15 julho 2006

O crime na imprensa

Muito sofre um país como o Brasil por não se utilizar rotineiramente dos serviços do Dr Plausível. É vero q tem criminoso fazendo festa por aí. Pra piorar a coisas, o público jornaleitor, radiouvinte e telespectador é obrigado a diariamente ler e ouvir gente desgorgolando as tripas em indignações, desgostos, acusações e desesperanças, em q os bandidos são 'monstros', 'fascínoras', 'inumanos', e outros elogios involuntários.

Mas há luz no fundo do poço. Sesdias, o doutor descobriu q alguns noticiários não falam mais em PCC e preferem termos gerais como "facções criminosas":

"Ontem à noite, uma facção criminosa incendiou vários ônibus, e homens armados alvejaram três agências bancárias."

É bom e são, o raciocínio por trás dessa decisão. Pois ¿pra quê gratificar esse pessoal com notoriedade fácil na mídia? No entanto, nosso escrupuloso doutor acha q não é suficiente. Não basta negar um estímulo: tem q desestimular, ora pois não? O criminoso, em algum recanto de si, certamente se orgulha de seus crimes: de fato, entre os objetos de orgulho criminal, estão a 'esperteza' e a 'eficiência' do malfeitor.

A sugestão do doutor é simples: substituir as siglas, frases descritivas e epítetos denigritórios por eufemismos, num tom meio comiserativo:

"Esta madrugada alguns ônibus foram incendiados em Jecápolis em ataques atribuídos a gente burra."

"Três policiais foram baleados por coitados armados."

"Ontem á noite, pessoas idiotas incendiaram vários ônibus, e alguns tontos pouco competentes tentaram destruir três agências bancárias."


Em contrapartida, há também q estimular os bandidos a desistirem do crime:

"O imbecil q matou o guarda mostrou considerável QI ao se entregar à polícia."

"A prisão dessa quadrilha de babacas é prova irrefutável de sua evidente inteligência."


Com isso, algumas editoras, estações de rádio e tv serão atacadas, mas só por uma birra passageira. Logo-logo a criminalidade diminuirá substancialmente e enormes quantidades de povo poderão sair às ruas e seguir incomodando o cidadãos pacatos com atividades perfeitamente normais e consentidas nas madrugadas, tais como inaugurar boate sem isolamento acústico à meia noite, alardear um funk carioca na caçamba da camionete à uma, começar uma batucada de bar às duas, desencadear buzinaços às três, deixar o alarme do carro tocando às quatro e só fazer o cachorro no quintal parar de latir às cinco.

En bref, la canaille comme il faut.

09 julho 2006

Mais uma

Segue abaixo a tréplica oficial do Dr Plausível aos comentários dum leitor a um texto abaixo.?.

L: "A língua portuguesa continua belíssima nas mãos e nas bocas de quem a compreende e aprecia e usa com carinho, e saindo-se muito bem com todos os acontecimentos hodiernos, A NÃO SER QUE você esteja se referindo a vocabulário mais uma vez."
DrP: Sou meio monótono mesmo. Sempre estou falando apenas de vocabulário. Qdo falo em gramática, é apenas como um passo num argumento maior.?.

L: "A música também é um fenômeno, é forma de comunicação, e tem regras."
DrP: A música não é um fenômeno q sai, digamos assim, das entranhas do ser humano, tal como é a linguagem. A música já é em si uma codificação artificial pois ela tem propriedades físicas q antecedem e determinam suas propriedades semânticas. É vital q se pense nas artes como fundamentadas em regras tuteladas pois todas elas dependem de propriedades físicas dos materiais. Vc disse algures q "Objetivo é a essência pura do discurso e de toda tentativa de comunicação." No entanto, o objetivo primordial de todas as artes não é comunicar: é criar um efeito, o q é muito diferente. O efeito criado pode ter alguma propriedade comunicatória, mas esta é sempre secundária e eisegética. Assim, é uma falsa analogia, essa q vc fez entre o papel da conscientização das regras nas artes e na linguagem. Por um raciocínio análogo, vc pode inferir minha resposta sobre as regras nos esportes.?.

L: "QUER REGRAS assim mesmo."
DrP: "Querer regras" é como querer a gravidade: não é preciso querer a gravidade pra q ela exista: não é preciso querer regras gramaticais: elas já existem mesmo sem a tutelagem dos gramáticos: são um fenômeno natural decorrente do modus operandi do cérebro. ¿Que mais poderia ser? Já as regras inferidas e propositalmente impostas numa norma, têm dois inconvenientes principais: (1) elas só podem ser criadas a posteriori de fenômenos naturais; (2) basta q fiquem explícitas pra q já sejam burladas; e não são burladas porque o povo é do contra ("¿Hay reglas? Las burlaré."), e sim porque não poderia ser de outra maneira, já q as regras normatizantes pretendem padronizar um fenômeno anárquico. [Acabo de normatizar a seguinte regra inferida: toda palavra estrangeira deve ser grafada em itálico. Oh shit!: alguém já burlou.]?.

L: "O que você não consegue expressar com a gramática atual ...?"
DrP: Embora não haja a rigor muita coisa no estilo discursivo, paragráfico, redacional, raciocinante q não possa ser dito dentro dos limites da gramática normativa, há no uso normal e corriqueiro da língua infinitas situações em q o estilo normatizado se revela completamente inadequado, blargh e nojentinho. O Dr Plausível já deu alguns exemplos.?.

L: "O vocabulário caduca com rapidez, mas a gramática continua comportando tudo com perfeição."
DrP: Na verdade, as duas coisas acontecem: ítens de vocabulário surgem e caducam constantemente; mas os necessários, práticos e comuns têm vida longa. Há palavras no português q permanecem inalteradas desde o século 9 (qdo isso q chamamos de 'português' nem existia).?.

A objeção à gramática normativa (a Norma Culta, a NoCu) não é q ela não comporte tudo. Poderíamos igualmente utilizar o vocábulario do português com a ortografia cirílica e a gramática suahili, e as carências seriam as mesmas. Um dos problemas com a NoCu é q ela "comporta tudo" num estilo imposto, lento, cerebral, mumificante, pedante, pretencioso e muitas vezes arbitrário. O resultado de exigir correção gramatical e ortográfica é envergonhar e tolher qqer dinamismo na abrangência, uso e expansão do repertório de vocábulos e expressões. O português se tornou uma língua tacanha, amedrontada, sem referências, uma língua q meramente administra a comunicação.?.

