latino-americano é q, por mais desenvolvidas q venham à se tornar estas plagas num futuro hipotético, parece q o amor-próprio, a valorização da cultura e da personalidade latino-americanas jamais se associarão ä tecnologia e à uma visão progressista. Que pena. Latino-americano sempre se sentirá consumidor ao invés de produtor de tecnologia.
¿Tá fazendo cara feia, leitor?
Pois então, olha aqui algumas das mais conceituadas marcas do mundo:
Bic, Boeing, Chevrolet, Citroën, Colgate, Ericsson, Ferrari, Firestone, Ford, Gerdau, Hewlett-Packard, Honda, Honeywell, Johnson's, Lamborghini, Lockheed, Mercedes-Benz, Olivetti, Opel, Peugeot, Philips, Pirelli, Porsche, Renault, Rolls-Royce, Siemens, Suzuki, Yamaha*
¿Notou uma coisa? São todos sobrenomes de seus fundadores.
Muito brasileiro, muito latino-americano, se diz orgulhoso de seu país ou amante de sua terra e sua língua. É natural. Mas ¿será plausível? A próxima vez q vc ouvir alguém dizer algo assim, deixa passar uns dois dias, aí leva o indivíduo prum cantinho calmo e pergunta:
¿Vc compraria um carro Gonçalves?
Apresentamos o novo Gonçalves Crioulo 300L, com injeção eletrônica.
¿Viajaria num avião Coutinho?
Conforto e segurança. Tecnologia e beleza. Coutinho 737.
¿Teria um televisor López?
Televisor López tela plana. Sua melhor imagem.
¿Usaria o creme dental Freitas?
Hálito puro, sorriso Freitas.
Ao ouvir essas sugestões na pesquisa feita pelo Instituto de Plausibilática, 97% dos respondentes deram risada, sugeriram outros produtos e eslôgãs ("Almeida, a marca do homem." "Venha para o mundo de Ipatinga." &c), e nem notaram o desserviço q prestaram ao próprio orgulho.
Seria de se perguntar se um Moreira, um Rodrigues ou um Sampaio alguma vez visualizou, com orgulho e total seriedade, um carro, um avião ou um televisor com seu nome. E caso não (o q é mais provável), ¿por quê não? ¿Por quê é q tecnologia com nome português ou espanhol parece piada?
Outra ironia é q um sobrenome é o nome duma família, e portanto duma linha genética. Toda vez q um Silva ou um Sánchez compra um creme dental Colgate pra fazer bonito com uma Costa ou uma Ramirez e com ela gerar filhinhos, ele tá automaticamente promovendo ao mesmo tempo o nome duma linha genética totalmente outra. Cada dente branco dele é uma chance à mais prum cromossomo Colgate.
Quando vem aqui um grupo de executivos, digamos, alemães da ThyssenKrupp (dois sobrenomes) pra checar si os nativos tão fazendo tudo direitinho [e vira aquela polvorosa na empresa: secretárias, engenheiros e executivos brasileiros suam frio pra falar alemão e, nas reuniões, fazem papel de colegial recitando tabuada na frente da classe], os visitantes –mesmo q não se chamem Thyssen ou Krupp– tão o tempo todo conscientes de q tão promovendo e defendendo os interesses duma firma alemã, ou seja, dum sobrenome alemão, ou seja, duma linha genética alemã com a qual compartilham ou os olhos azuis ou a pele branca ou o cabelo amarelo ou somente a língua.
E à vc, leitor amigo –q se lembra, por exemplo, dos Souza Cruz e dos Camargo Corrêa, &c e q, apesar de entender lá no íntimo a piada com o Gonçalves quatro-portas e o fio dental Freitas, atribue a graça ä sonoridade, ä estranheza, &c–, lembro q é bem diferente a reação de, digamos, um zeuaense ä idéia dum DVD de marca Smith e a dum brasileiro ä de um de marca Simões. O zeuaense ri da incompatibilidade mercadológica. O brasileiro ri da improbabilidade tecnológica.
¿Por quê?
______________________
*Como já vieram me dizer via email q nem todos aqueles nomes de empresas são sobrenomes, aqui vai a lista dos fundadores, separados por país e data de fundação das empresas:
Alemanha: 1811 Friedrich Krupp, 1847 Werner von Siemens, 1860 Friedrich Thyssen, 1863 Adam Opel, 1871 Karl Benz, 1931 Ferdinand Porsche; Brasil: 1901 Johann Kasper Gerdau; Euá: 1806 William Colgate, 1886 Robert & James Johnson, 1900 Harvey Firestone, 1903 Henry Ford, 1906 Mark Honeywell, 1911 Louis Chevrolet, 1912 Alan & Malcolm Loughead (Lockheed), 1916 William Boeing, 1939 William Hewlett & David Packard; França: 1882 Armand Peugeot, 1899 Louis & Marcel Renault, 1919 André Citroën, 1945 Marcel Bich (Bic); Holanda: 1891 Gerard Philips; Inglaterra: 1906 Charles Rolls & Frederick Royce; Itália: 1872 Giovanni Pirelli, 1908 Camillo Olivetti, 1929 Enzo Ferrari, 1963 Ferruccio Lamborghini; Japão: 1897 Torakusu Yamaha, 1909 Michio Suzuki, 1948 Sichiro Honda; Suécia: 1875 Lars Ericsson.
22 agosto 2007
O estado do direito
Antes de pensar em se propor a ter a intenção de falar alguma besteira pré-imputante contendo palavras tais como 'mensalão' ou 'petista', leia isto.
(E antes q alguém já saia correndo denunciar nosso equipado doutor à Liga das Senhoras Cansadas, lembro q [1] o linque fala apenas do processo penal: nada a ver especificamente com mensalão ou não mensalão; [2] o Brasil é um país vastíssimo com uma capital artificialmente instalada no meio do nada; [3] o Dr Plausível é totalmente apartidário: absolutamente todos os políticos deveriam estar na cadeia, junto com quase toda a população; [4] a justiça não é cega: só está vendada; [5] ainda bem q pelo menos está vendada: se não, não haveria hipocrisia.)
(E antes q alguém já saia correndo denunciar nosso equipado doutor à Liga das Senhoras Cansadas, lembro q [1] o linque fala apenas do processo penal: nada a ver especificamente com mensalão ou não mensalão; [2] o Brasil é um país vastíssimo com uma capital artificialmente instalada no meio do nada; [3] o Dr Plausível é totalmente apartidário: absolutamente todos os políticos deveriam estar na cadeia, junto com quase toda a população; [4] a justiça não é cega: só está vendada; [5] ainda bem q pelo menos está vendada: se não, não haveria hipocrisia.)
20 agosto 2007
a rephórma hortográphica
¡Não tou falando, catso? Além de haver gente q não pensa, tem gente-q-não-pensa ditando decretos.
E ¿não é q um bando de desocupados mentais resolveu porque resolveu q o português precisa de mais uma reforma ortográfica?
¿Vai acabar nunca, essa ladainha? HAHAHAHAHAHAHAHA
¡Ô miasarma!
Três anos atrás, nosso euforizante doutor já havia denunciado a pantafaçuda imbecilidade nessa mais-uma iniciativa de decretar quais letras e acentos o povãozão do Brasilzão DEVE usar. Ninguém deu ouvidos ao doutor (claro, ¿já viu funcionário público dar ouvidos?) e agora sai um decreto criando novas confusões, adicionando problemas e... lóóóógico... enchendo a bola do nicho dos incompetentes dicionários brasileiros, cujo principal diferencial não é a clareza nem a iluminância nem a pesquisa nem a abrangência nem o bom-senso (tirando poucos, como o da UNESP, do Francisco da Silva Borba), mas as palavrinhas soletradinhas de acordo com a última reforma ortográfica.
