07 abril 2010

Tão óbvio, não?

Sesdias, um ilustre leitor deste blogue disse "não há razões para se duvidar da sinceridade e honestidade do Chico [Xavier]."

Taqui uma:





Note o dedinho. Faça o teste.

04 abril 2010

Paz? Qual?

Nosso extremoso doutor há várias décadas prega no deserto da incompreensão interlingüística – o vasto ermo na travessia entre uma língua e outra, em q a semântica morre na implacável seca hipoplausivirótica. Tradutor ruim é uma das mais pestilentas espécies da ecologia humana: ignorante de sua própria infecção, pode infectar milhares, milhões, bilhões de outros invacinados. Muitos destes últimos, tbm ignorantes do vírus q lhes gororoba o cérebro, adicionam suas próprias hipoplausófias locais, contribuindo ainda mais pro amorfismo geral. Todo retrato vira o do menino choroso; toda história vira comédia romântica; toda notícia vira lição de vida.

Sendo hoje Páscoa, o Dr Plausível sai em defesa da Bíblia, tadinha, um dos textos mais deturpados por tradutores infectados e tendenciosos, e pelos seguidores mesmos das traduções, q as emendam pra acomodar suas próprias nebulosidades.

Veja por exemplo a versão de Eclesiastes 3:1-8 abaixo, com toda a cara de ter sido traduzida diretamente do inglês, essa língua tão bíblica qto o Pólo Norte:

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer;
    tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar;
    tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir;
    tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras;
    tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder;
    tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser;
    tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar;
    tempo de guerra, e tempo de paz.


Como se vê, já tem várias coisas q revisor bom mandaria de volta. ¿Tempo de arrancar o q se plantou? ¿Tempo de afastar-se de abraçar? ¿Tempo de perder? E ¿que hitória é essa de "tempo disto, tempo daquilo"? isso lá é português? E, pior, ¿que é essa coisa de "espalhar e juntar pedras"? O detector básico de hipoplausivírus já tocou o alarme aí. Mas antes de correjir os hérros vejamos a edulcoração q algum amador de olhos cor-de-rosa perpetrou numa versão q circula pela interneta:

Em vez de
Tempo de matar, e tempo de curar
colocou
Tempo de sentir saudade, e tempo de esquecer

Em vez de
Tempo de amar, e tempo de odiar
colocou
Tempo de amar, e tempo de sofrer

¿Não é de esbugalhar os olhos? Gugla, q vc acha.

Com o detector já chegando no "perigo: gargalhada", o doutor me encomendou uma nova versão, q foi por ele aprovada pra consumo judaico-cristão:

Tem hora pra tudo, e uma época pra cada atividade sob o céu:

Tem hora pra nascer e hora pra morrer,
hora pra plantar e hora pra capinar,
hora pra matar/abater e hora pra tratar,
(falando de animais de criação)
hora pra demolir e hora pra construir,

hora pra chorar e hora pra rir,
hora pra velar
(os mortos) e hora pra dançar,
hora pra apedrejar e hora pra juntar pedras,
hora pra abraçar e hora pra se afastar,

hora pra procurar e hora pra desistir,
hora pra guardar e hora pra jogar fora,
hora pra rasgar e hora pra costurar,

hora pra ficar quieto e hora pra falar,
hora pra amar e hora pra odiar,
hora prà guerra e hora prà paz.


De repente tudo fica tão mais claro, né? Eliminei toda aquela grandiloqüência troncha pra dizer coisas sem sentido... Note, nas versões tronhas, a edulcoração sistemática de palavras desagradáveis:

• MATAR > "sentir saudade"
• CAPINAR > "colher" (capinar = arrancar ervas daninhas)
• VELAR OS MORTOS > "lamentar"
• APEDREJAR > "espalhar pedras"
• DESISTIR > "perder"
• ODIAR > "sofrer"

Aposto q teu olho direito pulou qdo leu "apedrejar". Mas é a única tradução plausível. O texto já falou em demolir e construir, ¿por que falaria disso de novo? Outra possibilidade aventada seria ver 'pedras' como 'sementes', com 'espalhar pedras' = 'semear'; mas o texto já falou em plantar. Só resta o sentido de 'jogar pedras' = 'apedrejar'. Por outro lado, note como, após o preâmbulo, o poema é organizado como um soneto – por coincidência, é claro (o soneto como forma poética não existia, e separei os versos em estrofes artificialmente pra demonstrar a plausibilidade de 'apedrejar'):

• após o primeiro verso (q dá uma geral na vida: nascer e morrer) a primeira "estrofe" fala de administração duma propriedade rural
• a segunda fala de afecções pessoais e sociais
• a terceira fala de coisas materiais
• a quarta fala de harmonia e conflitos

Assim, pra manter o tom geral da coisa, o 'apedrejar' da segunda "estrofe" pode tar no sentido figurado de 'punir'. Igualmente, 'juntar pedras' pode ser 'recolher pedras', no sentido figurado ou de 'se desculpar' ou de 'relevar'; assim, eliminando a metáfora – mas ainda assim sacrificando o sentido original pra agradar às sensibilidades modernas –, a segunda estrofe ficaria:

hora pra chorar e hora pra rir,
hora pra velar e hora pra dançar,
hora pra punir e hora pra relevar,
hora pra abraçar e hora pra se afastar,


Muito melhor, hem? admite. Não é à toa q cobro os olhos da cara. (Mesmo assim, não fiquei contente. Pra apedrejar é preciso juntar pedras, não? Hm.)

Mas resta a pergunta: ¿não era pra ser "a palavra infalível de Deus"? ¿Que é q os crentes tão seguindo se deturpam as palavras e jogam as difíceis e as desagradáveis embaixo do tapete?

27 março 2010

Psicografado de outro blogue

Olha o q a patroa escreveu:

Sabem o que eu adoro? Esses médiuns que juntam platéia e ficam "estou ouvindo um ême... alguma coisa com ême... alguém aqui tem um ente querido, pode ser tio, pai, avô, filho, sobrinho, cachorro cujo nome começava com ême?". E uma senhora levanta emocionada "meu marido, Manovitch!" E o que ele ouviu foi o ême, não o itch.

HAHAHAHAHA

"Estou ouvindo um bê, um bê..." "Minha avozinha Bócia!" Novamente, não o ó. Mas ele acertou! "Isso, Bócia. Ela está me dizendo que faleceu com algum tipo de dor... uma dor no corpo... eu vejo o peito... talvez o coração, o pulmão..."

HAHAHAHAHAHA

Sabem o que eu adoro mais? Que, enquanto isso, haja outros médiuns que psicografam cartas e livros inteiros sem nenhum problema de fonética espiritual, chuvisco na imagem ou linha cruzada.

HAHAHAHAHAHAHA

E sabem o que eu adoro hors-concours? Que os médiuns do "estou ouvindo um ême" embolsem muito mais dinheiro que os outros com seu talento. Esse tipo de mediunidade paga mil vezes mais por caractere.

HAHAHAHAHAHAHA

Casei com a mulher certa.

23 março 2010

Ironies Inc. / Ironias S.A.

Trecho de Network. Na cena: Peter Finch e Ned Beatty; texto1 de Paddy Chayefsky.



Nosso euribático doutor tem tanta coisa pra se divertir nessa cena q ele nem sabe por onde começar.

Notem:
• a comparativa chinfrinice do português pra expressar idéias fortes em voz estentórea;
• q a estrutura do português tolhe a expressão de crescendos dramáticos de adjetivos em sintagmas nominais;
• q ela tolhe tbm a sucintez de sintagmas nominais só com substantivos;
• como as palavras portuguesas perdem expressividade com o deslocamento do acento tônico da raiz pro sufixo;
• q Network é de 1976; das 7 grandes firmas q o filme achou dignas de menção, só resta a Exxon entre as 10 maiores no mundo, mais a AT&T entre as 10 maiores nos Euá2;
• q agora em 2010 partes desse texto parecem tão ingênuas...; dizer q não existem povos é como dizer q não existe ferro: ambos são matérias-primas pros lucros empresariais; assim como fazem com ferro, as empresas pegam um povo e o derretem, fundem, forjam, moldam, vendem, usam, fadigam e sucateiam;
• q talvez algum dia não haja mais "nações e povos" no sentido usado aí, mas sempre haverá línguas;
• a leis intrínsecas (bylaws) q regem o comércio podem mudar duma hora pra outra, mas as leis q regem a cognição lingüística levam milhões de anos pra mudar.

Se vc quer vida longa pro português, mude-o: acÊntue as rÁizes, invEnte palAvras, sÍmplize a grÁmatica. Se não, já viu, né? Aliás, tá vendo.

Claro q é melhor deixar tudo como tá. O Dr Plausível não é bobo de se meter com gente armada.

-------

(1) Claro q sei q 'meddle with' não é 'se meter com'; e q 'price/cost' não é 'custo/benefício'; e outros detalhezinhos. Faço minhas traduções perguntando: "¿Como seria esse texto se tivesse sido originalmente escrito em português?"

