15 julho 2006

O crime na imprensa

Muito sofre um país como o Brasil por não se utilizar rotineiramente dos serviços do Dr Plausível. É vero q tem criminoso fazendo festa por aí. Pra piorar a coisas, o público jornaleitor, radiouvinte e telespectador é obrigado a diariamente ler e ouvir gente desgorgolando as tripas em indignações, desgostos, acusações e desesperanças, em q os bandidos são 'monstros', 'fascínoras', 'inumanos', e outros elogios involuntários.

Mas há luz no fundo do poço. Sesdias, o doutor descobriu q alguns noticiários não falam mais em PCC e preferem termos gerais como "facções criminosas":

"Ontem à noite, uma facção criminosa incendiou vários ônibus, e homens armados alvejaram três agências bancárias."

É bom e são, o raciocínio por trás dessa decisão. Pois ¿pra quê gratificar esse pessoal com notoriedade fácil na mídia? No entanto, nosso escrupuloso doutor acha q não é suficiente. Não basta negar um estímulo: tem q desestimular, ora pois não? O criminoso, em algum recanto de si, certamente se orgulha de seus crimes: de fato, entre os objetos de orgulho criminal, estão a 'esperteza' e a 'eficiência' do malfeitor.

A sugestão do doutor é simples: substituir as siglas, frases descritivas e epítetos denigritórios por eufemismos, num tom meio comiserativo:

"Esta madrugada alguns ônibus foram incendiados em Jecápolis em ataques atribuídos a gente burra."

"Três policiais foram baleados por coitados armados."

"Ontem á noite, pessoas idiotas incendiaram vários ônibus, e alguns tontos pouco competentes tentaram destruir três agências bancárias."


Em contrapartida, há também q estimular os bandidos a desistirem do crime:

"O imbecil q matou o guarda mostrou considerável QI ao se entregar à polícia."

"A prisão dessa quadrilha de babacas é prova irrefutável de sua evidente inteligência."


Com isso, algumas editoras, estações de rádio e tv serão atacadas, mas só por uma birra passageira. Logo-logo a criminalidade diminuirá substancialmente e enormes quantidades de povo poderão sair às ruas e seguir incomodando o cidadãos pacatos com atividades perfeitamente normais e consentidas nas madrugadas, tais como inaugurar boate sem isolamento acústico à meia noite, alardear um funk carioca na caçamba da camionete à uma, começar uma batucada de bar às duas, desencadear buzinaços às três, deixar o alarme do carro tocando às quatro e só fazer o cachorro no quintal parar de latir às cinco.

En bref, la canaille comme il faut.

11 comentários:

Pracimademoá disse...

A palavra "facínora" não tem "s".

Vocês (Pa-Bel) devem estar se lixando pra isso, mas talvez alguns leitores gostem de saber.

Salamaleque.

Permafrost disse...

Ixe!

Mas ainda bem q tá entre aspas, né?

... facínora ... fascínio ... :•)

naaa... não cola

a parte Bel disse...

Só pra esclarecer: a parte Bel da dupla teria consultado o dicionário antes de escrever, se estivesse em dúvida, ou já teria modificado o texto depois de corrigida e agradecido a correção. A parte Bel da dupla não senta para escrever neste blog e, geralmente, só serve para alimentar a parte Pa de pautas trash sobre cultura pop e/ou inspirá-lo com suas (da parte Bel) patéticas pequenas indignações cotidianas. Obrigada.

Ícono disse...

A palavra "facínora", de fato, não se escreve com "s". Trata-se de erro de grafia, condenável pela gramática normativa. Já sua frase "A conta do ensino público tem que ser paga por quem não tem interesse nenhum em gerar futuros concorrentes" contém, no seu conceito, Pracimademoá, erro crasso de raciocínio gramatical: duas negativas resultam numa afirmativa. Segundo seu apreço pela gramática, você jamais poderia ter escrito sua idéia dessa forma, senão + ou - assim: 'A conta do ensino público tem que ser paga por quem não tem qualquer interesse em gerar futuros concorrentes'. Mas veja que, qualquer brasileiro, português, angolano, moçambicano, pra citar só esses, entenderiam perfeitamente o que você pretendeu dizer, embora a gramática que você tanto defende o crucifique, depois o esquarteje e, por fim, arraste seus restos pelas ruas pra que sirvam de exemplo à choldra ignara que não sabe falar corretamente. Fala a verdade: você tem alguma condição de impertinentemente, inoportunamente, inconsistentemente, inadequadamente corrigir quem quer que seja por escrever um vocábulo errado (?). Ninguém tem. Sobretudo os gramáticos de plantão.

Linha disse...

Mais uma:

Não é "en bref", é só "bref".

A propósito, sou sua fã.

Coluna disse...

Cacetada!

Permafrost disse...

Linha, é verdade. Aprendi mais uma.

Linha disse...

disponha e keep on the good work ;)

Camelo disse...

A dupla negativa em português é perfeitamente aceita e até mesmo preferida por vários escritores brasileiros considerados "clássicos", e não corre o menor perigo de passar por afirmativa.
Outra coisa, o que é "erro crasso de raciocínio gramatical"? Sendo a gramática uma estrutura que nós adquirimos por PURA convenção, onde é que entra o "raciocínio" nesta história?
Outra coisa, a expressão correta é "en bref" e não "bref".
Desculpem-me a franqueza, mas VÃO CHUTÁ ASSIM LÁ NA CASA DO CHAPÉU!!!!

Herpes da Fonseta disse...

Suas questões de opinião, Camelo, não vou comentar, mas quem chutou ali sobre o francês foi VOCÊ.

"En bref" é uma locução que qualifica um assunto e vem APÓS o nome do assunto:

Le Web en bref.
Le chameaux en bref.

"Bref" é um advérbio usado para iniciar uma frase que resume um assunto em poucas palavras:

Bref, tu a PISÉ en la BOLLE.

Pracimademoá disse...

Alô, Ícono! Óia eu aqui.

Você está completamente contaminado pelo inglês. Não tem "QUALQUER"? "Doesn't have ANY..."? Pra cima de moi?!!! Putz, eu ODEIO quando aparece um DQD(*) escrevendo assim. E é uma praga, cada vez mais tem DQD escrevendo isso.

Mas veja bem, eu disse ESCREVENDO. Porque gente FALANDO assim eu nunca vi, a não ser dando entrevista pra televisão, momento em que 9 entre 10 entrevistados passam a ferro com bastante goma todo o corpo da cintura pra cima e começam falar daquele jeitão gozado 100% artificial. Aí sim, esse "qualquer" de meia-tigela aparece bastante.

A dupla negação é característica de línguas latinas: português, espanhol, francês (à sua maneira peculiar). Talvez outras. É uma questão histórica e cultural. É claro que pode ser questionada, mas não é nenhuma aberração. Você está é a fim de implicar. Mas tudo bem, muita gente vem aqui só para implicar mesmo.

(*) DQD=debuquizondetêibou

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