Sem falar na bizarrice das reformas. ¿Por que combas não se pode grafar 'óptimo' em Portugal e 'ótimo' no Brasil? ¿Causa alguma confusão entre essas culturas TÃO distintas, Dona Nhoca? ¿Será porque ninguém mais pronuncia o P de 'óptimo'? Se é assim, então ¿por q cargas d'água esses decretistas impunes não tiraram também "estorvos" comuns:
• o L de palavras como 'culpa' (todo mundo pronuncia 'cuupa')
• o E de palavras como 'desculpa' (todo mundo pronuncia 'tscupa') e de todas as palavras q comecem com o prefixo 'des'
• o I átono de palavras como 'lástima' (todo mundo pronuncia 'lastma')
e dezenas de outros?
¿Por q catralhos esse pessoal não deixa o povão escrever em sua própria língua o q bem entender do jeito q bem entender e assim estimular a inteligência do discurso e a percepção dos significados em vez de emburrecer ainda mais e limitar ainda mais a concentração do portuguesante naquilo q está escrevendo, e forçá-lo a prestar ainda mais atenção em como está escrevendo? Depois reclamam q brasileiro não sabe escrever. Claro q não, Pedro Bó. O brasileiro é alfabetizado numa ortografia aos 7 anos e depois aos 8 tem q aprender outra. Desse jeito, os professores q não sabem mais onde pôr acento vão achar mais fácil ganhar a vida pondo o assento em outro lugar... (haja visto, né, q 37%...)
HAHAHAHAHAHAHAHAHA
¡Ôô miasarma!
Alguém tem q deter esses decretistas, meu santo. Alguém tem q dar um BASTA. Já deu flor. O Dr Plausível gostaria imensamente q ao menos UM dos grandes jornais olhasse essas reformas de soslaio e simplesmente dissesse "NÃO! CHEGA. VAMOS DEIXAR COMO ESTÁ." ¿Q aconteceira? ¿O governo chiaria? ¿Mandariam a rádio-patrulha investigar? o exército invadir? o executivo cassar o alvará? ¿Q jerdas podem fazer esses decretistas de picuinhas contra quem simplesmente se recusa? NADA. ¿Então por q é q todos os bichinhos aceitam as coleirinhas, meudeusdocéu?
¡Ôôô miasarma!
¡Ôôôôô miasarma!
E ¿não é q um bando de desocupados mentais resolveu porque resolveu q o português precisa de mais uma reforma ortográfica?
¿Vai acabar nunca, essa ladainha? HAHAHAHAHAHAHAHA
¡Ô miasarma!
Três anos atrás, nosso euforizante doutor já havia denunciado a pantafaçuda imbecilidade nessa mais-uma iniciativa de decretar quais letras e acentos o povãozão do Brasilzão DEVE usar. Ninguém deu ouvidos ao doutor (claro, ¿já viu funcionário público dar ouvidos?) e agora sai um decreto criando novas confusões, adicionando problemas e... lóóóógico... enchendo a bola do nicho dos incompetentes dicionários brasileiros, cujo principal diferencial não é a clareza nem a iluminância nem a pesquisa nem a abrangência nem o bom-senso (tirando poucos, como o da UNESP, do Francisco da Silva Borba), mas as palavrinhas soletradinhas de acordo com a última reforma ortográfica.
Sem falar na bizarrice das reformas. ¿Por que combas não se pode grafar 'óptimo' em Portugal e 'ótimo' no Brasil? ¿Causa alguma confusão entre essas culturas TÃO distintas, Dona Nhoca? ¿Será porque ninguém mais pronuncia o P de 'óptimo'? Se é assim, então ¿por q cargas d'água esses decretistas impunes não tiraram também "estorvos" comuns:
• o L de palavras como 'culpa' (todo mundo pronuncia 'cuupa')
• o E de palavras como 'desculpa' (todo mundo pronuncia 'tscupa') e de todas as palavras q comecem com o prefixo 'des'
• o I átono de palavras como 'lástima' (todo mundo pronuncia 'lastma')
e dezenas de outros?
¿Por q catralhos esse pessoal não deixa o povão escrever em sua própria língua o q bem entender do jeito q bem entender e assim estimular a inteligência do discurso e a percepção dos significados em vez de emburrecer ainda mais e limitar ainda mais a concentração do portuguesante naquilo q está escrevendo, e forçá-lo a prestar ainda mais atenção em como está escrevendo? Depois reclamam q brasileiro não sabe escrever. Claro q não, Pedro Bó. O brasileiro é alfabetizado numa ortografia aos 7 anos e depois aos 8 tem q aprender outra. Desse jeito, os professores q não sabem mais onde pôr acento vão achar mais fácil ganhar a vida pondo o assento em outro lugar... (haja visto, né, q 37%...)
HAHAHAHAHAHAHAHAHA
¡Ôô miasarma!
Alguém tem q deter esses decretistas, meu santo. Alguém tem q dar um BASTA. Já deu flor. O Dr Plausível gostaria imensamente q ao menos UM dos grandes jornais olhasse essas reformas de soslaio e simplesmente dissesse "NÃO! CHEGA. VAMOS DEIXAR COMO ESTÁ." ¿Q aconteceira? ¿O governo chiaria? ¿Mandariam a rádio-patrulha investigar? o exército invadir? o executivo cassar o alvará? ¿Q jerdas podem fazer esses decretistas de picuinhas contra quem simplesmente se recusa? NADA. ¿Então por q é q todos os bichinhos aceitam as coleirinhas, meudeusdocéu?
¡Ôôô miasarma!
¡Ôôôôô miasarma!
19 agosto 2007
Chutebol, o esporte das multidões
¡Tou falando q tem gente q não pensa!
¿Viram esse bafafá sobre alguém q disse q futebol não é jogo pra gay?
Pois então. Uma revista paulista publicou hoje o resultado duma enquete perguntando quais profissões "podem" ser seguidas por homossexuais. Aqui as porcentagens de quem disse "sim" (atente aos negritos):
padre católico: 45%
pastor evangélico: 47%
militar: 69%
presidente da república:69%
juiz ou promotor: 72%
governador: 73%
prefeito: 73%
ministro: 72%
senador ou deputado federal: 77%
futebolista profissional: 79%
professor: 82%
Supõe-se, disso, q 37% dos respondentes (ie, 82 menos 45) acham q gay "pode" ser professor mas "não pode" ser padre. Ou seja, 37% têm uma opinião marcada por um moralismo baseado na religião: se Deus desaprova a gayzice, então gay não pode ser padre.
Mas... mas... ¿¡¿UÉÉÉ?!? Ser padre ¿não exige justamente q se renuncie dos impulsos da carne? E se Deus desaprova a gayzice, ser padre ¿não seria justamente a melhor opção pra quem tem impulsos carnais gayzais?
HAHAHAHAHA
E se o motivo é q "todos sabem" q não existe padre totalmente casto, q todo padre suja a hóstia de vez em qdo, então pra isso ¿é preferível ter padres héteros?
HAHAHAHAHAHAHA
E se o motivo pra "desaprovar" o homopadre é q ele pode se valer de sua posição pra corromper a molecada, então ¿é preferível q o gay seja ¡¿professor?!?
HAHAHAHAHAHAHA
E ¿não é ironiquérrimo q esses 37% parecem justamente ter prestado mais atenção às aulas de catecismo na igreja q às aulas de lógica na escola?
Nhééé...
Ôô, 37%, usa a cachola aê, vai, quebressegalho.
¿Viram esse bafafá sobre alguém q disse q futebol não é jogo pra gay?
Pois então. Uma revista paulista publicou hoje o resultado duma enquete perguntando quais profissões "podem" ser seguidas por homossexuais. Aqui as porcentagens de quem disse "sim" (atente aos negritos):
padre católico: 45%
pastor evangélico: 47%
militar: 69%
presidente da república:69%
juiz ou promotor: 72%
governador: 73%
prefeito: 73%
ministro: 72%
senador ou deputado federal: 77%
futebolista profissional: 79%
professor: 82%
Supõe-se, disso, q 37% dos respondentes (ie, 82 menos 45) acham q gay "pode" ser professor mas "não pode" ser padre. Ou seja, 37% têm uma opinião marcada por um moralismo baseado na religião: se Deus desaprova a gayzice, então gay não pode ser padre.