(2)Entre as 100 maiores do mundo: Exxon (2ª), AT&T (29ª), IBM (45ª),
Entre as 100 maiores dos Euá: Exxon (1ª), AT&T (8ª), IBM (15ª), Dow (39ª), DuPont (77ª).
(Fonte.)

16 março 2010

Promoção de papelões

Tem dias em q nosso ebúrneo doutor já acorda dando risada. É verdade q esse fenômeno é facilitado por ele só acordar às 10 da manhã, qdo já se fez muita besteira no mundo. Mas mesmo assim, né, ¡10 da manhã...! O pessoal podia esperar até a tarde.

Desta vez foi pq uma conhecida ligou contando q é assinante do Estado e hoje entregaram o jornal dentro dum saco plástico junto com a edição da Folha, q ela não assina, numa promoção do Banco Santander. E o vizinho, q assina a Folha, recebeu tbm o Estado. O saco dizia:

"TOMAR DECISÕES LEVANDO EM CONTA MAIS PONTOS DE VISTA."

Ããã... supostamente querendo dizer q se vc lê esses dois jornais, vc pode tomar decisões mais abalizadas.

É mesmo, né, o Estado e a Folha são jornais SUPER diferentes. Nada a ver um com o outro.

HAHAHAHAHAHA

Se era pra ter pontos de vista diferentes, ¿por que não colocaram junto com a Folha o Libération ou o Guardian? Claro q não. Não pensaram nem n'El País, q é espanhol como o Santander.

Aliás, pô, se é pra tomar decisões levando em conta mais pontos de vista, então essa propaganda deveria promover tbm, sei lá, o BMG, o Banco Fibra ou o Banco Daycoval, né?

Leve em conta mais pontos de vista. Pergunte a um diretor do Itaú o q ele acha do Santander.

Hoje, aumentou consideravelmente o volume de lixo na cidade.

Cada uma, viu.

11 março 2010

Assunto intratável, proposta utópica, texto chato

Nosso enfático doutor não se mete na vida dos outros e tá longe de aconselhar qqer um a não ler traduções. Mas... tampouco se priva de aventar q a dependência brasileira de traduções é quase como uma placa de Petri prà disseminação do hipoplausivírus no populacho. Ser diariamente bombardeado por non-sequiturs, inconsistências, ilogicidades e birutices em filmes, livros, jornais e revistas não deve ser a melhor maneira de desenvolver o intelecto. Dá dó ver qta burraldice é enfiada na cachola do brasileiro médio q tá ali inocentemente tentando se divertir, se culturar ou se informar.

A idéia (proposta no texto anterior) de comitês produzindo traduções oficiais dos clássicos literários, respaldadas pelo Estado, jamais vingará, claro. Qdo muito, uma ou outra editora há de entender q suas traduções deveriam funcionar como funcionam artigos em revistas científicas: um cientista ou uma equipe de cientistas envia um artigo a uma revista e esta – q não é trouxa de publicar qqer coisa – envia o artigo pra ser revisado confidencialmente por vários outros cientistas; estes propõem mudanças ou até reprovam o artigo completamente, e ele só é publicado com o aval de todos.

Mas além dos grandes clássicos, há outro campo infestado de traduções deficientes – um campo q bem poderia oficializar suas traduções: os filmes. Do jeito q tá, é um caos. O filme passa nos cinemas com legendas. Aí uma emissora de tv aberta decide transmiti-lo e encomenda uma tradução pra dublagem. Meses depois, algum canal a cabo decide o mesmo e encomenda uma tradução pra legendagem. Aí outra emissora aberta quer passar o filme e encomenda mais uma legendagem. Aí ele é (ou era) lançado em vídeo e mais uma legendagem é feita. Aí é lançado em dvd, e mais uma. Aí aparece uma edição especial do filme com mais outra.

E cada nova legendagem ou dublagem tem sua própria plantação de abobrinhas.

Pensem no estúdio ou diretor ou produtor dum filme. Ele arregimenta centenas e centenas dos melhores profissionais diretos ou indiretos pra cuidar dos cenários, figurinos, equipamentos, maquiagem, sotaques, trilha sonora, efeitos especiais, &c &c &c, durante meses a fio, pra fazer um filme todo bonitinho; aí manda o filme pro Brasil e ele é traduzido numa semana por UM tradutor mal pago e metido a sabido, qdo muito tbm UM revisor pior pago, e os dois juntos se entregam a passar apenas a idéia principal dos diálogos, espatifando no caminho trocentos outros detalhes q vários profissionais antes deles se esmeraram pra deixar verossímil, q os atores deram o melhor de si pra enunciar convincentemente, q os técnicos de áudio fizeram faculdade pra gravar claramente. Claro q há tradutores excelentes; eu mesmo conheço dois tradutores absolutamente geniais (e q "coincidentemente" não se entregam às imbecilidades da NoCu; mas isso é outra história). Todos sabemos q são raros, tal como era raro achar água limpa 200 anos atrás. Num país culturalmente de joelhos como este, a qualidade da tradução deveria ser vigiada e regulamentada como questão de saúde mental pública.

E se vc fosse o produtor, ¿não iria querer controlar tbm as traduções? Todo lançamento de filme no Brasil – exatamente como faz a Microsoft com a tradução de seus programas – deveria ter a tradução afiançada pelo produtor original, bem paga por ele, com dublagem e legendagem feitas pela mesma equipe, sujeitas a melhorias futuras, e com a proibição de exibição com qqer outra tradução. O filme e sua tradução deveriam formar um pacote único.

¿Será q nosso exímio humanista tá exagerando? Acho q não. Agora vem a parte chata deste texto.

ESTUDO DE CASO:
Um bom exemplo do pobrema é My Fair Lady, baseado na peça Pygmalion, de G.B.Shaw. Uma das peças mais originais dum gênio teatral inglês foi musicada por dois gênios da Broadway; o musical foi transformado em filme por um grande diretor num dos maiores estúdios de Hollywood com um elenco de primeira; a produção custou 17 milhões de dólares e tomou 8-9 meses de intenso trabalho; ganhou 8 Oscars. No Brasil, virou quase uma rotina despedaçar o texto e seus inúmeros detalhes. Dentre umas dez ou mais traduções diferentes dessa peça ou filme, analisemos uma tradução de Pygmalion e quatro legendagens diferentes de My Fair Lady. Veja os códigos q vou usar:

MF: Tradução da peça, publicada em livro. A capa diz "Tradução de Millôr Fernandes". A contracapa faz esta hilariante declaração: "Neste livro Millôr Fernandes faz muito mais do que uma tradução. Enfrentando a enorme complexidade da obra de Shaw, Millôr adapta e recria, conseguindo a proeza de transmitir na íntegra o sabor e a genialidade do texto original." Sim, conseguiu a proeza de adaptar e recriar tudo aquilo no original cuja complexidade não entendeu. HAHAHAHA Excelente humorista, sofrível tradutor.
VID: Tradução pro videocassete.
TCN: Tradução pro Telecine, da tv a cabo.
DVD1: A primeira tradução pra dvd.
DVD2: A edição atual do dvd. A melhor tradução até agora. O tradutor, embora um pouquinho duro nas juntas, é inteligente e lúcido, e tem um amplo repertório em português. Mas MESMO assim não entendeu várias coisas no original.

Seguem-se APENAS os pontos mais baixos dessas traduções. É uma pequena amostra do problema – não só pq inclue apenas uns 30 minutos dum filme de 2½ horas, como tbm pq inclue apenas os erros mais sérios, exceto os da versão DVD2, da qual resolvi incluir *todos* os erros. Dou:

o original em fonte normal
a tradução com o problema em negrito
uma correção/sugestão minha em itálico
(uma breve explicação entre parênteses)

Omiti as inúmeras gargalhadas do doutor.

(prefácio) The English have no respect for their language, and will not teach their children to speak it.
MF: Os ingleses não respeitam sua língua, e não sou eu quem vou ensiná-la a seus filhos.
...e não ensinam seus filhos a falá-la.
(¿Que catso tava pensando o tradutor qdo se saiu com essa? ¿Que tem a ver com G.B.Shaw?)

(prefácio) ...he was squeezed into something called a Readership of phonetics there.
MF: ...ele acabou sendo lá espremido para uma coisa chamada leitura de fonética.
cadeira/curso de fonética
(Aqui o livro deveria ter incluído uma nota de rodapé, explicando o q é um 'readership' numa universidade britânica; um 'reader' é tipo um 'professor adjunto'.)

(prefácio) ...his pupils ...swore by him; but nothing could bring the man himself into any sort of compliance with the university...
MF: ...todos absolutamente dedicados a ele; mas nada podia fazer com que o homem em si se comprometesse em qualquer grau com a universidade...
...nada conseguiu fazer com q ele próprio aceitasse as regras e costumes da universidade...
(A questão posta é q Henry Sweet era indomável, não q era inconfiável.)