Outro problema é aquele q já esbocei acima: q, em se tratando dum fenômeno tão plástico e multifário como é a linguagem, absolutamente qualquer regra inferida, "analisada, entendida, circunscrita e descrita num sistema engenhosamente abrangente" já caducou no momento exato em q é proferida. Toda normatização é aprés coup, e essa constatação não precisa de provas. Se tratássemos aqui das leis da física (q, lembro, subjazem às artes), seria outra história.?.

Se a norma gramatical "só sobra, na medida em que soçobra o nível intelectual e cultural dos usuários", é culpa apenas da própria norma: da própria idéia de norma. Alguém poderia igualmente, e ¡com absoluta justeza!, reclamar da deprimente queda no nível de envolvimento da população mundial em ritos de adoração aos antigos faraós, nos últimos três milênios. De fato, a 'norma faraônica' está em desuso. Mas, como a idéia de 'norma' é justamente q ela englobe e comporte tudo – ou seja, uma idéia totalitária, irrealista e estapafúrdia –, então, para um faraonista, a situação de hoje é uma tragédia lamentável.?.

Uma coisa q vc disse ("... a plebe rude e ignara ... só não convive pacificamente com a gramática porque não a entende. Pior, a grande maioria é incapaz de se aprofundar o bastante em qualquer assunto ...") é parcialmente verdade. No entanto, receitar a gramática normatizada pra essa gente é como dar um discman a um beduíno e esquecer de dar as pilhas e os cds pra ele tocar. ¿De q serve uma coisa sem a outra? A complexidade do q é dito por alguém é diretamente proporcional à complexidade de seu pensamento. E nem isso é completamente verdade: veja o caso dos retardados mentais com hidrocefalia e com síndrome de Beuren-Williams; mais preciso seria dizer q a complexidade do q é dito por um povo é diretamente proporcional à complexidade de sua cultura: as duas coisas andam juntas (não é plausível esperar q um garçom em Jequitibonga grite ao chapeiro: "Ó, Moscão, se vos agrada, fazei-me um tostex para este senhor que acaba de assentar-se ao pé do balcão!"). Só q a complexidade cultural não se fomenta através da educação, tal como vc parece preconizar, e sim através do caos livre e criativo, dos milhões e milhões de falantes querendo dizer alguma coisa, com o lebensraum pra inventar, derivar e associar o q bem entendessem. (Eu uso 'complexo' as opposed to complicado. Veja aqui) Mas o ensino de português chegou ao layout sem passar pelo brainstorm.?.

É perfeitamente correta tua interpretação de q eu aprovaria a abolição de toda imposição gramatical a fim de criar um lebensraum pro português; mas, tal como vc hipotesou, não é prum lebensraum gramático e sim vocabular. Pra mim o maior problema da NoCu é q ela intimida e acanha o falante, até mesmo o mais genial artesão das palavras q "vê-se legitimamente obrigado a subverter as convenções lingüísticas".?.

O q eu chamo de complexidade gramatical já existe no ãã 'centro gramatical do cérebro'. Ela não precisa ser inculcada de fora. Não importa muito se essa complexidade se manifesta através duma gramática normatizada ou dum caipirês ou de alguma linguagem matemática. O q importa é o vocabulário, ou seja, q o falante saiba distinguir uma coisa de outra coisa e de outra coisa, e dê um nome diferente pra cada uma das três. Pra efeito de comunicação, é irrelevante se a desinência concorda em gênero com o grau do adjetivo pronominal da oração subordinada em catacrese ao plural. (Como bem colocou o Stephen Pinker em "The Language Instinct", é perfeitamente inteligível a seqüência de palavras: Fósforo gasolina riscou bum!) O q quero é q o português se desenvolva a ponto de criar de suas entranhas idéias do nível de lebensraum, brainstorm, aprés coup, as opposed to, &c &c &c; e q complexifique sua cultura a ponto de criar objetos como o mouse, o mousse, o sudoku, &c &c &c. E digo e reafirmo q só se vai conseguir isso depois (muito depois) dessa gente bronzeada largar mão de dar atenção a esses nefastos gramáticos normativos e cagadores de regras ortográficas.?.

Mas ¡oh parto permanente! ¡oh prosa prepotente! Ilusão treda.

22 junho 2006

Bola ao pé

Nosso envergadoiro doutor não costuma assistir a jogos de qqer espécie e até quase já registrou em cartório q não torce pra nenhum time, muito pelo contrário. Mas, ligado q está nos eventos do mundo, soube recentemente q o Brasil é um dos candidatos num torneio internacional, algo q aparentemente traz ao populacho grandes emoções com hora marcada.

O Adam Gopnik, num artigo da New Yorker qdo do torneio na França, mostrou q o futebol só pode ser esse sucesso todo entre a plebe ignara pq é uma metáfora inconsciente da vida: uma baderna de gente tropeçando e trombando, parcamente controlada por regras simples amiúde violadas, e cujo placar final é zero a zero.

Mas, além do q já disse sobre o papel preponderante da sorte no esporte, o Dr Plausível vai deixar pra depois a demonstração de como o futebol na verdade humilha o Brasil. Então vc já pode parar de ler isto aqui e ir lá ver seu jogo, vai.

13 junho 2006

Folga

O paulista é um povo trabalhador. Só três coisas detêm um paulista em sua marcha incansável rumo ao progresso: feriadão, futebol e PCC.

01 junho 2006

A norma estulta, essa incompreensiva

Pra entender grande parte do q segue, é preciso ler os comentários ao post anterior, onde gerou-se uma polêmica. Um leitor respeitado por aqui, o Pracimademoá, tem uma opinião contrária à deste blogue no q diz respeito à gramática e à norma estulta. É em respeito às objeções dele q dou aqui a resposta final, redigida em tandem com o Dr Plausível. O Pracimademoá certamente foi atacado pelo vírus da hipoplausibilose gramática. Não é caso de rir, e o Dr Plausível leva essa coisa de gramática a sério, principalmente qdo se trata de alguém inteligente e sóbrio como esse leitor.