Mas... mas... ¿¡¿UÉÉÉ?!? Ser padre ¿não exige justamente q se renuncie dos impulsos da carne? E se Deus desaprova a gayzice, ser padre ¿não seria justamente a melhor opção pra quem tem impulsos carnais gayzais?
HAHAHAHAHA
E se o motivo é q "todos sabem" q não existe padre totalmente casto, q todo padre suja a hóstia de vez em qdo, então pra isso ¿é preferível ter padres héteros?
HAHAHAHAHAHAHA
E se o motivo pra "desaprovar" o homopadre é q ele pode se valer de sua posição pra corromper a molecada, então ¿é preferível q o gay seja ¡¿professor?!?
HAHAHAHAHAHAHA
E ¿não é ironiquérrimo q esses 37% parecem justamente ter prestado mais atenção às aulas de catecismo na igreja q às aulas de lógica na escola?
Nhééé...
Ôô, 37%, usa a cachola aê, vai, quebressegalho.
18 agosto 2007
05 agosto 2007
to beng or not to beng, zhat is zhe questiong
Nosso expedito doutor, concordando com um insigne leitor deste blogue, gargalha aos borbotões qdo alguém "prevê" q num futuro não muito distante, o chinês vai tomar o lugar do inglês, q tomou do francês, q tomou do latim, o papel de lingua franca internacional. ¿Sabe QUANDO isso vai acontecer? Nunca.
A moda de prever o declínio dos Euá ao mesmo tempo em q se "prevê" a ascensão da China é uma espécie de esporte jornalístico; vem da crença despistada de q o desenvolvimento econômico é uma conseqüência inescapável do crescimento populacional. Claro q não há desenveconô sem a produção incansável de bebês pobres. Mas é preciso mais do q um contingente crescente de pobres num país pra forçar executivos dum outro a aprender a língua do primeiro.
O chinês (tanto o mandarim quanto o cantonês, entre as oito línguas lá faladas) tem características q pouquíssimos ocidentais estariam a fim de aprender. É uma língua em q a entonação duma palavra é parte integrante de seu significado. É como se, em português, "dusa?" significasse 'perto', "dusa!" significasse 'pizza' e "duuusa?!" significasse 'metalinguagem'.
Esse simples fato tem conseqüências culturais e geopolíticas. Cito aqui apenas duas, dentre as várias q o Dr Plausível listou e demonstrou recentemente, no XII Congresso Exurbano de Geoplausibilática Funcional:
(1) Quando um chinês está fulo de raiva e quer dar uma bronca no filho porque não lavou os palitinhos antes de comer, ele não pode sair gritando, como qualquer ocidental, "SEU PORCÃO! VAI JÁ LAVAR OS PALITO!!", porque se ele gritar como um ocidental, sua entonação vai mudar, e portanto o significado do q ele diz também vai mudar. ¿Q faz, então? Em vez de berrar, ele tensiona o pescoço e engrossa a voz: "Seu porcão. Vai já lavar os palito." Alugue algum DVD de filme chinês e confirme. Assim, a música cantada chinesa tradicional não pode ter qualquer melodia com uma letra em cima: muda-se a melodia e muda o sentido. As canções chinesas tradicionais são indecifráveis aos ouvidos ocidentais. "¿Como é q alguém pode gostar disso?" é o q se pergunta qualquer brasileiro q escuta. O mundo é cheio de variedade, mas ¿sabe QUANDO a cultura chinesa vai pegar no ocidente?
(2) Uma cultura em q a expressão visceral dos sentimentos é codificada num padrão travado de entonações é o palco perfeito pra governos totalitários. ¡Não há nisso crítica alguma contra governos totalitários! O progresso chinês é a prova de q pode dar certo, e a cultura chinesa é provavelmente a q mais influenciou a história da civilização. Mas dentre os ocidentais – acostumados à exuberância de suas artes, idéias e berros –, pouquíssimos aceitariam a influência direta da China sobre seus gostos e palavras. Em 1999, o então presidente Clinton dos Euá tentou dar umas bronquinhas no primeiro ministro chinês visitante, Zhu Rongji, sobre infrações de direitos humanos na China, mas o Zhu deu-lhe um chega-pra-lá irrespondível, equivalente a "Calma lá, cara-pálida, q vocês ocidentais não sacaram ainda como as coisas funcionam lá." E, de fato, é outro mundo.
Apenas por esses dois motivos, é fácil ver q o chinês não é a "próxima" língua. A China deve ser recebida com raras honrarias ao clube dos países desinglesados, mas terá q praticar o maldito verbo to be e o present perfect como todo o mundo. ¿Tá pensando o quê?
A moda de prever o declínio dos Euá ao mesmo tempo em q se "prevê" a ascensão da China é uma espécie de esporte jornalístico; vem da crença despistada de q o desenvolvimento econômico é uma conseqüência inescapável do crescimento populacional. Claro q não há desenveconô sem a produção incansável de bebês pobres. Mas é preciso mais do q um contingente crescente de pobres num país pra forçar executivos dum outro a aprender a língua do primeiro.
O chinês (tanto o mandarim quanto o cantonês, entre as oito línguas lá faladas) tem características q pouquíssimos ocidentais estariam a fim de aprender. É uma língua em q a entonação duma palavra é parte integrante de seu significado. É como se, em português, "dusa?" significasse 'perto', "dusa!" significasse 'pizza' e "duuusa?!" significasse 'metalinguagem'.
Esse simples fato tem conseqüências culturais e geopolíticas. Cito aqui apenas duas, dentre as várias q o Dr Plausível listou e demonstrou recentemente, no XII Congresso Exurbano de Geoplausibilática Funcional:
(1) Quando um chinês está fulo de raiva e quer dar uma bronca no filho porque não lavou os palitinhos antes de comer, ele não pode sair gritando, como qualquer ocidental, "SEU PORCÃO! VAI JÁ LAVAR OS PALITO!!", porque se ele gritar como um ocidental, sua entonação vai mudar, e portanto o significado do q ele diz também vai mudar. ¿Q faz, então? Em vez de berrar, ele tensiona o pescoço e engrossa a voz: "Seu porcão. Vai já lavar os palito." Alugue algum DVD de filme chinês e confirme. Assim, a música cantada chinesa tradicional não pode ter qualquer melodia com uma letra em cima: muda-se a melodia e muda o sentido. As canções chinesas tradicionais são indecifráveis aos ouvidos ocidentais. "¿Como é q alguém pode gostar disso?" é o q se pergunta qualquer brasileiro q escuta. O mundo é cheio de variedade, mas ¿sabe QUANDO a cultura chinesa vai pegar no ocidente?
(2) Uma cultura em q a expressão visceral dos sentimentos é codificada num padrão travado de entonações é o palco perfeito pra governos totalitários. ¡Não há nisso crítica alguma contra governos totalitários! O progresso chinês é a prova de q pode dar certo, e a cultura chinesa é provavelmente a q mais influenciou a história da civilização. Mas dentre os ocidentais – acostumados à exuberância de suas artes, idéias e berros –, pouquíssimos aceitariam a influência direta da China sobre seus gostos e palavras. Em 1999, o então presidente Clinton dos Euá tentou dar umas bronquinhas no primeiro ministro chinês visitante, Zhu Rongji, sobre infrações de direitos humanos na China, mas o Zhu deu-lhe um chega-pra-lá irrespondível, equivalente a "Calma lá, cara-pálida, q vocês ocidentais não sacaram ainda como as coisas funcionam lá." E, de fato, é outro mundo.