Mãe: What can Freddy be doing all this time? He's been gone twenty minutes.
Filha: Not so long. But he ought to have got us a cab by this.
MF: -Onde é que Freddy se meteu esse tempo todo? Saiu daqui há mais de meia hora.
-Que é isso? Não tem nem dez minutos. Está arranjando o táxi.
- (...) Saiu daqui já faz vinte minutos.
-Nem tanto. Mas já deveria ter arranjado um táxi.

(A mãe já sabe q Freddy foi buscar um táxi; não faz sentido a filha informá-la disso.)

(instrução de cena) He is a young man of twenty ... very wet around the ankles.
MF: É um rapaz de vinte anos, já com acentuada gordura na cintura.
...com a barra da calça toda molhada.
(A primeira cena se passa durante uma chuvarada, e a instrução diz como o personagem deve subir ao palco.)

Pickering: I'm afraid not. It is worse than before.
VID: Acho que não, está pior que no outono.
...está pior do q antes.
(O tradutor tirou o texto de ouvido, e entendeu "than in the Fall".)

Liza: I can change half-a-crown. Take this for tuppence.
DVD2: Eu troco meia coroa pro senhor. Leva essa, só dois centavo.
...Leva esta por dois pence.
(A tradução ignorou o sistema monetário britânico da época. Essa é uma mania relativamente recente de tradutor: fazer a conversão monetária.)

Liza: I'm a respectable girl, so help me.
DVD1: Eu sou uma garota de respeito, ajude-me.
...meu Deus.
("So help me" é uma contração de "so help me God" ou "swelp me God": valha-me Deus.)

Homem: You be careful: give him a flower for it.
DVD2: É melhor tomar cuidado ou até mesmo lhe dar uma flor.
Cuidado: entrega um flor pra ele.

Liza: Oh, sir, don't let him charge me, you dunno what it means to me.
TCN: Não façam queixa! Sabem o q acontece.
Seu moço, não deixa ele me autuar. É muito importante pra mim.
(O 'it' em "what it means to me" se refere a sua liberdade de vender flores. Em português, fica infra-subentendido.)

Liza: They'll take away me character and drive me on the streets for speaking to gentlemen.
VID: Não fiz nada, falem com o cavalheiro.
DVD2: Vão manchar minha honra e me largar na rua só por falar com cavalheiros.
Vão me tirar minhas referências e me obrigar a mendigar, só por ter falado com gente fina.
(Um 'character' era mais ou menos o q no Brasil se chama de 'referências', só q oficial, e permitia aos pobres trabalharem na rua sem risco de serem presos por vadiagem.)

Homem: It's all right: he's a gentleman: look at his boots.
MF: Ele quer te ajudar, ouve ele. É um doutor, não tá vendo? Olha só as bota dele.
Não tem problema. Ele é um grão-fino.
(Higgins não quer ajudar ninguém, nunca. E sim, eu sei a NoCu diz q é 'grã-fino'; mas o personagem não saberia.)

Liza: On my Bible oath, I never spoke a word.
VID: Não sou imbecil, não disse nada.
DVD2: Garanto, nunca falei nada de mau.
Juro por Deus q eu não disse nada de mais.
(Todo mundo acha q 'never' quer dizer 'nunca'; na verdade, quer dizer 'em nenhum momento'. "I never saw him yesterday." quer dizer "Não o vi em nenhum momento ontem.")

Homem: Blimey, he's a blooming busybody.
VID: Credo, isso daria um negócio e tanto.
Credo, esse cara é um enxerido da peste.

Liza: Let him say what he likes. I don't want to have no truck with him.
MF: Deixa ele falar o que bem quiser – eu não quero é encrenca.
Não quero nem saber desse cara.

Pic: May I ask, sir, do you do this for your living at a music hall?
Higgins: I've thought of that. Perhaps I shall some day.
MF: Sabe que eu nunca pensei nisso? Mas não é uma má idéia.
Já pensei nisso. Talvez faça, um dia.
(Senso de humor, please.)

Pic: Is there a living in that?
Hig: Oh, yes. Quite a fat one.
DVD: -Serve para alguma coisa?
-Sim.
-Dá pra viver disso?
-Ah, sim. Fartamente.

(Esse é exatamente um dos pontos q G.B.Shaw tava frisando nessa peça.)

Hig: Woman! Cease this detestable boohooing instantly; or else seek the shelter of some other place of worship.
MF: Ô mulher, pára com essa choradeira estúpida, pelo amor de Deus! Ou então vai chorar noutro abrigo, noutro altar, noutro diabo que te carregue.
Mulher, pare com essa choradeira insuportável agora mesmo, ou então vá buscar abrigo em outro templo.
(A cena inicial se passa no pórtico da igreja de São Paulo, em Londres, durante uma chuvarada.)

Hig: Remember that you're a human being with ... the divine gift of articulate speech.
TCN: Lembre-se de q é um ser humano com ... o dom divino da palavra bem pronunciada.
...o dom divino da fala.

Hig: ...don't sit there crooning like a bilious pigeon.
MF: ...não fica grunhindo como um porco que acabaram de castrar.
VID: Não arrulhe como um pombo da Bíblia.
...não fique aí resmungando tal como uma pomba irritada.

Hig: I could pass you off as the Queen of Sheba.
DVD: Faria você passar pela rainha de Sheba.
DVD2: Poderia fazer com que a tomassem pela rainha de Sheba.
Eu conseguiria fazer vc parecer a rainha de Sabá.

Liza: You ought to be stuffed with nails, you ought! Take the whole blooming basket for sixpence.
MF: U sinhô dirvia sê rechiado de chumbu dirritido. (...)
DVD1:Você deve ter um coração de pedra, deve sim! (...)
DVD2: (...) Leva a porcaria da cesta por seis centavos!
Seu mão-de-vaca, pão-duro, unha-de-fome! Leva a cesta inteira por seis pence.
(Liza tá acusando Higgins de sovinice; mas a frase dela é farsesca e exagerada.)

Homem: The missus wants to open up the castle in Capri.
DVD2: A senhorita quer construir um castelo, em Capri.
A madame quer passar o inverno em seu castelo em Capri.
(A madame supostamente já teria o castelo. Durante o resto do ano, ele ficaria desocupado e fechado.)

Liza: Lots of coal making lots of heat.
DVD2: Montes de carvão no fogão
Montes de carvão pra me aquecer.
(Nada a ver com cozinha.)

Liza: I would never budge till spring crept over me window-sill.
TCN: Eu não me mexeria até a primavera, debruçada no parapeito da janela.
DVD2: Sem nem um dedo mexer até a primavera, pendurada na janela.
Eu não me mexeria até a primavera entrar pela janela.
(Liza tá se imaginando confortavelmente instalada numa poltrona durante o inverno.)

Pic: Must I? I'm quite done up for one morning.
DVD2: Será preciso? Acho que estou bastante confuso para uma só manhã.
Preciso mesmo? Já tou muito cansado / Já foi demais pra uma manhã.

Hig: Oh, that's all right, Mrs. Pearce. Has she an interesting accent?
Mrs Pearce: Oh, something dreadful, sir, really. I don't know how you can take an interest in it.
MF: -Oh, está tudo bem, madame Pearce. É engraçada, a pronúncia dela?
-Uma coisa verdadeiramente horrorosa, para o meu ouvido. O que significa que o senhor vai achar maravilhoso.
Uma coisa pavorosa. Mesmo. Não sei como o sr. pode se interessar por essas coisas.
(Ninguém chamaria a própria empregada/governanta de 'madame'. Além disso, MF entendeu Dª. Pearce exatamente errado.)

MsP: I should've sent her away, only I thought perhaps you wanted her to talk into your machines.
VID: Deveria tê-la mandado embora (...)
TCN: Devia tê-la despachado (...)
DVD1: Eu devia tê-la mandado embora (...)
DVD2: Deveria tê-la dispensado, mas pensei que, talvez o senhor quisesse fazê-la falar na sua máquina.
Eu a teria mandado embora (...)
(A rigor, shall/should é a 1ª pessoa de will/would; a linguagem de Dª. Pearce é super formal, e ela fala ãã... "corretamente".)

Hig: ...and then we'll get her on the phonograph so that we can turn her on whenever we want.
VID: ...e, depois, para o fonógrafo para poder transformá-la no que quiser.
...ligá-la qdo quisermos.

Liza: Oh, we are proud. Well, he ain't above giving lessons, not him. I heard him say so.
DVD1: Estamos orgulhosos. Bem, ele pode ensinar. Eu ouvi ele dizer isso.
Oh, que nariz empinado. Mas ele não é tão fino q não possa dar aulas. Ele mesmo disse.

Hig: Should we ask this baggage to sit down?
Liza: I won't be called a baggage when I've offered to pay like any lady.
MF: Num mi chama di troxa, não. Eu num qüero. Eu poussu pargá como quarqué madama.
¿Por que me chama de mala se tou querendo pagar q nem qqer madame?
(A entonação meio chorosa de Liza ao dizer isso aceita a transformação pruma pergunta.)