Pracimademoá,
Pela última coisa q vc disse, me dá a impressão de q não consegui explicar nada. Vou tentar resumir tudo aqui, só pra q vc não fique pensando coisa feia de mim ou do doutor.

Toda "regra" gramatical é uma codificação inferida a partir dum fenômeno natural. A gramática normativa é um disparate porque a língua não é uma invenção humana, mas um fenômeno humano, ou seja, algo q já tem "regras" naturais. Ninguém precisa ficar fuxicando.

O português é uma das línguas q foram surpreendidas no século 19 pela repentina evolução em todos os ramos do conhecimento justamente numa época em q se tentava, através das academias, consolidar e codificar certas línguas baseando-se nisso q vc chamou de "refinamento do entendimento e das manifestações humanas". Vc poderia argumentar q as próprias academias foram parte dessa evolução, mas o buraco da língua é sempre mais embaixo. A língua é sempre vários graus mais complexa do q qqer refinamento do entendimento possível numa normatização.
Sorry. Quem normatiza uma língua tem o plano "vamos codificar a língua da maneira mais racional e refinada possível pra termos um instrumento sólido e coerente com o qual poderemos realizar a contento todas nossas interações." Mas ninguém tem bola-de-cristal, e muito menos uns lexicógrafos e gramáticos inferindo regras numa sala fechada, abafada e empoeirada. Não dá pra prever quais conceitos, quais tecnologias, quais modos de interação vão ser criados, o q é q a mente humana vai produzir – seja através dos gênios, seja através do povão. Assim, não dá pra prever quais novos fenômenos surgirão e portanto quais "regras" naturais a própria língua vai criar pra se adaptar a eles. Por exemplo, ¿quem iria prever a internet, onde a língua escrita vem tentando se acelerar, disseminando abreviações perfeitamente coerentes, claras e cabíveis como 'vc', 'pq', &c? Eu só não grafo 'qual', 'quais', 'quem' e 'quaisquer' com 'ql', 'qs', 'qm' e 'qsqr' pq sei q muita gente retrógrada iria bobamente fazer questão de não me ler.

É gritante a inépcia do português no mundo de hoje. A revolução industrial, por exemplo, jamais poderia ter acontecido num país de língua portuguesa.
Sorry. Impensável. O português de ontem e hoje simplesmente não tem a ginga, a abertura, a sutileza, a precisão e a nitidez de línguas como o inglês, o alemão e o japonês, q lhes permite sustentar e agilizar o intercâmbio de idéias, a ampliação diária de novos horizontes. Mas o povo (todos nós) sente o empurrão do tempo, e constantemente, dia após dia, frase atrás de frase, tenta puxar o português pra uma maior ginga, uma maior abertura, uma maior elasticidade e criatividade; e o tempo todo, quaisquer novidades lingüísticas (q são concepções, conceitos novos) são inapelavelmente censuradas pela tutelaria de plantão, esfregando a gramática normativa no nariz das criações necessárias. Fala-se muita merda, claro. Mas um dos resultados mais nefandos da norma estulta é q pouca gente realmente gosta do português, do jeito, por exemplo, q os ingleses gostam do inglês, se divertindo, se emocionando e se esclarecendo: ninguém se diverte com o português depois de passar pelo corredor polonês q é a escola. Papo de brasileiro é, via de regra, ou chato ou chulo ou chucro (e eu aprendi a fazer isso com o inglês). Por causa da normatização, o uso do português, q deveria fluir naturalmente, é atormentado por inseguranças, vergonhas, arrogâncias e desperdício.

É claro q nada do q está dito acima deve ter a mínima importância pra alguém q acha necessário colocar sela e arreios na língua pra conquistar o Oeste. Mas é bom q se lembre q na mente e no coração das pessoas existem mais coisas do q prevê a vã gramática.

27 maio 2006

O Dr Plausível e seus aforismos

"O esnobismo é o último refúgio dos amadores." in A Norma Estulta e Seus Defensores

24 maio 2006

O clichê é o clichê mais clichê do clichê

Os clichês sempre despertam um grande sono no Dr Plausível. Mas emprego é emprego, né? Tão vamulá.

O clichê de dizer q a prostituição é a profissão mais antiga do mundo é como todo clichê: uma tontice q alguém algum dia desembuchou e, como soou perfeitamente apta, espirituosa e bem-acabada em uma situação, e provocou risadas &c, foi então repetida por quem a ouviu, esperando sugar um pouco do mérito original, e repetida pelo segundo ouvinte, e assim ad nauseam até virar uma tontice q quase todo o mundo diz sem prestar atenção no q exatamente significa. Com razão, Proust detestava os clichês. Eles cabem perfeitamente no q descreve a palavra inglesa 'mindless'. Mas não são de todo ruins: como 97% de tudo q se faz socialmente é também mindless, os clichês são um temperinho q diverte o populacho em sua penosa tarefa de cambalear entre o nascimento e a morte.

Por tantas implausibilidades repetidas em clichês, também são implausíveis as explicações deles. Recentemente, um desavisado aventou q aquele clichê sobre a prostituição originou-se ãã... ¡no inglês! Ele disse algo como "essa expressão faz sentido no contexto anglo-saxão de 'profession' (e acho que a origem do clichê é o inglês)".

Hmm.

Tanta coisa é traduzida do inglês hoje em dia, q daqui a pouco vão achar q até a Bíblia foi escrita originalmente em inglês. ... Ah, não, peraí. Já tem gente q pensa isso. (Mas são euaenses; então se perdoa.)

Um sintoma de anglo-centrado é sempre procurar e "achar" a origem das coisas no inglês. Pra começo de conversa, a própria palavra 'profession' vem do latim. Por outro lado, se a proto-prostituição era uma profissão, deveria haver pagamento; pagamento implica em dinheiro, dinheiro supõe casa da moeda, &c. Várias outras profissões embutidas aí, não?

Outra coisa, se vc substituir 'profession' pelo conceito inglês de 'calling', já faria mais sentido. Só q "the world's oldest calling" não seria a prostituição, mas a nobre atividade de mijar, de onde vem a expressão 'a call of nature'. Sexo também é 'a call of nature', claro; mas mulher prefere mijar antes do sexo – de onde se depreende q mijar é mais antigo q prostituir-se.