Apenas por esses dois motivos, é fácil ver q o chinês não é a "próxima" língua. A China deve ser recebida com raras honrarias ao clube dos países desinglesados, mas terá q praticar o maldito verbo to be e o present perfect como todo o mundo. ¿Tá pensando o quê?
24 julho 2007
Perguntas bobas do doutor, #e41j
¿Por quê será q nenhum economista jamais definiu o lucro como um insulto?
21 junho 2007
bosta vejo
There is no cabbiment, minha gente. Dois meses depois de o Dr Plausível ter insuflado as massas populares com uma crítica certeira e feroz ao bustv, ¿q é q me aparece? : uma portaria da prefeitura de São Paulo dando a entender q tudo bem, q emerdar os ouvidos de passageiro de ônibus é legal.
Dá uma olhada:
[São Paulo, 15 de junho de 2007.]
Portaria n.º 79/07–SMT.GAB.
"Art. 5° Na área interna dos veículos será permitida a afixação de publicidade no vidro atrás do motorista (anteparo) e na parte superior das janelas (frechal ou sanca), bem como a utilização de dispositivos para transmissão de sons, imagens e dados, resguardando o espaço destinado à publicidade institucional e de caráter informativo."
E ¿aquele aviso em todos os ônibus: "é vedado o uso de aparelhos sonoros"?
Mas... Mas... Qual não foi minha surpresa ao ler o NOME do secretário municipal de transportes q assinou essa aleivosia: Frederico Bussinger.
Ah, não, peraí... ¡Dá um tempo, Ironyman! ¿¡¿Frederico Bussinger?!?
¿BUS SINGER?
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
A gente se ferra mas se diverte.
Dá uma olhada:
[São Paulo, 15 de junho de 2007.]
Portaria n.º 79/07–SMT.GAB.
"Art. 5° Na área interna dos veículos será permitida a afixação de publicidade no vidro atrás do motorista (anteparo) e na parte superior das janelas (frechal ou sanca), bem como a utilização de dispositivos para transmissão de sons, imagens e dados, resguardando o espaço destinado à publicidade institucional e de caráter informativo."
E ¿aquele aviso em todos os ônibus: "é vedado o uso de aparelhos sonoros"?
Mas... Mas... Qual não foi minha surpresa ao ler o NOME do secretário municipal de transportes q assinou essa aleivosia: Frederico Bussinger.
Ah, não, peraí... ¡Dá um tempo, Ironyman! ¿¡¿Frederico Bussinger?!?
¿BUS SINGER?
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
A gente se ferra mas se diverte.
17 junho 2007
A música das esperas
¿Lembra q recentemente nosso elogioso doutor soltou uma gargalhada num restaurante?
É q ele já tava de bom humor. O restaurante era o Carlota. E ele não tava de bom humor pela comida, não.
Conteceu assim. Depois duma espera de mais de hora e meia num ambiente à parte, entramos no salão principal. Logo ao entrar se nota q o lugar, cuja comida não é de se jogar fora, tem ãã... uma trilha sonora. Qdo fomos, tavam tocando BUM-BUM-BUMxcaBUM. Num lugar com comilões conversantes, só se ouve, claro, o BUM-BUM do bumbo e o TS-TSk-TS-kTS do ximbau. Só q ali... volume ALTÍSSIMO. Nada aconchegante. Digestivamente contraproducente, eu diria. Gastronomicamente ulcerante.
O doutor ficou se perguntando por q cargas d'água a gerência prefere transformar numa ante-sala de danceteria um ambiente onde se janta comida-q-não-é-de-se-jogar-fora a preço-de-olhos-da-cara. Ficou ali matutando até q decidiu perguntar a um garçom. Delicadamente, claro.
A resposta foi: "pra evitar q as pessoas ouçam a conversa das outras mesas".
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
¡¡There is no cabbiment, meu expensivo esperador!! ¿Quem será q inventou essa desculpa pra fingir q um lugar é descolado? Algum descolado, certamente.
Descolado da realidade.
É q ele já tava de bom humor. O restaurante era o Carlota. E ele não tava de bom humor pela comida, não.
Conteceu assim. Depois duma espera de mais de hora e meia num ambiente à parte, entramos no salão principal. Logo ao entrar se nota q o lugar, cuja comida não é de se jogar fora, tem ãã... uma trilha sonora. Qdo fomos, tavam tocando BUM-BUM-BUMxcaBUM. Num lugar com comilões conversantes, só se ouve, claro, o BUM-BUM do bumbo e o TS-TSk-TS-kTS do ximbau. Só q ali... volume ALTÍSSIMO. Nada aconchegante. Digestivamente contraproducente, eu diria. Gastronomicamente ulcerante.
O doutor ficou se perguntando por q cargas d'água a gerência prefere transformar numa ante-sala de danceteria um ambiente onde se janta comida-q-não-é-de-se-jogar-fora a preço-de-olhos-da-cara. Ficou ali matutando até q decidiu perguntar a um garçom. Delicadamente, claro.
A resposta foi: "pra evitar q as pessoas ouçam a conversa das outras mesas".
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
¡¡There is no cabbiment, meu expensivo esperador!! ¿Quem será q inventou essa desculpa pra fingir q um lugar é descolado? Algum descolado, certamente.
Descolado da realidade.
06 junho 2007
Origens lingüísticas do atraso brasileiro, parte 2
Tava lá nosso emblemático doutor escrevendo um artigo sobre a substantivação de adjetivos pro Cadernos de Plausibilática, e procurava sem sucesso como falar da qualidade de 'errado' (erritude? erridão? erratidão?) – e amaldiçoando o ouvido sensíííível de quem fala português –, qdo finalmente, após quase 50 anos de pesquisas, chegou ao centro da questão: ¿Por que é q os povos latinos produzem comparativamente menos idéias, menos filosofias, menos tecnologia e menos conhecimentos do q os povos germânicos? ¿Por que é q os latinos são povos mais afeitos a remanchar prazerosamente enquanto q os povos germânicos, pra chegar a tal refinamento, precisam beber?
A resposta está no ACENTO das palavras.
Tal como já é costume aqui, vou comparar o português ao inglês. Tome-se isso como uma comparação genérica entre as línguas latinas e as germânicas (exclua o francês, q é uma língua meio híbrida).
Olha só o q acontece com o acento das palavras na derivação, em português e em inglês.
Em inglês:
chAste > chAstity
rIght > rIghtness
fAt > fAtness
wrIte > wrIter
wOrld > wOrldwide
mOtor > mOtorist
Ugly > Ugliness
beaUty > beaUtiful > beaUtifully
sEnse > sensAtion > sensAtional
Em português:
cAsto > castidAde
cErto > certEza
escrIta > escritOr
gOrdo > gordUra
mUndo > mundiAl
motOr > motorIsta
fEio > feiÚra
bElo > belEza > belamEnte
sEnso > sensaçÃo > sensacionAl
¿Notou uma coisa? Ao derivar palavras em inglês, o acento continua caindo no radical da palavra, exceto no caso do sufixo latino -ation. Mas ao derivar palavras em português, o FOCO da palavra se desloca de seu radical pra seu sufixo, ou seja, de sua SEMÂNTICA pra sua GRAMÁTICA, ou seja, de seu SENTIDO profundo pra sua CLASSE gramatical. Uma outra vítima desse processo são os verbos e as conjugações. Enquanto q em inglês, o acento cai sempre no radical (sIng, sIngs, sAng, sInging, sUng), em português isso acontece apenas nos tempos simples (cAnto, cAntas, cAnta, cAntam, cAnte, cAntes, cAntem; mas cantAmos, cantAvam, cantarEi, cantarIas, cantÁramos, cantAsse, cantArmos, cantAndo, cantAdo, &c).
Essa diferença tem amplas conseqüências. Numa frase inglesa, a força das idéias geradoras é mantida a cada palavra derivada:
The tEacher wrOte some extrEmely Interesting descrIptions of his nAtive land.