Liza: I thought you'd come off it for a chance of getting back a bit of what you chucked at me last night. You'd had a drop in, hadn't you, eh?
VID: (...) Está interessado, não?
TCN: (...) Q golpe de sorte, não?
DVD1: Pensei que você não me daria a chance de lhe devolver um pouco do que você atirou em mim, ontem. Agora eu te peguei, hein?
DVD2: (...) Já ficou mais interessado, hein?
Eu sabia q vc ia deixar de manha pra tentar reaver um pouco do dinheiro q me deu ontem. Vc tava meio mamado, ¿não tava?

Hig: [peremptorily] Sit down.
Liza: If you're going to make a compliment of it...
VID: Esqueceu de me cumprimentar.
Se vc fosse mais educado...
(Liza tá sendo um pouco sarcástica aí.)

Liza: A lady friend of mine gets French lessons for eighteenpence an hour from a real French gentleman.
DVD2: Uma amiga minha faz aula de francês e paga 18 centavos por hora para um francês de verdade.
Uma amiga minha tem aula de francês com um francês legítimo e paga só 18 pence a hora.
(A estrutura do original é "gets lessons from somebody", mas o tradutor estruturou como "paga dinheiro pra alguém", criando uma confusão entre 'francês' a língua e 'francês' o professor.)

Hig: Remember: that's your handkerchief; and that's your sleeve. Don't mistake the one for the other if you wish to become a lady in a shop.
MsP: It's no use talking to her like that, Mr. Higgins: she doesn't understand you. Besides, you're quite wrong: she doesn't do it that way at all.
MF: Além disso, o senhor está completamente enganado: ela sabe usar um lenço muito bem.
Além disso, o sr. errou aí: não é assim q ela assoa o nariz.
(Dª. Pearce quer dizer q Liza não limpa o nariz na manga: ela assoa o nariz com o dedo, espirrando a meleca no chão.)

Pic: You're certainly not going to turn her head with flattery, Higgins.
MsP: Oh, don't say that, sir: there's more ways than one of turning a girl's head; and nobody can do it better than Mr. Higgins, though he may not always mean it.
MF: -Acho que com essa espécie de lisonjas, você não vai mudar o comportamento dela, Higgins.
-Não aposte nisso, coronel. Ninguém sabe ser mais lisonjeiro do que o professor, mesmo quando faz tudo ao contrário.
-A moça certamente não vai ficar fascinada com tuas lisonjas.
- (...) Há muitas maneiras diferentes de fascinar uma moça; e ninguém consegue fazer isso melhor do q o sr. Higgins, embora nem sempre seja essa sua intenção.

(Dª. Pearce quer dizer q Liza corre perigo de se apaixonar por Higgins, até com ele tratando-a mal.)

Hig: What is life but a series of inspired follies?
MF: Que é a vida senão uma tentativa de organizar a loucura?
¿Que é a vida senão uma série de loucuras inspiradas?
(Aqui, foi Higgins q MF entendeu exatamente errado.)

Pic: What about your boast that you could pass her off as a duchess at the Embassy ball?
DVD2: O que me diz de sua aposta, de que poderia fazê-la passar por duquesa no baile da embaixada?
...bravata...
(A aposta não surgiu ainda; e quem faz é Pickering, não Higgins.)

Hig: We want none of your slum prudery here, young woman.
DVD1: Não queremos aqui o seu palavreado miserável, mocinha.
...puritanismo de favela...

Hig: What's the matter?
MsP: Well, the matter is, sir, that you can't take a girl up like that as if you were picking up a pebble on the beach.
MF: -O que foi que eu fiz?
-Bom, professor, acho que não se deve tratar uma moça sensível como essa como quem chuta uma bola de papel na rua.
-Qual é o problema?
-O problema é q não se pode catar um moça assim, como se ela fosse uma pedrinha na rua.

("Uma pedrinha na praia" seria entendido diferentemente no Brasil; é sabido q as praias inglesas têm mais pedrinhas do q areia.)

MsP: And what is to become of her when you've finished your teaching? You must look ahead a little.
Hig: What's to become of her if I leave her in the gutter? Tell me that, Mrs. Pearce.
MsP: That's her own business, not yours, Mr. Higgins.
Hig: Well, when I've done with her, we can throw her back into the gutter; and then it will be her own business again; so that's all right.
MF: -E quando o senhor terminar o curso, o que será feito dela? Acho que devemos prever isso.
-A senhora já previu o que vai acontecer com ela se eu a deixar na sarjeta? Me diga, madame Pearce.
-Isso não é responsabilidade sua, me parece.
-Bem, quando terminarmos as lições só temos uma coisa a fazer: jogá-la de volta na sarjeta. Também não será responsabilidade minha, me parece.
• (...) -O sr. precisa pensar no futuro.
(...)
-Isso é problema dela, não seu, sr. Higgins.
-Bom, qdo eu terminar com ela, podemos jogá-la de volta à sarjeta, e aí será problema dela novamente; então dá na mesma.


Hig: ...do any of us understand what we are doing? If we did, would we ever do it?
Pic: Very clever, Higgins; but not sound sense.
MF: Muito interessante, Higgins, mas não no presente momento.
Muito esperto, Higgins; mas não muito sensato.

Liza: I won't let nobody wallop me.
VID: Não deixarei ninguém me embrulhar.
Não vou deixar ninguém me surrar.
(Liza jamais diria "não deixarei".)

Ok. Vamos parar por aqui. Tem mais duas horas de filme. Triste, não?

05 março 2010

As plagas do plágio

Sesdias, nosso eremófilo filantropo desempapuçou um buncho rindo qdo leu do causo do editor e da blogueira.

aiaiai

Primeiro, o editor em pauta copiou quase verbatim uma tradução já existente e publicou como sua – e nem nisso foi original, já q plagiar traduções fora de catálogo é prática comum nestas plagas tãão criativas. ¿Pra quê falsificar dinheiro se é tão mais fácil falsificar o suor da testa, né? São só umas letrinhas: em vez de "tradução de Sicrano Silva", põe aí "tradução de Beltranus Bunda".

aiaiaiai

A atenta blogueira – q há anos denuncia plágios de traduções – demonstrou mais essa trapaça, como mera rotina. As editoras plagiam traduções, as livrarias desinformadas vendem, os leitores insuspeitantes compram, a blogueira lista mais uma falcatrua, e a vida continua.

Mas não subestimemos o hipoplausivírus. O mesmo vírus q fez aquele editor não achar nada de errado numa tradução sofrível, nem nada de errado em plagiá-la, tbm fez o editor... aiaiaiai... ¡¡processar a blogueira q o havia denunciado!!

HAHAHAHAHAHAHA

O Instituto de Plausibilática de Tallinn acaba de conceder à blogueira o Prêmio Plausível – 10 mil kudos e um linque neste blogue – por seu denodo e pertinácia em diagnosticar focos de hipoplausibilose patife.

Mas...
(lá vem bomba)
...nosso expandinte doutor tem olhos na nuca, e sua visão panorâmica já ganhou vários festivais. O buraco é mais abaixo. O doutor tá cada vez mais afeito à idéia de q cada obra estrangeira – livro, filme, o escambau – deveria ter apenas UMA tradução brasileira, oficialmente reconhecida pelo Estado e talvez periodicamente melhorada. ¿O original de La Divina Commedia não é apenas UMA obra, imutável em sua língua natal, escrita por um gênio literário? ¿Por que é q o público leitor brasileiro tem q ser atacado por várias versões, com chumbreguice variando de 0 a 10? Se ninguém pode alterar o texto original do Don Quijote, ¿por que temos várias versões em português, com diversos níveis de entendimento? Se Hamlet é produto dum cérebro reconhecidamente genial, ¿por que se contentar com o produto dum único tradutor nem tanto, amiúde muito pelo contrário? Se tanto brasileiro com talento literário prefere ou é obrigado a não ter produção própria, se o Brasil tá soterrado sob a avalanche de produções estrangeiras, esperando q num futuro hipotético as plantinhas brazucas subam à superfície e vejam a luz do dia ¿por que não fazer traduções colaborativas, de modo q A peça Tartuffe seja no Brasil A peça Tartufo e fim de papo? ¿Pra que ficar punhetando sobre as várias possibilidades da tradução? Catso, se o próprio Molière tivesse começado a escrever a peça um mês antes ou depois, ela teria ficado diferente. ¿Por que não fazer UMA tradução oficial, e bola pra frente?

Essa idéia parece tonta, né? Mas decheu fazer mais perguntas. ¿Que fariam as editoras brasileiras se não houvesse tanto material pra traduzir e plagiar? ¿Que fariam com tanto papel disponível nas matas brasileiras?