É certo q uma ou outra mulher prefere não mijar, pra aumentar a pressãozinha lá dentro durante o coito. Mas... mas... mesmo assim...

ãã– Voltemos à cretinice do clichê em si.

Puta não pode engravidar. A prostituição só pode ter aparecido depois da compreensão e desenvolvimento de métodos anti-concepcionais e de abortagem. E só isso aí já pressupõe outras tantas profissões. Então ¿por q catso alguém achou algum dia q a prostituição é a profissão mais antiga do mundo?

Sei lá. Mas aqui vai a receita de tratamento contra a hipoplausibilose embutida nesse clichê:
1. Escreva a frase numa pequena folha de papel azul.
2. Engula.
3. Veja se vira bosta. Se o papel for defecado num estado ainda reconhecível (¿entendeu agora o porquê do azul?), lave e engula de novo.
4. Repita os passos 2 e 3 até o papel passar totalmente ao estado de bosta.

[O Dr Plausível agradeceria aos leitores pela lembrança de outros clichês hipoplausibiléticos para diagnóstico e tratamento.]

16 maio 2006

Panacas em pânico

Se chovesse vacina anti-hipoplausibilânica, não daria pra imunizar tanta gente.

12 maio 2006

Quem sabe sabe

Nosso embrenhado doutor dá muita risada qdo vê esses péssimos atores das CPIs. Só q eles devem atuar mal não só por falta de talento mas por nervosismo também, às vezes até justificado. Em dado momento, o culatrista Sílvio Pereira aventou pedir proteção policial e o Dr Plausível logo se lembrou dum cliente seu, alto funcionário da Anatel, q, durante uma consulta plausibilógica sobre as tarifas telefônicas, afirmou q, se apenas ameaçasse dizer tudo o q sabia sobre o processo de privatização da Embratel, seu corpo com certeza seria encontrado numa vala na manhã seguinte.

A consulta, é claro, não deu em nada.

02 maio 2006

El imperio cuentra-alpaca

Estava lá o Dr Plausível dando consultoria plausibilógica na sucursal brasileira duma firma euaense, a central regional dessa firma na América Latina, qdo de repente o telefone tocou. Seu cliente atendeu e descambou num portunhol apenas passável, falou disso e daquilo, negociou um detalhe e desligou. Ligação do Equador. Nosso embasbacante doutor ergueu o sobrolho.
"¿O equatorenho estava falando portunhol também?" perguntou educadamente.
"Ah, não. É difícil pra eles," disse o cliente. "É mais fácil quem fala português entender quem fala espanhol do q quem fala esp..."
O doutor já estava gargalhando.

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Hmm.

Peraí. Deixa eu ver como é q vou dizer isto.

Hmm.

¿Que porra? ¿Por que caralhos o equatorenho não fala português? ¿Pq é q o brasileiro tem q aprender inglês pra falar com euaense e tem q aprender espanhol pra falar com equatorenho? O Brasil virou 'el imperialista de Latinoamérica', mas ¿é só pelo tamanho? ¿A língua portuguesa não tem intrínsecamente a mais mínima força pra se impor sobre o espanhol?

É uma história irônica, a do português. Por natureza uma língua periférica, uma simplificação imediatista dum dialeto marginal do espanhol, na extremidade da Europa um pouco aquém do fim do mundo, o português, por várias incongruências entre a geografia política européia e a novomundana, em quinhentos anos se tornou a língua do país mais rico, populoso e produtivo da América Latina. Mas parece q nada, nem mesmo o poder econômico brasileiro, nem mesmo o carisma do povo brasileiro, nem mesmo a disseminação da música brasileira, nem mesmo a beleza da mulher brasileira, nem mesmo o poderio bélico do exército brasileiro, nada consegue fazer o desgraçado do equatorenho fazer um esforcinho pra aprender a língua de seus superiores.

O doutor se pergunta: ¿será isso conseqüência duma fraqueza na essência da língua, ou será resultado da simpatia natural do povo brasileiro, esse povo bonzinho? ¿será uma vantagem pro brasileiro, q diversifica e flexibiliza seu cérebro poliglota, ou será apenas mais uma cagada na longa série de desvalorizações da identidade e cultura brasileiras?

O doutor sinceramente não sabe. De maneira alguma isso lhe impede de gargalhar, pela ironia, mas admite q não sabe.

24 abril 2006

O astropauta

Muita gente no espaço crítico brasileiro (também conhecido como Sala Portnoy) vem reclamando dessa melenga toda sobre o cosmonauta nascido no Brasil. Reclamam dos (dependendo da versão) 10 ou 12 milhões de doletas do contribuinte brasileiro gastos pra pagar o projeto pessoal dum funcionário, do Lula q medalhou o cara, dos jornalistas q não põem o cara na parede, etcétera. O Dr Plausível fez umas considerações, gargalhou à larga, e foi ler o dicionário romeno-francês no banheiro. Eis um resumo do q disse:

Jornalista é alguém pago pra dizer o q não sabe sobre um assunto q não conhece. Mas nenhum jornalista vai pôr em risco o leite das crianças fazendo essas perguntas ao astropauta, pois, num aspecto, o jornalista é igualzinho a um profissional de qqer outro ramo: sua prioridade número um é tirar o cu da reta.

Também é essa a prioridade do presidente, seja ele quem for. O Lula chegou aonde está porque tira o cu da reta melhor do q ninguém. Ele é o Grão-Mestre Nacional de Esquivamento Anal; e ele é q deveria ser motivo de orgulho aos brasileiros, não esse pelego Mark Bridges.

Em assuntos como esse do programa espacial, o Lula é como qqer outro presidente: pegou o bonde andando e nem viu q linha era. Ele fez, em seu estilo necessariamente peculiar, exatamente o q qqer outro gato-pingado faria em seu lugar; e também pensou o mesmo: "Taquipariu, vou ligar o piloto automático nesta solenidade, e depois eu volto ao q interessa."

10 abril 2006

O prefato

Nosso emulável Dr Plausível sempre se diverte andando de táxi por SPaulo. É só aparecer um semáforo com a luz verde queimada, uma placa num lugar errado, uma cratera na rua, e o taxista logo diz algo como "E esse prefeito q taí, hem? Vergonha!"