O professOr escrevEu umas descriçÕes extrEmamEnte interessAntes de sua terra natAl.
Faça o teste vc mesmo. Diga em voz alta as palavras abaixo colocando o acento no radical, em vez de no sufixo. Compare com a sensação q vc tem qdo põe o acento no sufixo:
cAstidade, cErteza, escrItor, gOrdura, mUndial, mOtorista, bEleza, bElamente, sEnsação, sEnsacional, profEssor, escrEveu, descrIções, extrEmamente, intEressante, nAtal
¿Sentiu um deslocamento pro sentido profundo da palavra? ¿Não parece, de algum modo, q a palavra fica mais clara, menos difusa? Hm. Nas línguas latinas, vc tem a sensação de raramente estar falando das coisas, de raramente olhar pra elas de frente, de ficar rodeando os assuntos interminavelmente, de estar prestando atenção na forma muito mais do q o necessário. É por isso q as línguas latinas têm tanta dificuldade em criar palavras novas a partir das antigas, e ficam dando voltas e mais voltas em torno dum vocabulário q ainda não saiu do Iluminismo.
Não admira q o q é dito numa língua latina soe tão mais superficial do q o q é dito numa língua germânica, inclusive pra seus falantes; daí q, depois q a ciência de várias nacionalidades cuidou do básico no século XIX, o bojo de tudo q se pensou, se criou e se descobriu no mundo a partir do século XX tenha partido das línguas germânicas, q expressam idéias complexas com mais facilidade e clareza. O mundo latino é empurrado prà frente pela pujança, flexibilidade, praticidade e criatividade das línguas germânicas e pra isso, claro, paga royalties.
O futuro, ninguém sabe. É inteiramente possível q "remanchar prazerosamente" venha a ser a melhor maneira de viver, depois q os germânicos pensarem, criarem e descobrirem tudo q é possível pensar, criar e descobrir; e talvez aquele seja mesmo o objetivo de pensar, criar e descobrir – objetivo esse q os latinos já alcançaram sem muito falatório. Vá saber. O certo é q, por agora, é muito frustrante querer expressar uma idéia e se incomodar com o som q ela tem.
A resposta está no ACENTO das palavras.
Tal como já é costume aqui, vou comparar o português ao inglês. Tome-se isso como uma comparação genérica entre as línguas latinas e as germânicas (exclua o francês, q é uma língua meio híbrida).
Olha só o q acontece com o acento das palavras na derivação, em português e em inglês.
Em inglês:
chAste > chAstity
rIght > rIghtness
fAt > fAtness
wrIte > wrIter
wOrld > wOrldwide
mOtor > mOtorist
Ugly > Ugliness
beaUty > beaUtiful > beaUtifully
sEnse > sensAtion > sensAtional
Em português:
cAsto > castidAde
cErto > certEza
escrIta > escritOr
gOrdo > gordUra
mUndo > mundiAl
motOr > motorIsta
fEio > feiÚra
bElo > belEza > belamEnte
sEnso > sensaçÃo > sensacionAl
¿Notou uma coisa? Ao derivar palavras em inglês, o acento continua caindo no radical da palavra, exceto no caso do sufixo latino -ation. Mas ao derivar palavras em português, o FOCO da palavra se desloca de seu radical pra seu sufixo, ou seja, de sua SEMÂNTICA pra sua GRAMÁTICA, ou seja, de seu SENTIDO profundo pra sua CLASSE gramatical. Uma outra vítima desse processo são os verbos e as conjugações. Enquanto q em inglês, o acento cai sempre no radical (sIng, sIngs, sAng, sInging, sUng), em português isso acontece apenas nos tempos simples (cAnto, cAntas, cAnta, cAntam, cAnte, cAntes, cAntem; mas cantAmos, cantAvam, cantarEi, cantarIas, cantÁramos, cantAsse, cantArmos, cantAndo, cantAdo, &c).
Essa diferença tem amplas conseqüências. Numa frase inglesa, a força das idéias geradoras é mantida a cada palavra derivada:
The tEacher wrOte some extrEmely Interesting descrIptions of his nAtive land.
O professOr escrevEu umas descriçÕes extrEmamEnte interessAntes de sua terra natAl.
Faça o teste vc mesmo. Diga em voz alta as palavras abaixo colocando o acento no radical, em vez de no sufixo. Compare com a sensação q vc tem qdo põe o acento no sufixo:
cAstidade, cErteza, escrItor, gOrdura, mUndial, mOtorista, bEleza, bElamente, sEnsação, sEnsacional, profEssor, escrEveu, descrIções, extrEmamente, intEressante, nAtal
¿Sentiu um deslocamento pro sentido profundo da palavra? ¿Não parece, de algum modo, q a palavra fica mais clara, menos difusa? Hm. Nas línguas latinas, vc tem a sensação de raramente estar falando das coisas, de raramente olhar pra elas de frente, de ficar rodeando os assuntos interminavelmente, de estar prestando atenção na forma muito mais do q o necessário. É por isso q as línguas latinas têm tanta dificuldade em criar palavras novas a partir das antigas, e ficam dando voltas e mais voltas em torno dum vocabulário q ainda não saiu do Iluminismo.
Não admira q o q é dito numa língua latina soe tão mais superficial do q o q é dito numa língua germânica, inclusive pra seus falantes; daí q, depois q a ciência de várias nacionalidades cuidou do básico no século XIX, o bojo de tudo q se pensou, se criou e se descobriu no mundo a partir do século XX tenha partido das línguas germânicas, q expressam idéias complexas com mais facilidade e clareza. O mundo latino é empurrado prà frente pela pujança, flexibilidade, praticidade e criatividade das línguas germânicas e pra isso, claro, paga royalties.
O futuro, ninguém sabe. É inteiramente possível q "remanchar prazerosamente" venha a ser a melhor maneira de viver, depois q os germânicos pensarem, criarem e descobrirem tudo q é possível pensar, criar e descobrir; e talvez aquele seja mesmo o objetivo de pensar, criar e descobrir – objetivo esse q os latinos já alcançaram sem muito falatório. Vá saber. O certo é q, por agora, é muito frustrante querer expressar uma idéia e se incomodar com o som q ela tem.
23 maio 2007
o povo punido jamais terá partido
Engraçadíssimo é universitário gratuito. Faz 20 dias q a USP está em greve. Parece q é todo ano é a mesma coisa. Invadem a reitoria, cantam Apesar de Você, fazem assembléia...
Estávamos nosso estimado Dr Plausível e eu num restaurante qdo lhe contei q estudei na USP dééécadas atrás. Ele estava a ponto de garfar um bife. Por alguns segundos, sua mão parou no ar com o garfo apontando pra baixo e os olhos dele me fitando como se eu fosse um grão de pó no horizonte. E foi aí q gargantalhou em minha cara e animou o restaurante inteiro.
Fiz 7 anos de USP. Todo ano (todo ano) houve greve. A reitoria foi invadida 2 vezes (¿ou terão sido 3? já não lembro). Num dos anos, a greve se eXtendeu até janeiro do ano seguinte, e os professores tiveram q aprovar todos os alunos.
Jendia parece q a molecada classe média quer entrar prà universidade pra fazer de conta q está nos anos 60. A USP virou um parque temático. HAHAHAHA A reitoria agora deve ter uma ala reservada pra invasões, q fica sem uso o resto do ano. Os seguranças vão direcionando a turba enSandycida ("Por ali, por ali, por favor."), q entra numa área com um dj tocando muzak contra a ditadura ("Caminhando e cantando e seguindo a canção..." e depois "Apesar de você, amanhã há de ser...") e o pessoal se acomoda ali, esperando o lanchinho.
Pra se sentir nos anos 60, tem até estudantes (e isto é a pura verdade) q chamam o atual governo estadual de "ditadura"... ¡Um governador eleito!