A enormidade do volume de traduções diferentes da mesma obra e de plágios de traduções é mais um sintoma do q uma doença. Mostra q muitas editoras simplesmente DESISTEM de produzir idéias novas; mostra q muitos textos estrangeiros já vêm com pedigree presumido, q desbanca por default boa parte da produção brasileira possível; mostra q – e esta é a principal questão aqui, sobre a qual o diagnóstico do Dr Plausível repousa – mostra q dezenas de milhões de brasileiros ficam diariamente à mercê das falhas e lapsos de tradutores individuais, em vez de se exporem à inteligência e coerência dos originais (por algum motivo os originais dão azo a traduções, não?).

A imutabilidade dos originais não é apenas textual. Tbm é imutável o histórico de sua influência. Shakespeare, Cervantes, Moliére, Goethe &c &c &c &c &c são eles mesmos monolitos imutáveis, pilares da cultura universal. ¿Por que então a areia movediça das traduções, a loteria da competência? A Academia Brasileira de Letras deveria, pra variar, fazer algo q prestasse e patrocinar comitês de traduções oficiais – ou imutáveis ou periodicamente melhoráveis – pra trazer ao público brasileiro a inteligência e a arte dos figurões reduzindo ao mínimo os descuidos e gafes aleatórias de tradutores individuais. É o reconhecimento de q, se os gênios do passado são imutáveis e aguçam a inteligência e a sensibilidade da cultura, então o povo brasileiro deve ser exposto à melhor versão de sua influência. Assim talvez se incentivasse o brasileiro a tentar algo mais do q copiar, traduzir e plagiar.

Desnecessário dizer q as traduções oficiais acabariam com os plágios automaticamente.

Mas... ¿a expectativa de q algo assim venha a acontecer algum dia, no Brasil ou em qqer outro país? Nenhuma. Tou aqui só tagarelando.

02 março 2010

A.C.Grayling

Se vc tem a sorte de entender inglês, procure no YouTube qqer coisa ou tudo com esse cara, cujo mais destacado título é um diploma Honoris Causa pelo Instituto de Plausibilática de Tallinn, além de outras quinquilharias de algumas universidades inglesas. O exterior de seu crânio leva uma tatuagem com o Selo de Imunidade Dr Plausível.

01 março 2010

Abaixa aqui

Já faz anos q a padaria da esquina é o único lugar em q nosso esplendente doutor vê uns minutos de tv, qdo vai comprar pão. Vodzeumacoisaprocês, viu: olha... Gente nostálgica é sempre enfadonha. Mas é 19 vezes menos enfadonha do q gente moderninha, essa espécie q não consegue ficar em silêncio, não concebe ter uma padaria onde as pessoas fiquem olhando os pães, tortas e guloseimas. Agora a moda é colocar, ao lado dos pães, uma tela onde fica passando propaganda. ¿Já viram a excrescência? Aí tava lá nosso exímio humanista, olhou pra tela de remelas mentais e...

Passou um anúncio dum tal de MiniBis – q é um copo com uns chocolatinhos dentro. O sujeito tá em pé no metrô, abre um copo de MiniBis, pega um, enfia na boca, a luz no vagão pisca, aí volta, e o cara tá segurando um lindo abacaxi. Supostamente, algum outro passageiro roubou seu doce e colocou no lugar a fruta. O eslôgã: "Desconfie de todos."

Veja o filminho:



Aiaiai.

Isso q dá ignorar as lições, os tratamentos, a extensa farmacopéia contra o hipoplausivírus. Pq, vejam bem, o anúncio tá quase dizendo q o MiniBis equivale figurativamente a um abacaxi.

HAHAHAHAHAHA

Alguns dirão q não – q esse é justamente o ponto do anúncio: q o MiniBis NÃO é um abacaxi. Mas além do sentido figurado, o abacaxi tem um sentido concreto: e, ¿quem é q prefere um copo de MiniBis com 150g de química a um saudável e suculento abacaxi de meio quilo? ¿Será o mesmo pessoal moderninho?

E aí vem o coup de grâce: "Desconfie de todos."

Ah, legal, falou, jóia, viu?

HAHAHAHAHAHA

¿Será q o publicitário q se saiu com essa conseguiria achar uma mensagem menos cretina, menos paranóica, menos egoísta, menos doente, menos moderninha?

28 fevereiro 2010

Grande Promoção Hepática

Em seu programa dominical de hoje, a vespa, digo, a bispa Sônia anunciou aos berros q todos os problemas hepáticos da platéia seriam curados. Ou seja, Deus resolveu q hoje é dia de curar fígados.

HAHAHAHAHAHAHA

Tipo, Deus, não achando nada melhor pra fazer num domingo à tarde, lançou a

Promoção Fé e Fígado
(hepatite A, B, C, D e E, cirrose, hemocromatose, estelionatose, câncer e outras afecções)
¡¡Exclusivamente hoje!!
A partir de amanhã, teu fígado é por tua conta.

*Promoção válida até as 24hs.
Não inclue afecções da vesícula biliar.


Estranhamente, durante sua imprecação a vespa invocou Deus "em nome de Jesus".

¿¡¿Ué?!?

¿Como é q se aciona a entidade suprema em nome duma entidade secundária?

A explicação oficial mencionaria a Santíssima Trindade, &c. Mas... mas... o 3-em-1 foi inventado em Roma no século III ou IV, não aparece em lugar nenhum da Bíblia, &c. Então ¿que catso? Pra coletar bufunfa, ¿não precisa fazer lição de casa?

É, eu sei, eu sei...

27 fevereiro 2010

A média e a mídia

Pô, sesdias, ao falar da onda de calor, incontados jornalistas incluíram a informação gravíssima de q a temperatura tava "acima da média" e até "muito acima da média". A frase surge no noticiário, e milhões de leitores, ouvintes e espectadores passam o dia comentando:

"¿Vc viu o q deu no jornal?
"¡O calor tá acima da média!"
"¡Nossa virgem santa...!"
"Eu já tava desconfiando. O calor não tá normal."
"É pq ele tá MUITO acima da média."
"¿Qdo é q isso vai acabar, meu Deus?"

(Ãã... ¿no outono?)

A arte de falar muito sem dizer nada era a especialidade do saudoso Cantinflas:



No volume 37 de sua chatíssima obra A inumerência e a hipoplausibilose: estatísticas, crenças e acasos, nosso esmiuçante doutor demonstra q a origem de todas as superstições, religiões, crendices, mitos, pseudociências e outras confusões reside no espanto hipoplausibilético com a informação de q algo tá "acima (ou abaixo) da média".

Ô, coração, 50% de TODOS os fenômenos tão acima da média, e os outros 50% tão abaixo. 25% tão MUITO acima da média, e 25% tão MUITO abaixo. É isso q quer dizer 'média'. E ¿é notícia q se preze dizer q algo tá "acima da média" e assustar o coitado do povo desse jeito?

Notícia é algo do tipo:

Média de temperaturas tem subido (verdade)
Preço da média caiu 50% em metade das padarias (mentira)
Temperatura da média subiu 30% nos últimos 20 anos (verdade)

07 fevereiro 2010

Por ocasião do calor

Qdo nosso emanente doutor era criança e viajava aos quatro cantos da casa com um livro nas mãozinhas devidamente limpas do barro com q brincava na rua, seu precoce faro pro hipoplausivírus... nunca foi notado, nem por ele mesmo. Mas o faro tava lá, trampando nos bastidores.

Sesdias, reminiscendo a aurora de sua vida, lembrou-se dum de seus primeiros diagnósticos. Na época, só não lhe rendeu uma gargalhada pq ainda não tinha dados pra perceber o padrão da hipoplausibilose.

A infecção foi numa fábula de Esopo chamada O Vento e o Sol. Tava lá o Vento matando o tempo numa calmaria, batendo papo com o Sol, qdo surgiu a dúvida de qual dos dois era mais foderoso. Resolveram fazer uma aposta: vendo numa estrada um caixeiro-viajante vestindo um casaco, decidiram q quem conseguisse arrancar o casaco do cara venceria a disputa. O Vento soprou, rugiu, vendavou, furacou, e qto mais tentava, mais o cara segurava o casaco. Fracasso total. Aí foi a vez do Sol; ele saiu de trás duma nuvem, esquentou, calorou, esturricou... até q o próprio caixeiro-viajante não agüentou mais e tirou o casaco pra se refrescar. Moral da história: mais vale o jeitinho q a força bruta. Ou: mais vale a persuasão q a prescrição. Coisas do tipo. Procure na internet e verá qtas edificantes lições de moral tanta gente consegue extrair dessa fábula tão criativa, tão bonita, tão valiosa, tão antiga, tão... tão...