Entendo bem a diversão do doutor. Só pode ser coisa de mitômano achar q as vidas de 17 milhões de habitantes sofram alguma influência dum gato pingado qqer q desembocou na prefeitura a caminho do ostracismo ou duma eleição pra governador ou presidente. A prefeitura de SPaulo não é um cargo; é um degrau – pra cima ou pra baixo, geralmente pra baixo. Agora um tal de José Serra q, eleito pra 4 anos como todo mundo, se sentiu especificamente especial o bastante pra renunciar após 15 meses pra tentar manter o partido no governo do estado.

A lógica é mais ou menos assim:
(a) se o prefeito faz uma boa administração, é pouco criticado; ele então se considera popular e renuncia pra se candidatar ao governo do estado;
(b) se faz uma administração, é muito criticado; ele então se considera impopular e portanto sem chances, e aí cumpre seu mandato.

?!?!?

'Prefeito' deve originar de algo como 'pré-feito' ou 'pré-fato'; porque não é possível, ¿né, dona-de-casa?

07 abril 2006

L'esprit d'escalier

-Alô?
-¡Bom dia!
-Bom dia...
-Por gentileza, ¿o responsável da linha?
-Sou eu.
-E ¿seu nome, por favor?
-Ãã... F... Joaquim. ¿De onde é?
-Bom dia, senhor Joaquim. Eu sou do Banco de Dados.
-¿Banco de Dados daonde?
-Da Folha de São Paulo.
-Ah não, brigado. Eu não leio jornal.
-¿O senhor não lê jornal?
-Não.
-E ¿qual o motivo?
-Ãã... É q, sabe, qdo eu era criança, a gente tinha um cachorro (ele chamava Pufe), e qdo ele fazia cocô na sala, meu pai enrolava um jornal e dava na cabeça dele umas dez vezes, aí ele foi ficando deprimido, deprimido (porque ele não entendia, né?, o motivo de meu pai cair de porrada nele), até q ele morreu; aí eu botei a culpa em meu pai, lógico, e teve uma briga homérica lá em casa, e meu pai então quis provar q a pancada de jornal enrolado não doía, e avançou pra mim pra me bater na cabeça, aí eu recuei um pouquinho e tropecei num pufe q minha irmã tinha usado pra... pras brincadeiras dela, né, aí eu caí e bati a cabeça na quina da mesa, fui pro hospital, o maior escândalo, mas tirei raio xis e não deu nada, mas foi um trauma, viu?
-O senh...
-Aí depois, qdo eu tinha uns doze anos, eu tava descendo uma rua ali perto da Quintino Bocaiúva e passei ao lado duma banca de jornal e o jornaleiro saiu de repente e começou a gritar comigo dizendo q era eu q todo dia passava lá e esfregava meleca de nariz na Gazeta Esportiva q ficava ali pendurada de mostruário e ele queria me espancar ali mesmo, e umas senhoras q tavam ali perto não deixaram, e eu dizia q não, q eu nunca passava por ali, q eu morava em Cruzindanga, mas o jornaleiro não queria acreditar e dizia q sim, q era eu mesmo, q eu tinha cara de melequento, malandro e...
-pu pu pu pu pu pu
-Ninguém nunca me dá atenção...

02 abril 2006

Uma sugestã

Sesdias, com a cara-de-pau q lhe é peculiar, a secretária de estado Condoleezza Rice, em visita à Inglaterra, abriu um sorriso deste tamanho pra uns manifestantes e até deu tchauzinho. Um repórter da BBC lhe perguntou o q achava da questão q os manifestantes reclamavam e ela, com a petulância sorridente peculiar aos políticos acuados na estranja, disse algo como "Não é a primeira manifestação q vejo, nem será a última."

Nunca participei de manifestação, e muito menos o Dr Plausível. De políticos, soldados, filósofos e outra pessoas armadas: distância. Mas volta e meia me pergunto por que os manifestantes mantêm aquele respeito todo perante gente não q lhes dá a menor bola. Fazem cara de criança mimada e ficam gritando frases feitas, tipo:

"¡Aumento!"
"¡Fora, fulano!"
"¡Queremos justiça!"
"¡O povo unido jamais será vencido!"

Essas coisas já viraram pano de chão velho: não lava nem o rodo. Pena q nenhum manifestante jamais consultou o Dr Plausível. Seu conselho seria simples, eficaz e muito mais a propósito: os manifestantes se juntam em silêncio de mão no bolso perto de onde o político atacável vai passar; assim q ele aparecer, eles fincam os olhos nele, fazem cara de ódio e berram em uníssono, uma só vez:

"¡Idiota!"

¿Não seria mais legal? E surtiria mais efeito.

(Tanto político merecedor e ¿vc foi logo pensando no Lula?)

28 março 2006

Origens Lingüísticas do Atraso Brasileiro

Em 1984-85, o Dr Plausível publicou uma série de artigos nos Cadernos de Plausibilática, com o título geral de "Origens Lingüísticas do Atraso Brasileiro". Nosso espantoso humanista provou por A + B a implausibilidade em botar a culpa em mazelas tais como a impunidade, a malemolência, a corrupção, a festancidade e a educação brasileiras, e mostrou, demonstrou e arrematou q a coisa toda não passa dum problema meramente lingüístico, um pobrema insolúvel: se as mesmíssimas pessoas q ora populam estas terras falassem japonês ou alemão ou inglês ou grego em vez de português, o Brasil seria talvez um pouco menos pululante mas com certeza bem mais desenvolvido, teria um povo mais respeitoso, multifacetado e consciente, e uma economia mais respeitável, respeitosa e eficiente.

Foi num desses artigos q o doutor originalmente publicou a tese amplamente comprovada de q uma das maiores mazelas do Brasil, senão a maior, é a metonímia elíptica*, q diariamente causa incalculáveis prejuízos econômicos, culturais e sociais neste país. Em outro, refutou inapelavelmente a tese de q o ensino da norma culta pode ajudar a desenvolver o raciocínio e portanto o país. Mas não vou chatear os leitores deste blogue com citações: além de serem todos extremamente técnicos, os artigos trazem transcrições fonéticas da fala brasileira de diversas regiões e, pra quem não é do ramo, fica chato pacas. Por exemplo, duas das mais fáceis de entender são:

"Çta psan djaugúa coiz?" (Você está precisando de alguma coisa?)
"É pski téça baguncéê." (É por isso q está essa bagunça aí.)