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Qdo confessei ao doutor q eu mesmo fui junto numa dessas invasões numa época em q ãã meu cinismo ainda não tinha aflorado e eu era, portanto, bem mais idiota do q sou agora, ¿vcs querem ter uma noção do tamanho da risada q ele deu?
HAHAHAHAHA
Q humilhação.
Estávamos nosso estimado Dr Plausível e eu num restaurante qdo lhe contei q estudei na USP dééécadas atrás. Ele estava a ponto de garfar um bife. Por alguns segundos, sua mão parou no ar com o garfo apontando pra baixo e os olhos dele me fitando como se eu fosse um grão de pó no horizonte. E foi aí q gargantalhou em minha cara e animou o restaurante inteiro.
Fiz 7 anos de USP. Todo ano (todo ano) houve greve. A reitoria foi invadida 2 vezes (¿ou terão sido 3? já não lembro). Num dos anos, a greve se eXtendeu até janeiro do ano seguinte, e os professores tiveram q aprovar todos os alunos.
Jendia parece q a molecada classe média quer entrar prà universidade pra fazer de conta q está nos anos 60. A USP virou um parque temático. HAHAHAHA A reitoria agora deve ter uma ala reservada pra invasões, q fica sem uso o resto do ano. Os seguranças vão direcionando a turba enSandycida ("Por ali, por ali, por favor."), q entra numa área com um dj tocando muzak contra a ditadura ("Caminhando e cantando e seguindo a canção..." e depois "Apesar de você, amanhã há de ser...") e o pessoal se acomoda ali, esperando o lanchinho.
Pra se sentir nos anos 60, tem até estudantes (e isto é a pura verdade) q chamam o atual governo estadual de "ditadura"... ¡Um governador eleito!
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Qdo confessei ao doutor q eu mesmo fui junto numa dessas invasões numa época em q ãã meu cinismo ainda não tinha aflorado e eu era, portanto, bem mais idiota do q sou agora, ¿vcs querem ter uma noção do tamanho da risada q ele deu?
HAHAHAHAHA
Q humilhação.
09 maio 2007
P2a: Pessoas-que-acreditam-em-coisas [1/2]
Abaixo, um resumo da primeira parte da palestra do Dr Plausível sobre a onisciência divina e o livre arbítrio humano, proferida no Instituto de Plausibilática de Tallinn, ano passado.
« Alex Castro, autor do Liberal Libertário Libertino, publicou há meses um artigo sobre as "pessoas-que-acreditam-em-coisas", em q parodiou uma conversa típica entre ele e um crente q tenta inutilmente proselitizá-lo. O crente metafórico acredita em "elefantes roxos q flutuam" e, conseqüentemente, q "não se deve vestir camisetas brancas". Em dado momento, a pessoa-que-acredita-em-coisas acusa o autor: "Ao contrário do que vc pensa em tua imensa vaidade, tua mente está fechada a tudo q não se conforme a tua visão estreita de mundo."
« Hm.
« Sempre acho graça de pessoas-que-acreditam-em-coisas. A regra fundamental pra essas pessoas é:
1. acredite em coisas
2. acredite em coisas q não contradigam o q vc já acredita
3. não acredite em coisas em q gente estranha acredita
« É sobre o ítem 2 q quero falar. Os ítem 1 e 3 contêm apenas, digamos, reações viscerais/intuitivas à vastíssima complexidade do mundo. Compreensível, dada a capacidade humana de compreender q não compreende a escala das coisas.
« Mas o ítem 2 tem ali uma palavra relacionada com lógica ("contradigam") q pretende adicionar um elemento inteligível à visceragem/intuição.
« A impressão q dá é q toda religião grande é um amontoado de ingredientes saídos de vários cérebros diferentes, cada um tendo uma idéia independente da outra e tentando encaixar tudo numa mesma panela. Parece tbm aquela história em q umas beatas se encontram pra compor uma música pruma procissão, discutem, discutem e chegam num acordo: "Ói, cês vão pa casa e faiz a muzga, e nóis vão pa casa e faiz a letra." E aí depois qdo elas se encontram é "muita letra pra pouca música."
« Uma dessas incoerências é a crença, ao mesmo tempo, na onisciência divina e no livre arbítrio humano – um dos embaraços mais conhecidos de algumas religiões grandes, um embaraço pro qual todo teólogo tem uma resposta, mas q nenhum ainda conseguiu satisfazer, sacomé? Simplesmente não é possível, sem entortar o sentido das palavras, q a primeira e o segundo sejam verdade ao mesmo tempo. É como diz meu nobre colega, o Dr PACS: "Tem gente q acredita simultaneamente q ninguém sabe a fórmula da Coca-Cola, e q já se conhece o genoma humano. As duas coisas simplesmente não podem ser verdade ao mesmo tempo." HAHAHAHAHAHAHA
« Reconheço os esforços dos trocentos teólogos do passado longínquo e próximo e do presente q tentaram e tentam criar teorias pra conciliar as duas idéias; mas a lógica resiste. A saída mais simples do dilema, reconhecida e usada na hora do aperto, é dizer, "Pô, foi Deus q criou a lógica, a justiça e a hermenêutica; então a vontade divina criou até a racionalidade q é INcapaz de entender."
« ¿¡¿Uééé?!?
« Mas então... ¿não era pra entender? »
continua...
« Alex Castro, autor do Liberal Libertário Libertino, publicou há meses um artigo sobre as "pessoas-que-acreditam-em-coisas", em q parodiou uma conversa típica entre ele e um crente q tenta inutilmente proselitizá-lo. O crente metafórico acredita em "elefantes roxos q flutuam" e, conseqüentemente, q "não se deve vestir camisetas brancas". Em dado momento, a pessoa-que-acredita-em-coisas acusa o autor: "Ao contrário do que vc pensa em tua imensa vaidade, tua mente está fechada a tudo q não se conforme a tua visão estreita de mundo."
« Hm.
« Sempre acho graça de pessoas-que-acreditam-em-coisas. A regra fundamental pra essas pessoas é:
1. acredite em coisas
2. acredite em coisas q não contradigam o q vc já acredita
3. não acredite em coisas em q gente estranha acredita
« É sobre o ítem 2 q quero falar. Os ítem 1 e 3 contêm apenas, digamos, reações viscerais/intuitivas à vastíssima complexidade do mundo. Compreensível, dada a capacidade humana de compreender q não compreende a escala das coisas.
« Mas o ítem 2 tem ali uma palavra relacionada com lógica ("contradigam") q pretende adicionar um elemento inteligível à visceragem/intuição.
« A impressão q dá é q toda religião grande é um amontoado de ingredientes saídos de vários cérebros diferentes, cada um tendo uma idéia independente da outra e tentando encaixar tudo numa mesma panela. Parece tbm aquela história em q umas beatas se encontram pra compor uma música pruma procissão, discutem, discutem e chegam num acordo: "Ói, cês vão pa casa e faiz a muzga, e nóis vão pa casa e faiz a letra." E aí depois qdo elas se encontram é "muita letra pra pouca música."
« Uma dessas incoerências é a crença, ao mesmo tempo, na onisciência divina e no livre arbítrio humano – um dos embaraços mais conhecidos de algumas religiões grandes, um embaraço pro qual todo teólogo tem uma resposta, mas q nenhum ainda conseguiu satisfazer, sacomé? Simplesmente não é possível, sem entortar o sentido das palavras, q a primeira e o segundo sejam verdade ao mesmo tempo. É como diz meu nobre colega, o Dr PACS: "Tem gente q acredita simultaneamente q ninguém sabe a fórmula da Coca-Cola, e q já se conhece o genoma humano. As duas coisas simplesmente não podem ser verdade ao mesmo tempo." HAHAHAHAHAHAHA
« Reconheço os esforços dos trocentos teólogos do passado longínquo e próximo e do presente q tentaram e tentam criar teorias pra conciliar as duas idéias; mas a lógica resiste. A saída mais simples do dilema, reconhecida e usada na hora do aperto, é dizer, "Pô, foi Deus q criou a lógica, a justiça e a hermenêutica; então a vontade divina criou até a racionalidade q é INcapaz de entender."
« ¿¡¿Uééé?!?
« Mas então... ¿não era pra entender? »
continua...
14 abril 2007
O pior anúncio do mundo
Marqueteiro e marcheteiro têm algumas coisas em comum. Ambos gostam de coisas encaixadinhas e ambos adoram ficar martelando. Se uma coisa teima em não se encaixar, nada q uma marretada não resolva.
Dez anos atrás, às 8h duma manhã cinza de inverno, a população inteira dum ônibus urbano lotado teve uma oportunidade única de conhecer a gargalhada de nosso eutrófico doutor.
Algum tonho de alguma firmeca de marketing muito provavelmente havia pensado assim:
"Hm. Xovê. ¿Onde é q tem gente tão encaixadinha q não teria escolha exceto ser martelado com as ãã informações publicitárias dum anunciante? Hm. Caixa, caixa... Martelo, martelo... ¡Ah, já sei! Um ônibus lotado!"
E pensando nos passageiros acotovelados e indefesos, criou a sórdida idéia de emporcalhar-lhes os ouvidos com as "informações" de quem quer q pagasse uns trocados. Daí nasceu o radinho com programação ãã customizada pra tocar em linhas de ônibus de São Paulo, "the city that never shuts up" [© Bel Seslaf].
Mas voltando àquela manhã dez anos atrás. O doutor já estava de saco cheio, obrigado a ouvir músicas cretinas qdo queria ler seu livrinho, mesmo apinhado e de pé (as Clínicas Dr Plausível nunca deram dinheiro), qdo um anúncio simplesmente o PIOR anúncio de todos os tempos provocou-lhe uma risada tão contagiante q o ônibus todo ficou sem ar. (Imagine dezenas de pessoas ensardinhadas rindo ao mesmo tempo. É uma operação q exigiria planejamento e coreografia.) Era o anúncio dum curso de informática, e começava assim:
"Você aí que agora está olhando pela janela deste ônibus, ¿não seria muito melhor estar olhando na tela dum computador?"
QUA QUA QUA QUA QUA QUA QUA QUA QUA
¿Em qual nádega esse pessoal tem a cabeça, meu santo?
Tá bom, tá bom. Não é o pior anúncio do mundo, mas o ponto final tá perto.
O radinho parou depois de alguns meses, certamente devido às reclamações de passageiros. (E, sem dúvida, muitas reclamações de parentes e amigos dos motoristas e cobradores q eram obrigados a ouvir a mesma ladainha 8 horas por dia, dia após dia.)
Mas recentemente, algum outro tonho achou por bem renovar a idéia dum jeito mais hi-tech. Algumas linhas de ônibus trazem agora duas telas de tv... com SOM... Em São Paulo, uma firma responsável por esse torpe desrespeito ao cidadão, essa nauseante invasão do espaço privado, esse asqueroso abuso da imobilidade do passageiro chama-se BUS TV. Dê uma vista d'olhos no site www.bustv.com.br pra ver a intensa mediocridade e o sebento cinismo do pensamento marqueteiro. Agora o passageiro não precisa mais olhar pela janela pra ver como a vida moderna é uma bosta. Olha a telinha, e a bosta vê. E dá-lhe muzak, anúncios de Nescau, Casas Pernambucanas e McDonald's, além de dicas de culinária e de segurança, clipinhos de grupinhos de rapazinhos limpinhos cantando regginhos, previsão do tempo e programação cultural. Um cocô total.
¡Q vergonha, hein, Nescau?
¿Será q o "apoio integral de instituições públicas e governamentais" (nas palavras do site deles) inclue a otherwise elogiosa proibição de cartazes publicitários ao longo das ruas onde transitam os ônibus? Paranóia, né? Mas se a prefeitura proíbe um cartaz q só está ali enfeiando a paisagem, ¿por que é q não proíbe a vileza insidiosa e ofensiva de amarrar o povaréu à frente duma telinha e emerdar-lhe o cérebro?
Dez anos atrás, às 8h duma manhã cinza de inverno, a população inteira dum ônibus urbano lotado teve uma oportunidade única de conhecer a gargalhada de nosso eutrófico doutor.
Algum tonho de alguma firmeca de marketing muito provavelmente havia pensado assim:
"Hm. Xovê. ¿Onde é q tem gente tão encaixadinha q não teria escolha exceto ser martelado com as ãã informações publicitárias dum anunciante? Hm. Caixa, caixa... Martelo, martelo... ¡Ah, já sei! Um ônibus lotado!"
E pensando nos passageiros acotovelados e indefesos, criou a sórdida idéia de emporcalhar-lhes os ouvidos com as "informações" de quem quer q pagasse uns trocados. Daí nasceu o radinho com programação ãã customizada pra tocar em linhas de ônibus de São Paulo, "the city that never shuts up" [© Bel Seslaf].
Mas voltando àquela manhã dez anos atrás. O doutor já estava de saco cheio, obrigado a ouvir músicas cretinas qdo queria ler seu livrinho, mesmo apinhado e de pé (as Clínicas Dr Plausível nunca deram dinheiro), qdo um anúncio simplesmente o PIOR anúncio de todos os tempos provocou-lhe uma risada tão contagiante q o ônibus todo ficou sem ar. (Imagine dezenas de pessoas ensardinhadas rindo ao mesmo tempo. É uma operação q exigiria planejamento e coreografia.) Era o anúncio dum curso de informática, e começava assim:
"Você aí que agora está olhando pela janela deste ônibus, ¿não seria muito melhor estar olhando na tela dum computador?"
QUA QUA QUA QUA QUA QUA QUA QUA QUA
¿Em qual nádega esse pessoal tem a cabeça, meu santo?
Tá bom, tá bom. Não é o pior anúncio do mundo, mas o ponto final tá perto.
O radinho parou depois de alguns meses, certamente devido às reclamações de passageiros. (E, sem dúvida, muitas reclamações de parentes e amigos dos motoristas e cobradores q eram obrigados a ouvir a mesma ladainha 8 horas por dia, dia após dia.)
Mas recentemente, algum outro tonho achou por bem renovar a idéia dum jeito mais hi-tech. Algumas linhas de ônibus trazem agora duas telas de tv... com SOM... Em São Paulo, uma firma responsável por esse torpe desrespeito ao cidadão, essa nauseante invasão do espaço privado, esse asqueroso abuso da imobilidade do passageiro chama-se BUS TV. Dê uma vista d'olhos no site www.bustv.com.br pra ver a intensa mediocridade e o sebento cinismo do pensamento marqueteiro. Agora o passageiro não precisa mais olhar pela janela pra ver como a vida moderna é uma bosta. Olha a telinha, e a bosta vê. E dá-lhe muzak, anúncios de Nescau, Casas Pernambucanas e McDonald's, além de dicas de culinária e de segurança, clipinhos de grupinhos de rapazinhos limpinhos cantando regginhos, previsão do tempo e programação cultural. Um cocô total.
¡Q vergonha, hein, Nescau?
¿Será q o "apoio integral de instituições públicas e governamentais" (nas palavras do site deles) inclue a otherwise elogiosa proibição de cartazes publicitários ao longo das ruas onde transitam os ônibus? Paranóia, né? Mas se a prefeitura proíbe um cartaz q só está ali enfeiando a paisagem, ¿por que é q não proíbe a vileza insidiosa e ofensiva de amarrar o povaréu à frente duma telinha e emerdar-lhe o cérebro?