"Mas peraí," disse o doutorzinho, "¿que porra é essa? Chama o juiz aí. Nenhum dos dois ganhou a aposta. ¿Como é q deixam passar essa clara corrupção da verdade, esse desvirtuamento da ética, essa adulteração ideológica como se fosse uma Lição de Moral? Era pra ver quem conseguia ARRANCAR o casaco do cara, não quem conseguia fazer o próprio cara tirar. ¿Que merda de lição tão querendo q eu engula? q basta ser espertinho? q se vc não faz o requerido mas faz algo inesperado q diverte o populacho, então vai se dar bem? ¿Que catso? Aliás, ¿que jeitinho é esse? Se me dizem na escola q só existe vento pq o sol determina o clima, então já era batata q o sol ia ganhar. Então pra conseguir as coisas ¿só é preciso ter poder, usando travestis de vitórias pra engabelar os trouxas q se embriagam de água-com-açúcar? E ¿é pra acreditar em quem, então? na professora, ou neste livro? Vou dizer uma coisa pra vcs, viu, essa coisa q chamam de vida não tá me cheirando bem."

É, às vezes o doutor era meio chatinho. É q os jovens levam tudo tão a sério, né?

06 fevereiro 2010

Haiti dor, seu doutor*

*Essa doeu, hem?

Tem umas coisas de q nosso eréctil doutor tem até vergonha de gargalhar; mas qdo gargalhar faz-se mister, gargalha.

Foi assim qdo soube em primeira mão q nalgumas igrejas evangélicas...

(êi, peraí, ¿por que isso agora de espezinhar os evangélicos? falta de assunto?
Calma lá, cara-pálida; tem pra todo mundo.)

Como ia dizendo, qdo ele soube em primeira mão q nalgumas igrejas evangélicas do Brasil tinha pastor dizendo bem-feito pro povo do Haiti, q agora tava colhendo um fruto amargo por ter feito uma pacto com o demônio ãã...
hahaha
lá por volta de 1800, pra q ele ãã...
hahaha
expulsasse os franceses e... e...

HAHAHAHAHAHAHA

(Ô, meu, manera no gargalho aê. Pelo efeito borboleta, daqui a pouco tem outro terremoto lá.)

¡Olha...! O hipoplausivírus tá fazendo a festa no cérebro dessa gente, viu, vou tí contar.

Pastor em igreja evangélica **brasileira** dizendo uma coisa dessas certamente tá repetindo o q ouviu algum euaense falar. Procura-q-procura, e acha-se: Pat Robertson, pastor batista caquético biliardário. No dia seguinte ao terremoto, disse q com certeza 100 mil pessoas haviam morrido lá pq 200 anos atrás a independência do Haiti (o levante de escravos haitianos contra o jugo francês) só aconteceu pq teve uma ajudinha de Satanás – q veio agora cobrar a dívida.

HAHAHAHAHAHAHA

Pat Robertson é o mesmo tronho q em 1994, fingindo enviar ajuda durante o genocídio em Ruanda, usou seus aviões pra enviar equipamento a suas minas de diamantes na Libéria. O cara tem o MAIOR respeito pelos negros... No fundo, o q ele disse, e o q o pastor brasileiro repetiu, é q o terremoto aconteceu por culpa dos próprios haitianos. Ou seja, um abalo sísmico periódico COMPLETAMENTE natural provindo das profundezas da Terra é não só causado por humanos, mas
humanos de 200 anos atrás. Isso é q é poder, hem? E mais: o tsunami na Indonésia, o maremoto em Nova Orleans e o terremoto no Haiti, são indícios do final dos tempos, e Jesus tá flagelando os centros de paganismo e iniqüidade pra avisar os últimos incrédulos antes q seja tarde demais. ¿Por que outro motivo essas catástrofes coincidiriam com a época de Natal?

Mas peraí. ¿Não era Satanás?

HAHAHAHAHAHAHA

¿Que será q um hipoplausibilético desse tamanho faria com a informação de q TODO DIA acontecem uns 30 terremotos neste planeta?

Veja o registro dos últimos sete dias, atualizado diariamente.

¿Ou com a hipótese de q mais catástrofes acontecem perto do Natal pq em janeiro a Terra tá não só mais próxima ao Sol como tá se movendo mais rápido no espaço?

Ou ¿que será q essa besta faria com a interpretação de q esses flagelos naturais matam tantos pobres e não-cristãos pq os cristãos ricos reservaram pra si os lugares mais estáveis do planeta? (Oquei, exagerei, mas vcs entenderam.)

E aí, uma bestinha daqui (e certamente muitas outras em outros países) papagueia e macaqueia a besta de lá, e ficam os dois se achando grandes reveladores de verdades secretas.

Só q um é mais besta q o outro, não?

30 janeiro 2010

A NoCu e seus protuberantes

A interneta tem coisas engraçadíssimas. Sesdias, fiquei encafifado com a palavra 'dinossáurico', q eu nunca havia ouvido antes de minha digníssima patroa proferi-la – e até achei q poderia ter sido cunhada por ela mesma. Guglando, descobri um textículo dum cara de quem nunca havia ouvido falar (acho q articulista da Veja) tirando sarro da Dilma Rousseff – de quem até o ano passado eu nunca havia ouvido falar – pq ela havia usado 'dinossáurico' numa entrevista de rádio dezembro passado:

Nenhum neurônio (1)
“Planejar era algo dinossáurico”.
(Dilma Rousseff, em entrevista à Jovem Pan nesta segunda-feira, abrindo a semana decidida a mostrar que o Brasil tem a chance de, pela primeira vez na história da República, ser simultaneamente presidido por uma mulher e governado por uma cabeça virgem.)

Leia os comentários aqui.

Ora, vcs tão aqui lendo o Dr Plausível, certo? Já conhecem a figura. ¿O q é 'dinossáurico' perto de outras palavras necessaríssimas cunhadas neste blogue – tais como 'interessância' e 'indesconfundintizabilidade'? ¿O q é uma palavreca bem humorada pralguém q milita abertamente pela complexificação do parco vocabulário semântico do português?

Mostrei o sarcasmo do cara a nosso épico doutor. Ele teria deixado quieto; mas qdo sujeitos como esse articulista e seus comentadores fazem uma cruzada pra transformar a NoCu em partido político, eles ficam tão mas tão hilariantes q o doutor até faz pipoca pra ficar lendo suas aleivosias contra a inteligência mesma q eles acham q promovem. Descobre-se q existe todo um movimento pra sarcasmizar a fala da ministra – q tbm, tadinha, não é flor q se cheire.

Aí o doutor me ditou o comentário abaixo, q enviei lá pro cara:

Perdoe a franqueza; mas, pela evidência do q li aqui, é mais provável q faltem neurônios em vc e nessas outras pessoas q aqui declaram ver indício de burrice na fala da ministra. Não tenho nenhuma simpatia pela ministra, mas acho q quem demonstrou comando de seus neurônios foi ela. É assim q se constróem palavras: derivando. Se ela tivesse querido dizer apenas ‘jurássico’ ou ‘mastodôndico’, teria dito ‘jurássico’ ou ‘mastodôntico’. O q fez foi um bem humorado amálgama dos dois significados metafóricos subjacentes. Entendê-los juntos na mesma palavra – tal como entender o humor sofisticado – requer, como se sabe, inteligência.

A quem se acha culto sem sê-lo, é comum a pequenez de inferir ignorância ou burrice no uso livre e bem humorado da língua. Evidência de burrice é vossa pontuação da citação: colocou as aspas finais antes do ponto, qdo este obviamente é parte da citação.

Ironicamente, vê-se q os auto-denominados “cultos” adeptos do liberalismo &c tbm defendem estupidamente a ditadura da ABL, o autoritarismo dos dicionários (achando q ali se encontram TODAS as palavras possíveis e aceitáveis da língua), e os planos quase-qüinqüenais das reformas ortográficas – marca registrada de seu sangue de barata ou, conforme o caso, de suas tendências autocráticas.


Nosso emoliente terapeuta escreveu isso com a mais digna intenção de auxiliar na cura dum cérebro em delirium tremens hipoplausibilis, e em parte esperando mesmo q NÃO fosse publicado pelo paciente, pra q assim se comprovasse o conteúdo do comentário. ¡E não é q não foi mesmo! Mas o mal-agradecente nocuísta retorquiu com "Não me perdoe a franqueza: pela evidência do q li, ordeno que caia fora."

HAHAHAHAHAHAHAHA

¿Isso é lá um agradecimento cabível? Olha, vida de terapeuta não é bolinho, viu?

É pipoca.

21 dezembro 2009

Habeas copas

Se vc, leitor, tem sentido falta de textos longos, erráticos e irrelevantes, leia a resenha de nosso eviscerante doutor na Copa de Literatura Brasileira.

24 novembro 2009

A ideo-ilogia do ideólogo

Há pessoas praticamente imunes ao hipoplausivírus; mas às vezes mesmo nelas ele causa uma febrinha de qdo em vez.

Um desses episódios febris é qdo o vírus se manifesta através da crença de q todo texto humano – e extrapolando, toda ação humana – tá incluído numa ideologia. O sintoma principal dessa afecção é reclamar de pessoas q não atribuem suas ações e/ou palavras (ou algumas de suas ações e/ou palavras) a uma ideologia. O tratamento se faz demonstrando os limites daquela generalização. Dizer q a ideologia tá em todo lugar, inclusive na pessoa q nega ter ideologia, é como dizer q o ateísmo tbm é uma crença. ¿Como é q pode a AUSÊNCIA de crença ser uma crença? ¿Como pode a ausência de ideologia tbm ser uma ideologia?

Há inúmeros textos e inúmeras ações q não tão "imersos na ideologia de seu autor" (Althusser parafraseado pelo blogueiro Alex Castro). Não há ideologia em atitudes instintivas ou textos instigados por instintos; ou em textos buscando resolver um problema real baseados na determinação duma verdade, por exemplo, ¿a qual temperatura a água ferve a 3mil metros de altitude?

Daí se vê q o principal remédio contra essa febrinha é admitir q há pelo menos dois campos não incluídos na ideologia – um na base e outro no topo –: os instintos e o conhecimento. A ideologia é a baderna entre os dois. Dos instintos nem vou falar, pois nem precisa: é meio como o excipiente do xarope. Se o paciente é alérgico ao argumento de q as ideologias tão incluídas no instinto e não o oposto, então já é um caso mais sério.

Conhecimento = saber + raciocinar.

A diferença entre ideologia e conhecimento é como a diferença entre crer e saber. O foco do crer é um futuro abstrato; o do saber é o presente concreto. Assim como o presente caminha pro futuro, não há crer q não almeje tornar-se um saber.

Há quem diga q também o conhecimento é ideológico – q o foco em certas informações é uma escolha instigada por uma ideologia. Acho q pode-se dizer isso de muitos focos, mas não do conhecimento em si: ou vc SABE uma coisa ou não sabe. Não existe ideologia em 1+1=2 (a menos q se extenda a definição de 'ideologia' até ela se tornar sinônimo de 'consciência'). As ideologias vão e vêm; mas ninguém nunca pede desculpas por SABER algo, ou se arrepende de saber algo.

Notem q o campo mais fértil à ideologia são os assuntos onde a verdade não é conhecida ou totalmente conhecida – por exemplo, nas antagônicas interpretações sobre as delimitações do holocausto nazista; outro: 100 anos atrás era imensamente maior a proporção de biólogos q baseavam na ideologia religiosa suas objeções a Darwin/Wallace. Hoje, qdo a Teoria da Evolução já tá suficientemente comprovada como MUITO próxima à verdade total, não há ideologia em quem SABE do q se trata: a coisa é o q é. Já houve objeções ideológicas até contra o eletro-magnetismo...

Haverá quem diga q nosso evocável doutor tá dizendo q o oposto da ideologia é "A Verdade", tal como posto por outra blogueira.

A ideologia tem seus usos, mas a vida tem muitos aspectos em q a ideologia não tem por quê se meter, mas se mete – pq... pq se acha a fodona, oras, ¿todo fato não tem uma ideologia por trás?

Não.

Uma máxima Plausível: "O objetivo da ideologia não é conhecer a verdade; é obter a vitória."

A verdade é aquilo q REALMENTE acontece, não aquilo q as pessoas pensam ou interpretam q acontece. O conhecimento da verdade é o q efetivamente modifica a sociedade, não são as ideologias. Por quê? Ora, pq a ideologia não modifica a verdade, só modifica como ela é interpretada. O jogo de ideologias tende a MANTER o status quo; pode-se dizer q esse jogo É o status quo. Mas por mais q um ideólogo insista em alterar os fatos, a natureza destes SEMPRE acaba predominando. Por quê? Pq são os fatos, ora.

Os fatos não tem um ideological bias, mas um truth bias: toda interpretação q não se baseia na verdade termina em caca.

09 novembro 2009

O descaminho das pedras

Êi, ¿ouviram falar o q fizeram aqueles ãã crentes na Somália? Mataram a pedradas um cara por adultério.

Tadinho.

Mas o cara tinha engravidado a amante. Aí ¿sabe o q decidiram? Ué, claro: tão esperando o bebê nascer pra SÓ AÍ matar a moça a pedradas tbm.

HAHAHAHAHAHAHA

Ô mundo cão.

25 outubro 2009

Engodo e traste

Alguns anos atrás, nosso exosférico doutor deu boas risadas qdo ficou sabendo q a indústria evangélica – plena de oportunidades – havia inspirado um "paulista com formação em Marketing e Teologia, e pós-graduação em Administração" a criar um novo negócio chamado "Igreja Bola de Neve Church".

A risada obviamente não foi pela crença evangélica: rir de crença é como rir de velhinhos tropeçando; tbm não foi pelo cunho marqueteiro da coisa: rir de marketing é como rir de BEBÊS tropeçando. Riu foi do nome q deram à coisa.

¡¿Bola de Neve Church?! ¿Por que essa puxação de saco de euaense? ¿Por que não Bola de Neve Église ou Chiesa ou Kyrka? Ah, deve ser pq vivemos num mundo "globalizado"... HAHAHAHAHA Ou seja, o marqueteiro tá automaticamente dando a entender q quem fala inglês tá mais perto de Deus do q quem fala brasilês. Brasileiro raramente pensa no significado das palavras e nunca percebe essas sutilezas. Mas "ELES" percebem.

Já o nome 'bola de neve', deve ter sido escolhido pq é uma coisa q vai crescendo aos poucos, cujo poder vai aumentando. HAHAHAHAHAHA Quem bolou esse nome tá precisando dum retiro espiritual na Clínica Dr Plausível: foi vítima duma infecção hipoplausivirótica no cucuruto. Pois se não estiver infectado, ¿como é q pode imaginar q bola de neve é uma força positiva? Bola de neve é uma coisa q vai pra baixo, vai descendo o morro crescendo e crescendo e ganhando velocidade e, qdo chega lá embaixo, já virou avalanche – e se não matou muita gente, com certeza não "salvou" ninguém.

Este blogue fez campanha pra q eles mudassem o nome (pq pô, né?) mas não adiantou. Não é só uma infecção: é uma epidemia.

Mas hoje, passeando com a patroa, nosso elevatório humanista virou uma esquina e deu de cara com um carro estacionado, e o carro estacionado tinha um adesivo da Bola de Neve Church, e no próprio adesivo, abaixo do nome esdrúxulo... ¿que será q fez o doutor rolar no asfalto desguarungrugulhando o esputo?

Tava escrito ali: "IN GOD WE TRUST"

HAHAHAHAHAHA

O bordão das notas de dólar. Isso mesmo. In God we trust. Engodo e traste. ¿Dá pra acreditar?

¿Dá pra CRER?

O doutor não acreditou e foi pesquisar no site da igreja. E ¿não é q ali eles vendem, chaveiros, adesivos, &c, tudo com o mesmo bordão euaense, in God we trust? Gente de baixa auto-estima puxando o saco do ¡¡DÓLAR!!

Esse pessoal é tão "globalizado" q o site vende "cazes" e "skeezes".


"Caze", pra gente não-globalizada como eu, é um porta-livros. Na verdade, eles queriam ter escrito "case", mas devem entender tanto de spelling como entendem de neve.


"Skeeze", eles acham q é "squeeze", uma garrafa plástica pra desportistas. Na verdade, no país do dólar, "skeeze" é gíria pra "pessoa imoral e suja; mulher mais do q vadia, mais do q puta".

HAHAHAHAHAHA

(Confira.)

In God we trust. Engodo e traste. O engodo da religião aliada ao traste do marketing.

Nosso humanitário doutor tem pelas pessoas um infinito apreço e respeito. Qdo são vítimas, então, esse apreço e respeito vira dó e piedade. Não dá pra ter outra coisa por pessoas q se gostam tão pouco q chegam a misturar a inferioridade q sentem à sombra dum deus com a inferioridade q sentem à sombra do dólar.

----
Adendo:
Parece q agora eles mudaram o bordão pra "In Jesus we trust", talvez depois q alguém ali percebeu a gafe. Mas... O q antes era só uma gafe virou uma gafe + uma aberração, pois (1) não se livraram da subserviência anglofônica, (2) não se livraram da inspiração dolaresca e (3) adotaram essa moda bizarra, tbm originada nos Euá, de chamar Deus de "Jesus" – tem crente hoje em dia dizendo q o mundo foi criado por Jesus... o mesmo Jesus q veio ao mundo se sacrificar a Jesus pela humanidade, e lá na cruz olhou pro céu e disse a si mesmo, "Jesus, Jesus, ¿por que me abandonaste?"

12 outubro 2009

Fé com fé, cré com cré

Vou dizer uma coisa pra vcs, viu. Desde q aquele povo desértico inventou q a vida eterna é um prêmio por conduta moral exemplar ou apenas por seguir uma tradição esdrúxula, este mundo virou um inferno. Como se não bastasse, todos pregam q a retidão moral vem da fé (???), e portaaaanto a fé é o maior bem. Vc pode perguntar pra qqer crente de qqer religião desértica (judaísmo>cristianismo>islamismo) qual é seu maior valor e ele vai dizer q é sua inabalável fé em Deus, ou algo assim.