Vou só resumir aqui o q o doutor disse de duas expressões q usou pra demonstrar sua tese central sobre o atraso brasileiro:

(a) "[Jogar] conversa fora."
(b) "Falou, tá falado."

(a) O doutor fala trocentas línguas, então não vou discutir: ele afirma q não há em nenhuma das línguas mais desenvolvidas uma expressão q diga e fale "jogar conversa fora". E se vcs atentarem pro q essa expressão brasileira significa, verão q é na verdade um belo insight. Três línguas européias competem entre si pelo prêmio de Maior Desperdiçador de Neurônios: o francês, o espanhol e o português. Realmente, colocar todos os pluraizinhos, os acentinhos, as concordanciazinhas e os diminutivinhos nos lugarzinhos corretinhos é coisa de quem não tem mais do q fazer e, de fato, joga conversa fora toda vez q abre a boca. Essas três línguas têm muita argamassa pra pouco tijolo. É de se elogiar q só o português tenha produzido esse insight. Nem tudo está perdido.

Mas mesmo qdo não se usa as regritas, joga-se conversa fora. Numa frase comum como "Eu tou indo na feira.", apesar de apocopar 'estou', o falante usou 'eu' desnecessariamente. E ¿que catso significa "ir na feira"? Não pode ter muito a dizer uma língua em q algo de significado contraditório pareça fazer sentido porque, no contexto, só pode ter outro significado. É como se ali bastasse um espirro: "tou indo atchim feira."

Mas a expressão "jogar conversa fora" indica algo mais profundo: com tanto neurônio sendo usado pra falar bonitinho, o português faz com q a interação tenha precedência sobre a comunicação: é mais importante interagir do q de fato dizer algo. Daí q se usa "jogar conversa fora" com o sentido de "interargir amigavelmente pela fala". O Dr Plausível não está dizendo q não se joga conversa fora em outras línguas: apenas q no Brasil as características do português transformaram a jogação de conversa fora numa regra e não numa exceção, sendo especificamente por esse motivo q essa expressão colou no Brasil. Nenhuma língua fala do q nela mesma não há.

(b) Uma das maneiras de jogar conversa fora é um tipo de interação bastante comum entre brasileiros, na qual o ouvinte repete o q ouviu quase verbatim. Por exemplo:

A. Eu tou indo na feira.
B. Ah, ce tá indo na feira?
A. É.
B. Ntão me compra ...&c

Se o A for, digamos, um alemão, é bem capaz de o diálogo ficar assim:

A. Eu tou indo na feira.
B. Ah, ce tá indo na feira?
A. (leve irritação) ¿Não foi isso, o q acabei de dizer?

Isso pq o alemão, o inglês e outras línguas têm pouca tolerância pra repetições bobas: são línguas em q, de fato, "falou, tá falado." E no entanto, nenhuma dessas línguas tem essa expressão. É sintomático q a aparente imbecilidade no hábito comum de repetir inutilmente o q já se disse seja compensada pela mera existência da expressão "Falou, tá falado." Tipo, "Ah, a gente repete as coisa, mas pelo menos qdo falou, tá falado." – ?!?!?

Note-se tbm q a expressão fala em 'falar' e não em 'dizer'. 'Falar' é apenas o ato de soar palavras pela boca, não necessáriamente dizendo algo. Ou seja, q a expressão q aparentemente diz "Se vc disse, está dito." na verdade não diz mais q "Se palavras soaram, palavras foram soadas." Agora, se algo q preste foi de fato dito, já são outros quinhentos.

Por exemplo, essa tese toda q vc acaba de beliscar, ¿é algo q preste? ¿O Dr Plausível derridanamente jogou conversa fora, ou falou derridanamente com total seriedade? ¿Foi sarcástico, ou foi preciso?

E essa tua dúvida ¿é sobre as palavras do enobrecido doutor, ou sobre a viabilidade mesma do português? Hmmm.

*Também chamada de 'substantivação elíptica' e 'nominalização elipto-retórica', mais conhecida como 'braquilogia' ou 'braquiologia'.

26 março 2006

A verdade não me deixa mentir

Não se diga q o Dr Plausível está aqui só pra criticar e achar defeito. Pelo contrário. Pouca coisa lhe dá mais prazer q uma obra bem feita. Sesdias, nosso empenhado doutor colocou mais um filme na lista dos indicados pro Plausuto de roteiro cinematográfico deste ano: Separate Lies (ou, estranhamente, Mentiras Sinceras no Brasil). A tradução nas legendas tem um erro a cada três minutos, mas é um grande filme pra se ver se vc tem idade mental de adulto e entende inglês perfeitamente: os diálogos são magistrais e o filme poderia figurar no currículo do Curso de Roteiragem da Escola Superior de Plausibilática.

Só erraram no título. Deveria ser Uma Mão Lava a Outra.

22 março 2006

O radóstico agnical

Não é segredo q tanto nosso engalanado Dr Plausível qto eu somos agnósticos radicais.

Mas vira e mexe me aparece nos comentários alguém q, achando entender o termo 'agnóstico radical', impunemente improvisa impropérios impugnantes imputando imperfeições imperdoáveis. A crítica comum aos agnósticos é a de q são ateus covardes, egoístas preguiçosos e pensadores vacilantes.

HAHAHAHAHAHAHAHAHA

É bem possível q haja agnósticos q combinem com essa descrição. Não, contudo, os radicais. Os radicais são aqueles pra quem a questão da providência, criação e existência dum deus não fede nem cheira: ninguém sabe nada de nada. Porém, a um nível mais profundo, a expressão "crer em Deus" nem sequer faz sentido prum agnóstico radical. Vejam a mesma pergunta posta a um crente, a um ateu, a um agnóstico e a um agnóstico radical:

¿Deus existe?
crente: Sim.
ateu: Não.
agnóstico: Não sei.
agnóstico radical: ...?!?!?