08 abril 2007
Desligare
Uma coisa q o Dr Plausível elogia nas pessoas é q, qdo devidamente encostadas na parede, todas elas meio q admitem q seguir uma religião é delegar a uma tradição as decisões sobre questões polêmicas, e q a tradição é apenas mais uma aplicação prática da antiga e nobre vocação humana de tirar o fiofó da reta. ¿Pra quê ser totalmente responsável por suas opiniões, decisões e ações se é possível jogar esse fardo em cima do imponderável, não é verdade?
Mas as tradições têm um grave defeito. A ignorância das gentes antigas (ou caso vc seja crente de alguma religião a ignorância humana q Deus presumia nas gentes, ao sonegar informações preciosas naquelas revelações todas) foi inegavelmente uma forte influência na construção das tradições religiosas. [Já vai ter gente caindo de pau, dizendo q nas questões fundamentais da existência estamos tão porcamente na lama da ignorância hoje como antes. Mas qdo fala de ignorância, nosso enlevante doutor quer dizer ignorância sobre coisas práticas tipo "ferver água mata germes," "a terra é uma bola de 40mil km em volta, q gira em torno do sol," "qqer estrutura presente é historicamente determinada," "todo ser humano tem direitos inalienáveis," coisas desse tipo.]
A ignorância na origem das religiões resulta em limitações de vocabulário q, hoje, deveriam restringir a abrangência das aplicações da religião. É uma questão meramente combinatória.
Explico. Por conta dessa ignorância sobre o diminuto (micro-organismos, genes, elétrons) e o vasto (planeta, galáxias, universo) as tradições religiosas lidam forçosamente apenas com combinações triviais de problemas entre as gentes normais e numerosas tipo nascimentos, casamentos, mortes, negócios, traições, doenças, &c. Além disso, nos tempos bíblicos (ou védicos ou búdicos ou confúcicos ou muçúlmicos), havia muito menos gente do q hoje. A população MUNDIAL em, digamos, 15 de maio de 5 a.C. era de apenas uns 200 milhões, um trigésimo do q é hoje. Assim, havia logicamente menos variedade de experiências, e a pouca variedade q havia estava circunscrita entre extremos menos díspares. Um sujeito ia à guerra e via gente sendo degolada, queimada e pisoteada... mas nunca via ninguém explodir em mil pedaços ou virar pó em segundos; todos sabiam q havia um homossexual aqui e outro ali... mas nem se imaginava q milhares deles poderiam fazer uma festa numa avenida do tamanho duma cidade bíblica (a população de Jerusalém naquele mesmo 15 de maio era de 80mil; a parada gay de SPaulo na virada deste século teve cerca de 100mil). O mundo de hoje é pelo menos (!) trinta vezes mais complexo do q era qdo aqueles profetas profundamente provincianos enumeravam suas regras universais de convivência.
Com o vertiginoso acúmulo de conhecimento humano de uns quinhentos anos pra cá, a religião parece um andarilho numa selva à noite: ¡leva cada susto! Ela não sabe nem sequer como reagir: dá um fora atrás do outro, e só às vezes se desculpa. O conhecimento nunca pede desculpas: ninguém se sente culpado por saber alguma coisa.
Sesdias, houve um exemplo de como, deparando-se com possibilidades humanas dantes impensáveis, a religião reage às cegas. Ao mesmo tempo em q, em Brasília, a influência da igreja mexe os pauzinhos pra proibir o aborto de anencéfalos e as pesquisas com células tronco, um casal de namorados em Niterói queria se casar mas o padre invocou preceitos da mesma igreja pra dizer não: o rapaz tem paralisia cerebral e a moça tem déficit de aprendizado; ou seja, um aleijado e uma retardada queriam casar, mas a moral religiosa q move mundos e fundos pra garantir o nascimento dum anencéfalo, q promove a caridade aos desafortunados, q quer ver toda e qqer trepadinha produzindo um novo ser humano, nem q seja um mal-amado e mal-alimentado vegetal semi-funcional a moral religiosa, digo, defende com unhas e dentes as vidas dos coitados mas se recusa a permitir q essas mesmas vidas sejam normais. Nascer, deve; viver na miséria, pode; casar, não deve; gerar, não pode. ¿¡¿Uééé?!?
Jesus manda o paralítico andar, mas é só até ali na esquina e volta. Nada de ficar paquerando as leprosas.
Mas as tradições têm um grave defeito. A ignorância das gentes antigas (ou caso vc seja crente de alguma religião a ignorância humana q Deus presumia nas gentes, ao sonegar informações preciosas naquelas revelações todas) foi inegavelmente uma forte influência na construção das tradições religiosas. [Já vai ter gente caindo de pau, dizendo q nas questões fundamentais da existência estamos tão porcamente na lama da ignorância hoje como antes. Mas qdo fala de ignorância, nosso enlevante doutor quer dizer ignorância sobre coisas práticas tipo "ferver água mata germes," "a terra é uma bola de 40mil km em volta, q gira em torno do sol," "qqer estrutura presente é historicamente determinada," "todo ser humano tem direitos inalienáveis," coisas desse tipo.]
A ignorância na origem das religiões resulta em limitações de vocabulário q, hoje, deveriam restringir a abrangência das aplicações da religião. É uma questão meramente combinatória.
Explico. Por conta dessa ignorância sobre o diminuto (micro-organismos, genes, elétrons) e o vasto (planeta, galáxias, universo) as tradições religiosas lidam forçosamente apenas com combinações triviais de problemas entre as gentes normais e numerosas tipo nascimentos, casamentos, mortes, negócios, traições, doenças, &c. Além disso, nos tempos bíblicos (ou védicos ou búdicos ou confúcicos ou muçúlmicos), havia muito menos gente do q hoje. A população MUNDIAL em, digamos, 15 de maio de 5 a.C. era de apenas uns 200 milhões, um trigésimo do q é hoje. Assim, havia logicamente menos variedade de experiências, e a pouca variedade q havia estava circunscrita entre extremos menos díspares. Um sujeito ia à guerra e via gente sendo degolada, queimada e pisoteada... mas nunca via ninguém explodir em mil pedaços ou virar pó em segundos; todos sabiam q havia um homossexual aqui e outro ali... mas nem se imaginava q milhares deles poderiam fazer uma festa numa avenida do tamanho duma cidade bíblica (a população de Jerusalém naquele mesmo 15 de maio era de 80mil; a parada gay de SPaulo na virada deste século teve cerca de 100mil). O mundo de hoje é pelo menos (!) trinta vezes mais complexo do q era qdo aqueles profetas profundamente provincianos enumeravam suas regras universais de convivência.
Com o vertiginoso acúmulo de conhecimento humano de uns quinhentos anos pra cá, a religião parece um andarilho numa selva à noite: ¡leva cada susto! Ela não sabe nem sequer como reagir: dá um fora atrás do outro, e só às vezes se desculpa. O conhecimento nunca pede desculpas: ninguém se sente culpado por saber alguma coisa.
Sesdias, houve um exemplo de como, deparando-se com possibilidades humanas dantes impensáveis, a religião reage às cegas. Ao mesmo tempo em q, em Brasília, a influência da igreja mexe os pauzinhos pra proibir o aborto de anencéfalos e as pesquisas com células tronco, um casal de namorados em Niterói queria se casar mas o padre invocou preceitos da mesma igreja pra dizer não: o rapaz tem paralisia cerebral e a moça tem déficit de aprendizado; ou seja, um aleijado e uma retardada queriam casar, mas a moral religiosa q move mundos e fundos pra garantir o nascimento dum anencéfalo, q promove a caridade aos desafortunados, q quer ver toda e qqer trepadinha produzindo um novo ser humano, nem q seja um mal-amado e mal-alimentado vegetal semi-funcional a moral religiosa, digo, defende com unhas e dentes as vidas dos coitados mas se recusa a permitir q essas mesmas vidas sejam normais. Nascer, deve; viver na miséria, pode; casar, não deve; gerar, não pode. ¿¡¿Uééé?!?
Jesus manda o paralítico andar, mas é só até ali na esquina e volta. Nada de ficar paquerando as leprosas.
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