Toda vez q nosso exponencial doutor diz a essa gente q a fé é só uma desculpa pra juntar um pessoal, paquerar, dar risada com os amigos, checar o progresso dos sortudos e comer um churrasquinho... ele ouve um sermão q começa com “¡Nããão, que abessurdo! ¡A fé em Deus é a base de tudo!” O doutor então diz q a base de tudo é o instinto gregário, e aí ouve q “Vc tá enganado. ¡A fé é a dádiva divina devido à dívida da vida em dúvida!” ...e outras palavras de ordem...

O Dr Plausível não se mete com gente armada. Mas qdo se depara com um crente muito afoito, daqueles q até “rezam” pela alma de nosso terapeuta, ele conta uma pequena parábola pra demonstrar q religioso taria pouco se lixando prà fé se esta o privasse da vida em comunidade. O doutor chega-lhe ao pé do ouvido e fala assim:

Imagina q vc tá cara a cara com Deus no juízo final. Ele te olha de cima a baixo e troveja:

Deus: Parabéns, fulano. Foste um judeu/cristão/muçulmano exemplar e chegaste ao paraíso.
Vc: ¡Oh que ótimo, milagroso Deus misericordioso!
D: Sim, agora terás a vida eterna a meu lado e gozarás das infinitas benesses divinas.
V: Grandioso e gracioso Deus... Cantarei eternamente vossas glórias.
D: Ótimo, assim q eu gosto.
V: ¡Que maravilha magnífica é este paraíso!
D: Ah, ¿reparaste? Obrigado, obrigado.
V: ¡Sublime soberano do universo!
D: Hehehe...
V: Mal posso esperar pra rever meus pais. Qta saudade...
D: Ãã... Não, não. Eles não estão aqui.
V: Cuma?
D: Só deu pra salvar a ti.
V: ¿Meus pais não foram salvos?
D: Hmmnnnão... Deixaram a desejar.
V: Oh, que triste...
D: Mm.
V: Ãã... ¿Agora estão no inferno?
D: Yep.
V: Aaaaghh...
D: ...
V: Bem ... mas meu regozijo por estar em vossa presença sobrepuja qqer sofrimento, por mais atroz. ¿E meus tios e tias?
D: No inferno tbm.
V: ¿Nem a vó Javilda, tão casta e fiel?
D: Nnnã. Essa tbm não deu pra salvar.
V: ¿Nem ela?
D: Nnnãã. Só tu te salvaste.
V: ¿E MEUS FILHOS, MEU DEUS?
D: Nenhum.
V: O Maycson...
D: Naaa...
V: A Marisvelda...
D: Inferno.
V: Oh não... Não é possível... ¿Até a Marisvelda...?
D: Casou com um ateu. Só pensava em sexo.
V: ¡¡Nããããoo!!
D: Yep.
V: Bem, pelo menos alguém de minha sinagoga/igreja/mesquita...
D: Ninguém. Só sobraste tu mesmo.
V: Uau...
D: Pra veres como são as coisas. Como eram.
V: Puts. Vou levar um tempo pra me acostumar.
D: Pois é. Mas na eternidade, tudo se ajeita.
V: ¿E o padre Deoclécio, da igrejinha?
D: Inferno. Só tu restaste.
V: ¿O rabino Metzger, o aiatolá Khomeini?
D: Não houve jeito.
V: Bem, pelo menos vou ter a companhia dos santos... Tipo... São Francisco...
D: Nã, nã....Só pensava em comida.
V: São Benedito...
D: Inferno. Tinha pensamentos impuros.
V: Ué, eu tbm tive.
D: É, mas te arrependeste a tempo.
V: Santa Rita...
D: Duvidou de mim no último segundo.
V: Oh. ... João XXIII?
D: Inveja.
V: Maimônides?
D: Desejou incesto.
V: Abraão? Não vai me dizer q...
D: O povo exagerava.
V: Maomé?
D: Reclamou bastante, mas não houve jeito.
V: Uau...
D: ¿Não caiu a ficha? Em toda a história da humanidade, TU és o único ser digno de entrar em meu reino: só tu te salvaste.
V: Mas ¡¡a probabilidade disso acontecer é infimamente pequena!!
D: ¿Que sabes tu? Quem INVENTOU a probabilidade fui eu.
V: Mas... ¿e as criancinhas, meu Deus misericordioso? Com certeza suas almas já estão aqui...
D: Que nada. Re-encarnei todas, e todas depois se perderam na vida.
V: Mas, pôxa, não foi isso q me disseram. Era tão gostoso ali no templo, com minha família e amigos... ¿Não dava pra acochambrardes as leis divinas um tantinho, pra popular o paraíso um pouquinho?
D: O q está feito está feito. E a justiça divina não falha.
V: ¿E o amor divino, Deus meu...? ¿Por que ferraríeis toda vossa criação?
D: Ah, amei e amarei infinitamente todos os seres q criei.
V: Então?!
D: ¿Então o quê?
V: ¿E o perdão divino?
D: Já perdoei todos, mas perdão não é impunidade.
V: Quer dizer... quer dizer q de toda a história da humanidade, ¿só EU gozarei a vida eterna convosco? ¿Sem meus pais, meus irmãos, meus filhos, meus amigos, sem santos, sem religiosos, sem companhia nenhuma, só eu, eu sozinho?
D: Sim, pq o mereceste.
V: ¡¡¡gngnfgngngfn!!!
D: Não fica assim. Vamos nos divertir bastante, tu e eu. Temos a infinita eternidade pela frente. Tanta coisa pra conversar. Por exemplo, ¿sabias q, além de infinito e eterno, sou tbm incalculável?
V: Ah é? Mm.
D: ¿Não vais me louvar?
V: Ah. ... ¡Oh incalculável incandescência!
D: Então? ¿Não é divertido?
V: Ãã... Claro, bastante.
D: mmMM?
V: Sim, sim, divertidíssimo, oh divina divertância.
D: E tbm sou...


----
A bem da verdade, ninguém conseguiria contar essa parábola prum crente até o final, pq já no meio ele começaria com a ladainha Deus-jamais-agiria-assim. Eles não aceitam q seu deus poderia fazer isso tanto qto qqer outra coisa. Mas é muito revelador q o Paraíso não pode ser um lugar chato, q ele tem q ter um quê de diversão. Os crentes podem perdoar os mais intoleráveis atos de Deus, contanto q ele não seja maçante. A noção dum Deus enfadonho é a extrema abominação, até na Terra. Nenhuma religião tediosa sobrevive. A chatice é um pecado imperdoável.

21 setembro 2009

A teoria na prática é outra (conclusão)

Olha, vou dizer uma coisa pra vcs, viu; não é à toa q nosso estuante doutor não conseguiu terminar sua epopéica obra em quatro volumes Apologia da hipocrisia: tinha assunto q não acabava mais.

Por isso, resolveu o problema de forma tipicamente hipócrita. A melhor maneira de fazer uma apologia da hipocrisia, de demonstrar sua utilidade e capilaridade, sua abrangência e imiscuência, sua ressonância e retumbância, a melhor e mais direta maneira de homenagear a hipocrisia é tbm a mais espontânea e singela: não dizer nada.

Isso. Não dizer nada: jogar fora tudo q escreveu, todo insight relevante, toda percepção revelante, tudo. A tadinha da hipocrisia – já enfraquecida por séculos de insultos e preconceitos – talvez não resistisse a uma divulgação clara e detalhada dos inúmeros, sutis, complexos e assombrosos mecanismos psicológicos, sociais e políticos com que ela tranformou macacos em seres humanos, amparou todo o progresso tecnológico e mantém a civilização micro-afinada alguns passos aquém de explodir. O amadorismo do macaco é comovente: o macaco é um mero aprendiz de hipócrita.

Minha pergunta meses atrás foi ¿qual é o elemento mais construtivo pra chegar a, e manter, a civilização: a hipocrisia ou o cinismo? Só pra q não fiquem com raiva deste pobre digitador, aqui vai a resposta oficial deste blogue:

A hipocrisia ampara; o cinismo estimula. Na construção da civilização, a hipocrisia são os pisos e o cinismo são os pilares. Há quem imagine q sem a sustentação dos pilares, não haveria construção, e por isso o cinismo é mais construtivo. Muito se enganam. O fato é q sem a sustentação dos pisos, nem sequer faria sentido ter uma construção. A construção existe exatamente pra q haja pisos, pois somos todos reféns da gravidade. Ou seja, embora o cinismo auxilie a inteligência nos avanços civilizatórios, a razão de ser da civilização tá emaranhada indissoluvelmente com a hipocrisia. Sempre esteve. A civilização é praticamente uma CRIAÇÃO da hipocrisia. Não ver isso é a versão psico-social de acreditar em Papai Noel.

Há tbm quem imagine a emoção como energia, a inteligência como engrenagens, o cinismo como atrito e a hipocrisia como lubrificante. É uma imagem bonitinha, mas ingênua e idealista. Não. Se a civilização é um carro, o cinismo são as rodas e a hipocrisia é a estrada.

A hipocrisia é o lugar onde a civilização acontece.