Eis aqui um diálogo típico entre um fuçador e um agnóstico radical:

F: ¿Deus existe?
AR: ...?!?
F: Então vc não crê em Deus.
AR: ...?!?!?
F: Ué, ¿vc crê ou não crê?
AR: ...?!?!?!?

Aos ouvidos do AR, o 'diálogo' soa assim:

F: ¿Vbznñglfng mnhfns?
AR: ¿O quê? ¿Como?
F: Então vc não blmpqrkgñ em vnzlms.
AR: ¿Como? ¿Quê? ¿Hein?
F: Ué, ¿vc fngzbljnmñpxs ou não xzbvfnglrtspfñgl?
AR: ¿Ué o quê? ¿Como? ¿Que disse? Ãã?

Pro AR, a existência ou inexistência de Deus, a transcendência ou destranscendência dos dogmas, a necessidade ou desnecessidade das tradições são questões q não fazem a menor diferença, cosmicamente falando: a ignorância da gente é tão vasta, q tanto crer como descrer são apenas atos de soberba e presunção.

De fato, as crenças recebem um ajuda especial da soberba e da presunção. O agnóstico radical às vezes desconfia q a expressão "eu creio" significa na verdade "eu quero":

Eu quero em Deus (viver bem, não sofrer, ir pro céu, ter vida eterna, q meus inimigos se ferrem, &c).

... e não admira q as religiões todas procurem negar precisamente aquilo q mais as promovem: ao mesmo tempo em q se valem de laços familiares e étnicos mais q de atributos dogmáticos pra se manter e crescer (Eu quero em Deus q tudo dê certo pra mim, meus familiares e meus semelhantes.), buscam cinicamente sustentar q 'crer' é uma expressão de altruísmo capaz de congregar todas as raças e classes. Hmm. E é melhor vc começar a crer , senão vc não consegue nada do q quer – muito pelo contrário, vai levar na cabeça muita coisa q não quer. Ou seja, ao crer, tua alma vai realizar todos os desejos e anseios de tua animalidade. – ...?!?!?

Mas tem um detalhe q pouca gente pesca no termo 'agnóstico radical': pro AR, a questão da (in)existência de deuses é uma questão secundária dum sub-assunto piquititico do conhecimento. Bilhões de pessoas neste mundinho se definem idiotamente a partir de suas crenças, qdo o q na verdade define o indivíduo e o distingue dos outros são seus conhecimentos – e o q vc sabe é TUDO q vc sabe: vc sabe falar português, vc sabe o q teu pé esquerdo tá sentindo agora, vc sabe o q fez ontem, vc sabe o q dizem os textos religiosos, vc sabe q a água congela no frio e evapora no calor &c &c &c &c &c. Os próprios crentes sabem intuitivamente q o conhecimento é mais definidor pois, afinal, crer é uma expectativa de saber: a fé é uma confiança num saber futuro: o crer almeja o saber: questões de crença são avassaladoramente menos relevantes do q questões de conhecimento. Mas nem os q se auto-definem 'ateus' percebem isso: a cada vez q pensam em crença como defininte, tão jogando o jogo insípido e bocó dos teístas; a cada vez q se definem como ateus, tão entregando a bola de bandeja pro time adversário. Se o saber é multivezes mais relevante do q o crer, então não faz sentido se definir a partir do crer. Pois pensa bem, leitor, se vc não tem uma coisa quase imperceptível, tal como a unha dum dos dedos médios do pé, vc não se define como 'não-unhático'; porém, se é IMPOSSÍVEL vc ter uma coisa super defininte da aparência, tal como cabelo, faz sentido vc se dizer 'careca'.

Então. ¿Sabe QDO ateus e teístas vão enxergar q a crença é um definidor quase irrelevante do indivíduo? Nunca. O hipoplausivírus os viciou nos argumentos circulares da crença.

E ¡ó dogmas defensivos! ¡ó tótens truculentos! não me venham dizer q estou aqui promovendo uma visão de mundo melhor q as outras. Só estou explicando o q quer dizer 'agnóstico radical'. Quem tendeu, tendeu. Quem num tendeu, num tende mais.

17 março 2006

poca onda

Ultimamente, assistir trailers ao lado do Dr Plausível vem ficando cada vez mais divertido. Sesdias, vendo o trailer dum filme chamado acho q "O Novo Mundo", nosso esteiado doutor esputou uma gargalhada q contaminou o cinema inteiro. A história do filme se passa lá pelo final do século 16. Perto do fim do trailer, aparece o Cristopher Plummer com cara de desamparado dizendo:

"I beg you. Let not America go wrong in her first hour."

¡¡¡HARHARHARHARHARHARHARFÓÓÓóóó...!!!

¡¡¡QUARKQUARKQUARKQUARKQUARKQUARK!!!

Tem gente q não aprende, né? O Dr Plausível aqui disponível pra evitar q tantos roteiristas passem ridículo, e assim mesmo eles vão lá e insiiiistem.

15 março 2006

mas... mas...

Às vezes não é legal ouvir a risada de nosso educante doutor. A tv paga já veicula alguns comerciais, e agora um deles está anunciando a própria como veículo de ainda mais comerciais. Ou seja, estão planejando aumentar a porcentagem de tempo tomado por anúncios. Mas... mas... a idéia da tv paga ¿não era justamente não ter comerciais? ¿Eu pago R$1400 por ano pra essa coisa me entuchar de anúncios e às vezes de repente cortar o programa q estou assistindo pra passar 20 minutos de pig prother prasil pra ver se eu gasto mais uns trocados ligando pra votar? ¡¿Que porra?! O Dr Plausível ri, e a luz de sua fulgurante risada joga um cruel holofote em cima da multidão de trouxas como eu, q confirmam as previsões de Huxley, bebericam soma e reclamam às paredes.

03 março 2006

O grupo do Sérgio

Entre as coisas mais hilárias no jornalismo brasileiro estão os albardeiros de traduções fajutas – os maus alfaiates de texto q rondam as oficinas estrangeiras catando retalhos de escritores melhores, traduzindo-os pifiamente e costurando tudo de qqer jeito num só artigo (q o albardeiro pode atribuir a si mesmo e assim descolar uns trocados). O texto original tem q ser estrangeiro, lógico, de preferência em inglês – língua em q se escreve mais e melhor q em português – porque assim fica mais difícil apontar quem são os alfaiates verdadeiros.

Num país carente de leitura como é o Brasil, é muito disseminada a prática de engrupir o editor e por tabela o leitor pagante. Um contumaz adepto era o PFrancis, de quem já falei aqui, onde tbm falei de outro caso. Essa prática não seria tão ruim se os albardeiros fossem bons tradutores. Afinal, de qqer modo, toda informação deriva de outra, e essa de outra e assim ad infinitum. Mas informação é uma coisa e autoria é outra. ¿Que tal citar as fontes? Êi, e ¿que tal não assinar? Se ao menos disfarçassem demonstrando um decente e criativo conhecimento das duas línguas, ou mesmo bom-senso, o plágio não ficaria tão óbvio. A ocasião faz o ladrão e a inaptidão faz a prisão.

Talvez um termo melhor q 'albardeiro' fosse 'salsicheiro' pois, como se diz, ninguém comeria salsicha se todos soubessem como é feita.

O Sérgio de meu título é, suponho, ãã... um dos críticos de cinema na Folha. O artigo q inspirou estes comentários foi publicado no Guia da Folha no último 3 de março e é quase um manual do albardeiro-salsicheiro. Quem tiver acesso via internet, pode lê-los nestes locais:

http://www1.folha.uol.com.br/guia/ci0303200601.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/guia/ci0303200603.shtml

Abaixo uma listinha dos indícios comuns:

1. Frases com raciocínios evidentemente criados em inglês:
Se adultos podem discutir quais são os seus filmes prediletos entre os indicados e para quem gostariam que os prêmios fossem entregues, este só pode ser um ano atípico na história recente do Oscar

2. Expressões q até fazem sentido em português, mas q, no contexto, só podem ter aparecido na mente dum inglesante:
filme eminentemente popular

3. Expressões contendo preposições q indicam movimento duma maneira inusitada em português:
transpor a fronteira para o território do "cinema de prestígio"

4. Frases em q há uma distância enorme entre palavras q apareceriam próximas em português (note a palavra 'fizeram', inglês 'did'): Nenhuma superprodução ou filme eminentemente popular se mostrou capaz de transpor a fronteira para o território do "cinema de prestígio" ou "de qualidade", como "Gladiador", "Uma Mente Brilhante" e "O Senhor dos Anéis" fizeram.

5. Frases com estrutura modular embutida, típica do inglês, q teriam estrutura mais arredondada se escritas originalmente em português:
A lista dos dez indicados nas duas categorias de roteiro, seleção ampliada do que os eleitores da Academia consideram que houve de melhor na temporada...

6. Expressões sintéticas cheias de significado em inglês, mas q soam vagas se simplesmente traduzidas:
No que realmente conta, nem sinal de "As Crônicas de Nárnia", "King Kong", "Harry Potter", "Batman Begins" e "Star Wars".

7. Frases cuja estrutura inglesa levam desde o início a uma certa entonação, mas q em português confundem o leitor:
De volta aos anos 70, quando o Oscar de melhor filme era disputado por "Laranja Mecânica", "A Última Sessão de Cinema", "Amargo Pesadelo", "Gritos e Sussurros", "Chinatown", "A Conversação", "Um Estranho no Ninho", "Nashville" e "Taxi Driver", entre outros? Nem tanto, mas até lembra um pouco aquele tempo.

8. Frases de efeito q tipicamente aparecem em inglês, incomuns em português:
Diga o que quiser dessa história, exceto que só pode ser coisa de filme.

9. Inícios de frase q remetem a estruturas comuns em inglês, inauditas em português:
Houve mesmo Laura Henderson, a personagem que valeu à inglesa Judi Dench, 71, sua quinta indicação para o Oscar.

10. Estruturas modulares analíticas q em português mais comumente seriam sintéticas:
indicação para o Oscar em vez de indicação ao Oscar.

11. Expressões simplesmente mal traduzidas:
ajudou a revigorar a cena teatral inglesa

12. Aparente ignorância sobre a origem de expressões inglesas:
Aqui, esse pedaço da trama reaparece, (...) mas em chave triste. 'On a sad key' é um termo originado da música (onde key=tom); diz-se q os tons menores são 'tristes'.

13. Expressões aliterativas em inglês q são de uso comum por causa de sua aliteratividade. Em português, a tradução às vezes soa como o primo pobre de alguma outra expressão portuguesa de mesmo significado:
embora os bombardeios aterrorizem Londres, é sempre possível encontrar alegria, companhia e seios nus no Windmill. (inglês=bare breasts)

Nosso estelar doutor pode estar totalmente errado. O jornalista q ganhou uns trocados pela publicação desse texto no Guia da Folha pode simplesmente ter lido todo o material promocional (em inglês) e algumas críticas (em inglês) e, consultando seu invejável conhecimento de cinema, ter escrito essas linhas todas de próprio punho. Ele pode simplesmente ser um mau escritor. Mas... mas... ¿isso não seria até mais hilariante? ¿...q um veículo de circulação nacional se veja reduzido a publicar um artigo assinado dum suposto crítico de cinema q lê tanto em inglês q mal consegue diferenciar o inglês do português em seus próprios escritos?

Na verdade há pouquizíssimos críticos de cinema no Brasil. Há, sim, uma quantidade enorme de divulgadores de cinema, o pessoal q une seu conhecimento de inglês, seu gosto por cinema e seus contatos com veículos de imprensa pra ganhar a vida modestamente. Nada contra alguém ganhar a vida modestamente. O jornalista q assinou as matérias acima tem minha total compreensão. Mas seu cachê vem dos milhões de pessoas (entre elas, parentes e amigos meus) q gastam dinheiro de seu próprio bolso ao comprar jornais em q esperam obter, no mínimo, uma compreensão imediata do q lêem; e no entanto são rotineiramente expostos à cara-de-pau de albardeiros q nem sequer utilizam muitos neurônios pra costurar os retalhos q roubam. O problema, o hilariante, é o q isso demonstra sobre a maneira como se fazem tantas coisas influentes no Brasil.

A gargalhável seriedade da fachada.

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA