03 março 2006

O grupo do Sérgio

Entre as coisas mais hilárias no jornalismo brasileiro estão os albardeiros de traduções fajutas – os maus alfaiates de texto q rondam as oficinas estrangeiras catando retalhos de escritores melhores, traduzindo-os pifiamente e costurando tudo de qqer jeito num só artigo (q o albardeiro pode atribuir a si mesmo e assim descolar uns trocados). O texto original tem q ser estrangeiro, lógico, de preferência em inglês – língua em q se escreve mais e melhor q em português – porque assim fica mais difícil apontar quem são os alfaiates verdadeiros.

Num país carente de leitura como é o Brasil, é muito disseminada a prática de engrupir o editor e por tabela o leitor pagante. Um contumaz adepto era o PFrancis, de quem já falei aqui, onde tbm falei de outro caso. Essa prática não seria tão ruim se os albardeiros fossem bons tradutores. Afinal, de qqer modo, toda informação deriva de outra, e essa de outra e assim ad infinitum. Mas informação é uma coisa e autoria é outra. ¿Que tal citar as fontes? Êi, e ¿que tal não assinar? Se ao menos disfarçassem demonstrando um decente e criativo conhecimento das duas línguas, ou mesmo bom-senso, o plágio não ficaria tão óbvio. A ocasião faz o ladrão e a inaptidão faz a prisão.

Talvez um termo melhor q 'albardeiro' fosse 'salsicheiro' pois, como se diz, ninguém comeria salsicha se todos soubessem como é feita.

O Sérgio de meu título é, suponho, ãã... um dos críticos de cinema na Folha. O artigo q inspirou estes comentários foi publicado no Guia da Folha no último 3 de março e é quase um manual do albardeiro-salsicheiro. Quem tiver acesso via internet, pode lê-los nestes locais:

http://www1.folha.uol.com.br/guia/ci0303200601.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/guia/ci0303200603.shtml

Abaixo uma listinha dos indícios comuns:

1. Frases com raciocínios evidentemente criados em inglês:
Se adultos podem discutir quais são os seus filmes prediletos entre os indicados e para quem gostariam que os prêmios fossem entregues, este só pode ser um ano atípico na história recente do Oscar

2. Expressões q até fazem sentido em português, mas q, no contexto, só podem ter aparecido na mente dum inglesante:
filme eminentemente popular

3. Expressões contendo preposições q indicam movimento duma maneira inusitada em português:
transpor a fronteira para o território do "cinema de prestígio"

4. Frases em q há uma distância enorme entre palavras q apareceriam próximas em português (note a palavra 'fizeram', inglês 'did'): Nenhuma superprodução ou filme eminentemente popular se mostrou capaz de transpor a fronteira para o território do "cinema de prestígio" ou "de qualidade", como "Gladiador", "Uma Mente Brilhante" e "O Senhor dos Anéis" fizeram.

5. Frases com estrutura modular embutida, típica do inglês, q teriam estrutura mais arredondada se escritas originalmente em português:
A lista dos dez indicados nas duas categorias de roteiro, seleção ampliada do que os eleitores da Academia consideram que houve de melhor na temporada...

6. Expressões sintéticas cheias de significado em inglês, mas q soam vagas se simplesmente traduzidas:
No que realmente conta, nem sinal de "As Crônicas de Nárnia", "King Kong", "Harry Potter", "Batman Begins" e "Star Wars".

7. Frases cuja estrutura inglesa levam desde o início a uma certa entonação, mas q em português confundem o leitor:
De volta aos anos 70, quando o Oscar de melhor filme era disputado por "Laranja Mecânica", "A Última Sessão de Cinema", "Amargo Pesadelo", "Gritos e Sussurros", "Chinatown", "A Conversação", "Um Estranho no Ninho", "Nashville" e "Taxi Driver", entre outros? Nem tanto, mas até lembra um pouco aquele tempo.

8. Frases de efeito q tipicamente aparecem em inglês, incomuns em português:
Diga o que quiser dessa história, exceto que só pode ser coisa de filme.

9. Inícios de frase q remetem a estruturas comuns em inglês, inauditas em português:
Houve mesmo Laura Henderson, a personagem que valeu à inglesa Judi Dench, 71, sua quinta indicação para o Oscar.

10. Estruturas modulares analíticas q em português mais comumente seriam sintéticas:
indicação para o Oscar em vez de indicação ao Oscar.

11. Expressões simplesmente mal traduzidas:
ajudou a revigorar a cena teatral inglesa

12. Aparente ignorância sobre a origem de expressões inglesas:
Aqui, esse pedaço da trama reaparece, (...) mas em chave triste. 'On a sad key' é um termo originado da música (onde key=tom); diz-se q os tons menores são 'tristes'.

13. Expressões aliterativas em inglês q são de uso comum por causa de sua aliteratividade. Em português, a tradução às vezes soa como o primo pobre de alguma outra expressão portuguesa de mesmo significado:
embora os bombardeios aterrorizem Londres, é sempre possível encontrar alegria, companhia e seios nus no Windmill. (inglês=bare breasts)

Nosso estelar doutor pode estar totalmente errado. O jornalista q ganhou uns trocados pela publicação desse texto no Guia da Folha pode simplesmente ter lido todo o material promocional (em inglês) e algumas críticas (em inglês) e, consultando seu invejável conhecimento de cinema, ter escrito essas linhas todas de próprio punho. Ele pode simplesmente ser um mau escritor. Mas... mas... ¿isso não seria até mais hilariante? ¿...q um veículo de circulação nacional se veja reduzido a publicar um artigo assinado dum suposto crítico de cinema q lê tanto em inglês q mal consegue diferenciar o inglês do português em seus próprios escritos?

Na verdade há pouquizíssimos críticos de cinema no Brasil. Há, sim, uma quantidade enorme de divulgadores de cinema, o pessoal q une seu conhecimento de inglês, seu gosto por cinema e seus contatos com veículos de imprensa pra ganhar a vida modestamente. Nada contra alguém ganhar a vida modestamente. O jornalista q assinou as matérias acima tem minha total compreensão. Mas seu cachê vem dos milhões de pessoas (entre elas, parentes e amigos meus) q gastam dinheiro de seu próprio bolso ao comprar jornais em q esperam obter, no mínimo, uma compreensão imediata do q lêem; e no entanto são rotineiramente expostos à cara-de-pau de albardeiros q nem sequer utilizam muitos neurônios pra costurar os retalhos q roubam. O problema, o hilariante, é o q isso demonstra sobre a maneira como se fazem tantas coisas influentes no Brasil.

A gargalhável seriedade da fachada.

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

21 fevereiro 2006

O sonho pônei

O Dr Plausível não ri só qdo trata hipoplausibiléticos; também ri do q é perfeitamente encaixadinho. Mas aí é um riso estético-extático, reservado älguns budistas e um q outro agnóstico. Uns meses atrás, despucelando-se de rir, nosso empedernido doutor me mostrou uma tirinha de jornal. Olhei e logo vi q se tratava de uma das mais geniais tirinhas de toda a história dos quadrinhos, e na data de hoje escolhi render homenagem ä dita cuja. Sempre sigo o conselho do Tom Stoppard, “don't clap too loudly, it’s a very old world” &c. Mas o autor da tirinha, Caco Galhardo, acertou tão na mosca, q merece uns tapinhas nas costas e uma noitada num puteiro.

O Pequeno Pônei é um cavalinho mal-humorado q quer, por assim dizer, extrapolar sua poneidade. Sempre q declara um desejo de ser outra coisa, vem alguém e diz, “¡Mas você é um pônei!” Por exemplo, na tira anterior, o Pequeno Pônei encontra o Chet Baker:

PeqPon: Chet, estou farto dessa vida fútil. Quero ser profundo como você.
CheBak: Forget it, pal. You’re a pônei.

E aí vem esta obra-prima: E na tirinha seguinte:

PP: Chet, estamos neste deserto há horas e até agora nem sombra de inspiração.
CB: Eu estou curtindo.
PP: Curtindo o quê, o sol escaldante, a areia penetrante, a solidão implacável?
CB: Não, curtindo andar de pônei.
PP: Não zoa, Chet.

O Dr Plausível pondera q boa parte do mundo se divide entre chets-bakers e pequenos-pôneis: num lado, aqueles poucos q, com talento e trabalho, se encontraram nalguma arte ou ofício e, no outro, aqueles muitos q, procurando uma revelação ou uma mudança de vida, sustentam e enriquecem os primeiros ao tentar percorrer o mesmo caminho q eles, mas na verdade os carregam. Nosso esbaldado humanista com certeza teria coisas mais profundas à dizer sobre a tirinha. Já eu, ¿quê posso dizer senão isto?:
Talvez por tê-los visto algumas horas antes, instantâneamente me vieram ä mente o Ozzy Osbourne, Paulo Coelho e os críticos do Lula. Explico. ¿Já viram aquele seriado com a família Osbourne? Pois então. Vendo aquela riqueza estapafúrdia em q o Ozzy vive, e por associação (em > ou < grau) todo artista famoso, é impossível descartar a constatação de q aquilo tudo saiu dos bolsos das dezenas de milhões de fãs idólatras impressionáveis q compraram discos à preços ‘de mercado’ (haha) e pagaram pra ver shows exorbitantes economizando as merrequinhas do dia-a-dia.

E também é quase impossível não pensar (e este é meu ponto principal) numa parte desses fãs: os milhões de jovens sem grande talento, tempo ou tino q se ‘inspiram’ nos ‘grandes’ artistas e compram guitarras, teclados, trompetes, baterias, métodos, CDs &c e desperdiçam horas, meses e anos de suas vidas no sonho pônei de também se tornarem ‘grandes’ artistas (nada contra tocar um instrumento pra se divertir ou pra ganhar uns trocados). A grande maioria desses jovens jamais vai chegar à lugar algum dessa maneira; mas durante esse processo, perdem tempo e gastam um baita dinheirão comprando os produtos q ajudam à patrocinar a imensa riqueza dos artistas e fabricantes, distribuidores, lojistas, &c. Tudo se move à partir da aura do artista, a aura de quem tem o pé firmemente plantado em si mesmo, q conhece seus limites, sabe do q é capaz e o faz, e enormes fortunas são carregadas literalmente nas costas de quem procura trilhar o mesmo “longo caminho”. De vez em qdo alguém se dá bem, mas aí o caminho é o caminho dele e não o do artista (q à partir daí é demovido ao status de “influência”).

O q me leva ao P.Coelho, o “alquimista” q transforma lugares-comuns em ouro de tolo. É o cara q supostamente diz q cada um deve seguir seu próprio sonho e, paradoxalmente, enriqueceu vendendo os mesmíssimos livros à dezenas de milhões de leitores. É gargalhàvelmente triste. Pensei nele ao ver a tirinha, mas poderia ter pensado em qqer um das miríades de outros autores, compositores e filósofos q, ao expressarem sua própria verdade em seu próprio estilo forjado por seu próprio talento e seu próprio trabalho, dão ao pônei a sensação de q ele pode chegar ao mesmo lugar imitando o resultado do trabalho e talento dos gênios –¡parece tão fácil!–, no q está não só enganando à si mesmo como sustentando e enriquecendo, distanciando e inchando a máquina mesma q os engana. Em essência, gozando com o pau dos outros.

E pensei também na pressão implacável pra q gastem fortunas aprendendo outras línguas pessoas q mal articulam um raciocínio claro em sua própria língua ou como se não houvesse mais à dizer e criar em sua própria língua; pensei no batalhão de mãezolas q pagam pra ver e suspiram vendo MBarishnikov ou NComaneci e enfiam as filhas no balé ou na ginástica (esse é o típico sonho pônei: ao aprender o básico de inglês ou de piano, pelo menos vc se diverte); pensei em toda a babação em cima de filósofos e todas as páginas publicadas e compradas q nunca foram nem serão lidas, e nos bilhões de livros comprados q mofam em prateleiras, sebos e cérebros; pensei nos escritores, atores e artistas –de preferência zeuaenses ou zoropeus– e suas hordas de fãs imitando trejeitos, dicções, frases, opiniões, penteados, modas e gostos, fãs q à cada imitação derramam alguns centavos, alguns milhares de neurônios, e assim pagam o aluguel devido como inquilinos de mentes alheias.

Dependendo do gosto, pra cada O.Osbourne e P.Coelho há uma E.Regina e um M.Proust ou outros milhares de artistas e escritores e dezenas de milhares de seus associados cavalgando centenas de milhões de pôneis q acreditam poder transcender sua poneidade pelo simples fato de percorrer um caminho já trilhado. Mais realista seria alguém chegar à cada um desses milhões e milhões de imitadores, fãs e deslumbrados e dizer: “¡Mas você é um pônei!” Mas já q isso seria dum mau-gosto abismal, ninguém se arrisca. Assim, é preciso q um Caco Galhardo coloque a coisa numa perspectiva, digamos, mais metafórica. E por isso, repito, merece bem merecido, e não mais q, uns tapinhas nas costas e uma noitada num puteiro.

Ainda há a questão do pônei em si. Pois ¿há algo de errado ou ruim ou vergonhoso em ser pônei? Pelo contrário, por dois motivos.
(1) O pequeno-pônei é o default do ser humano. Todo mundo é pônei em quase tudo. Já vi o P.Coelho tentando filosofar e posso dizer q não é a praia dele. E ¡me poupem de ver o cara dançando balé! Quem já viu o Ozzy no seriado, sabe q ele é pônei em tudo menos em beber da própria fama. ¿Quê dizer de Nietzsche, q se sentiu o próprio pônei depois q caiu dum cavalo e não pôde virar soldado? ¿Quê dizer de Tchaikovski, q ao q consta era tão bem dotado qto um pônei comparado à um garanhão?
(2) O mais importante é q todo chet-baker começou como pequeno-pônei, mas teve a sorte de desejar aquilo em q seu talento natural e suas circunstâncias desembocavam. Assim, não há nada de errado ou intrìnsecamente ridículo em alguém almejar, sonhar, sofrer influências e trabalhar feito um cavalo pra encontrar o próprio caminho. O ridículo, o ataque hipoplausibilético, é guiar-se pelos outros, deixando as rédeas do focinho nas mãos do chet-baker de ocasião.

E ¿quê dizer de Lula, q é acusado diàriamente de ser um pônei da gramática e está pouco se lixando pois se recusa à carregar a cheta-baker q é a norma culta (NoCu, segundo eu) até um deserto q ele jamais poderia chamar de Lar? Certo está ele, pois apesar do q dizem os pôneis da NoCu, ninguém fala errado a própria língua. Os críticos desse aspecto do Lula são os q promovem a idéia do Brasil como um país-pônei, uma nação de expatriados, uma imitação de pátria. São os q querem o Brasil todo pedindo à um chet-baker “me ensina à ser desenvolvido como vc” e o chet-baker dizendo “tá bom, tá bom, mas é um loooongo caminho.” Merecem gargalhadas (nem estéticas nem extáticas).

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

15 fevereiro 2006

A pergunta calada

A mulher de Martin Luther King, Coretta Scott, faleceu semana passada. Na ocasião da morte por assassínio de seu marido, ela fez uma pergunta q, por ironia do destino, só chegou aos ouvidos de nosso escorado doutor após a morte dela. Q descanse em paz, pois sua pergunta, feita num momento tão dramático, pode finalmente ser respondida.

Q: How many men must die before we can really have a free and true and peaceful society?
A: Will 6.5 billion do?

(Tradução:
P: Qtas pessoas precisam morrer pra q a gente possa realmente ter uma sociedade livre, correta e pacífica?
R: 6,5 bilhões já dá?)

12 fevereiro 2006

Pentacampeãs

Pra quem não o conhece, às vezes é difícer se concentrar num filme com o Dr Plausível ao lado. Parece q ele ri nas horas erradas e não está entendendo nada. Mas nisso ele é q nem os loucos: não é q eles não estão entendendo; é q estão com a atenção em outra coisa.

Sesdias, nosso emoldurado cientista estava num cinema vendo os trailers, e eis senão q lhe aparece um dum filme chamado, acho, Mulheres do Brasil, q entrelaça as histórias de "... cinco mulheres de todos os cantos do Brasil...". Aí não deu...

HAHAHAHAHAHARHARHARHAR

¿¡¿Cinco mulheres de todos os cantos do Brasil?!?

¿De onde esse pessoal tira essas coisas, Casimiro?

09 fevereiro 2006

O cartum humano (2)

Os dogmas das três religiões do deserto são das manifestações mais engraçadas do ser humano. Tipo "não comerás carne na Semana Santa", "rasparás a cabeça de tua mulher", "não representarás graficamente a figura de teu profeta", essas coisas. São engraçadas porque, fazendo um raciocínio reverso, é fácil descobrir como, a partir dum estorvo ou duma situação excepcionais, os originantes desses dogmas criaram uma regrinha patente e obviamente ad hoc q, por ter resolvido um problema fortuito, foi investido de autoridade e tradição pra todo o sempre e mais três dias.

E foi num desses raciocínios reversos q o Dr Plausível de repente caiu numa gargalhada q foi ouvida a dois quarteirões (eu sei disso pq eu estava a dois quarteirões qdo ele riu). A pergunta q se fez foi a seguinte:

P: ¿Por que será q os muçulmanos proíbem a representação gráfica de seu profeta?"

R: Ele devia ser feio pacas.

(Aliás, aos apressadinhos é oportuno avisar q nem eu nem o Dr Plausível temos qqer preconceito contra gente feia, tal como fica claro na palestra cujas duas primeiras partes eu transcrevi aqui e aqui. Se algum muçulmano, ao ler o exposto acima, se ofender, pode com razoável certeza culpar a si mesmo por ter um abominável preconceito contra gente feia a ponto de achar q a suposta feiúra de seu profeta pudesse ser motivo de vergonha, censura ou indivinidade. ¡Vê se te manca, mano!)

(Outraliás, os apressadinhos q considerarem o texto acima insultante por outros motivos, devem ser informados de q as três religiões do deserto, cada uma a sua maneira, ganham de lavada e empatados o "concurso de organizações mais insultantes do planeta", tal como analisado pelo Dr Plausível aqui. Então, olhem-se no espelho e atire a primeira pedra quem nunca tiver insultado os agnósticos e os ateus.)

04 fevereiro 2006

O cartum humano

Não é à toa q nosso escolado doutor é agnóstico radical. Primeiro, porque os agnósticos radicais gargalham muito mais q os ateus. Segundo, porque seguir uma religião qqer seria quase equivalente a ter um atestado de esquizóia, um baita dum calo em cada pé e uma carteirinha de pugilista aleatório – ou seja, coisas de pessoa q, pra se defender contra ferimentos imaginários, sai repartindo porrada: nas clínicas Dr Plausível, esse tipo é alojado na ala dos "Contumazes".

Cada época tem sua religião pentelha. Já tivemos os faraócios, os cri-cris, estamos quase saindo dos jujubas, e agora, no começo deste século, sobrou pros muças. Esses implicam até com senso de humor. Alguém tem q pedir a eles q por favor façam uma listinha de tudo q não se pode fazer no resto do mundo, do mesmo jeito q em outras épocas teriam sido bem-vindas outras listinhas – dos cristãos e, até recentemente, dos judeus (¡ó não! ¿ainda não pode isso?).

Talvez ajudasse se alguém levasse os muças a um cantinho e lhes fizesse umas perguntinhas, só pra evitar mal-entendidos. Tipo:

¿Posso entrar de calção em bar de esfiha?
¿Posso usar algarismos arábicos pros versículos do Torá?
¿Posso perguntar se Maomé tinha meleca?
¿Posso cantarolar "Alá, meu bom Alá" em ônibus vazio indo prà Bahia?
¿Posso fazer trocadilho com Mao-Mé-Tung em jornal de Cuiabá?
¿Posso trocar uma letra em meu bidê Deca?

Por favor, diz aí, quebra esse galho.

Pois o amusement do doutor é bem compreensível. Tudo bem q uma religião condene aos infernos um seguidor q pisa na bola. Mas ¡¿condenar um não muçulmano por fazer algo q um muçulmano não pode?!

¡¡¿¿UÉÉÉÉÉÉÉ??!!

02 fevereiro 2006

"Pouco" é pouco

Qdo fica entediado esperando pacientes, nosso encomioso Dr Plausível às vezes dá um rolê pela internet pra ver como estão as coisas. É bom q não esteja comendo ou bebendo nada, porque é bem possível q a tela do puter leve um esguicho de suco de toronja ou uma saraivada de farofa.

Sesdias, foi a vez do iogurte desglotir-se sobre o teclado. O doutor estava dando uma bizoiada no site de ensino de inglês da Voice of America. Tem uns artigos em texto facilitado e áudio marcha-lenta pra estrangeiros entenderem e estudarem. É óbvio q, sendo o site estadunidense, os textos vão teimar em fazer pouco da inteligência do estudante estrangeiro de inglês (qdo na verdade... ãã, deixa pra lá). O culpado pela perda total do teclado foi o seguinte título de artigo:

Geena Davis Is Not Really a President, but She Plays One on TV

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA...

¡¡¡Vai fazer pouco assim dos outros lá na Implausolândia!!!

16 janeiro 2006

Breve e completa história plausível da filosofia

Ser filósofo é prescrever-se aos outros.

29 dezembro 2005

Kant e sua nêmesis

Segue abaixo o q Immanuel Kant teve q ouvir do primeiro editor a quem mostrou sua "Crítica da Razão Pura".

Editor: Esse teu texto vai confundir o leitor. (confundir = causar confusão na mente de alguém)
Está confundinte; quem ler vai entender tudo errado. (confundinte = q confunde)
Vc precisa reduzir a confundintez desse texto, se não, não vai dar. (confundintez = qualidade daquilo q confunde)

¿Por que confundintizou esse assunto? ¿Quer q ninguém entenda? (confundintizar = tornar algo capaz de confundir)
Vc perdeu muito tempo na confundintização desse texto e agora está com preguiça. (confundintização = ato de confundintizar)
O confundintizamento desse assunto só pode ter resultado de tua inépcia. (confundintizamento = efeito da confundintização)
Esse assunto é muito confundintizável; teria sido melhor nem escrever sobre ele, pois será difícil não confundir o leitor. (confundintizável = q se pode tornar capaz de confundir)
A confundintizabilidade desse assunto deve ser o motivo de pouca gente escrever sobre ele. ¿Por que não desiste? (confundintizabilidade = qualidade do q se pode tornar capaz de confundir)

¿Quer fazer o favor de desconfundintizar esse texto? Do jeito q está, eu não publico. (desconfundintizar = reduzir a confunditez de algo, torná-lo mais claro)
Se quiser, eu até pago pela desconfundintização desse teu texto. (desconfundintização = ato de desconfundintizar)
Vc só vai conseguir publicar isso se chegar a um desconfundintizamento razoável. (desconfundintizamento = efeito da desconfundintização)
Acho até q esse texto está desconfundintizável; faça um esforço, q vc consegue torná-lo menos confundinte. (desconfundintizável = q se pode desconfundintizar)
Se não fosse a desconfundintizabilidade desse texto, eu já teria desistido de publicá-lo. (desconfundintizabilidade = qualidade do q se pode deixar mais claro)

¿Criptografar? ¿Tá maluco? Se vc criptografar o texto, vai indesconfundintizá-lo de vez. (indesconfundintizar = tornar impossível a desconfundintização de algo)
¿O quê? ¿Vc quis a indesconfundintização desse texto? E ¿onde é q o leitor fica nessa? (indesconfundintização = ato de indesconfundintizar)
Mas vejo q vc não fez o serviço completo. O indesconfundintizamento não foi total. Ainda há esperança. (indesconfundintizamento = efeito da indesconfundintização)
Kant: Sinto muito, mas esse assunto é indesconfundintizável: ou vc entente ou não entende. (indesconfundintizável = q não se pode tornar capaz de causar menos confusão)
Editor: Bem, se vc acredita na indesconfundintizabilidade desse texto, acho melhor não publicar. (indesconfundintizabilidade = qualidade do q não se pode deixar mais claro)

21 outubro 2005

Travessuras de gramãticos

Em país lusófono, sempre dá pra contar com os gramáticos pra raciocinar tudo atravessado e destrambelhar as cabeças de gado q seguem as regrinhas cagadinhas. Sesdias, o Dr Plausível, ao ler numa legenda a frase "Não aceito mais má-criações do seu filho", sinceramente sentiu dó.

Pois ¿não é q o dicionããrio não glosa 'malcriação'?

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Q ridículo.

Qqer besta de carga pode raciocinar q a locução 'má criação' (tal como numa frase como "Os maus modos à mesa são indício de má criação.") resultou na locução adjetiva 'mal criado' e então no adjetivo 'malcriado', e daí resultaram os substantivos 'malcriação' e 'malcriadez', ora pois não?

Mas depois de relegar 'malcriação' e 'malcriações' ao Cemitério das Boas Criações do Português, lá vêm os gramããticos dizer q o certo é 'má-criação' com o plural 'más-criações' e ¡PASMEM TODOS! também 'má-criações'.

Se vc encontrar uma só pessoa q diz unselfconsciously 'má-criações' em todo o planeta Terra e mais três luas, o Dr Plausível jura q faz o curso de Fascismo Avançado da Universidade Mussolini de Berlin.

15 outubro 2005

P1b: preconceitos sem ibope [2/3]

Abaixo, um resumo da segunda parte da palestra do Dr Plausível sobre a preconceitada toda. Leia a primeira parte aqui.

« Em filmes, por exemplo, o herói não pode menosprezar gente de raças diferentes da dele e deve tratar a mulher com respeito e equanimidade. Mas qdo o mesmo herói faz careta ao receber atenções de mulher feia, burra ou chata, a cena é tratada comicamente. Enforcar negros/judeus/índios e queimar/escravizar/espancar mulheres não pode; mas dificultar a felicidade e a reprodução de gente feia/burra/chata pode, né?

« Talvez admire a alguns q o racismo e o sexismo gozem de tanta publicidade, qdo há tantos outros preconceitos mais funestos e odiosos. Mas os motivos pra tanto ibope são simples:

« (1) raça e sexo resultam em preconceitos de vista curta, ou seja, generalizações identificáveis à distância mesmo por quem não enxerga bem; o racismo e o sexismo têm assim uma longa gama de distâncias pra se divertir, enquanto q o burricismo, o feiurismo e o chaticismo (por exemplo) precisam de maior proximidade pra fazer diferença;

« (2) tanto o racismo qto o sexismo se tornaram mais evidentes só recentemente, nos útimos 300 anos, com a multiplicação das interações entre as raças e com a multiplicação das atividades compartilhadas entre homens e mulheres; ou seja, preconceito antigo é tido como "natureza humana" e preconceito 'novo' é tido como ofensa (até 300 anos atrás, a ojeriza contra raças estrangeiras não era de todo infundada).

« Hoje há campanhas enormes, amplamente diluídas em toda a mídia, contra o racismo e o sexismo. No entanto, usar a modernidade dum preconceito como justificativa pra atacá-lo é, no mínimo, uma atitude preconceituosa. É como dizer q a moda de hoje é 'melhor' q a de ontem. Todo preconceituoso, assim como todo lambe-moda, acha q tem mais discernimento q o resto dos mortais; mas quem isola um preconceito pra atacar tbm está sendo preconceituoso: existe sim o preconceitismo - a crença de q o preconceito q vc ataca é mais importante e indigno q os demais. »

continua...

14 outubro 2005

Celebremos o cérebro

O Katrina continua deixando bilhões de neurônios ao relento.

Dia desses, nosso eflorescente doutor depositou as vistas num programa de tv da Rita Lee no exato momento em q sua desnêmesis Baby Consuelo colocou em palavras o seguinte pensamento:

"Nova Orleans era a terra do vudu, e o Senhor tinha q intervir."

QUÁQUÁQUÁQUÁQUÁquáaa....

Prêssionante.

A informação trivial de q acontecem furacões naquela região há pelo menos 100 mil anos (pra não humilhar demais) não deve ter vindo nas embalagens de Ping-Pong.

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

La Baby é uma das cantoras mais afinadas do Brasil. Mas ¡ô dó sustenido! ¡ô dó bemol! ¿que mais se poderia esperar da tv, qdo se confunde celebridade com cerebridade?

Agradecimentos a Cam Seslaf, de nosso depto. de pesquisas televisivas.

08 outubro 2005

P1a: preconceitos sem ibope [1/3]

Abaixo, um resumo da primeira parte da palestra do Dr Plausível sobre a preconceitada toda.

« Jendia, 'preconceito' é palavrão. E já faz um tempo. Os mais mencionados – o 'de gênero' e 'de raça' – ganham todo o ibope mas, por outro lado, abundam, florescem e medram sem peias ou freias o preconceito contra a feiúra e o contra a burrice – preconceitos estes muito mais insidiosos, daninhos e generalizados. Tá cheio de gente atacando o racismo e o sexismo, mas nada se diz sobre o burricismo ou o feiurismo, q são valorizados e tomados como prova de bom-senso. Nunca se vê gente bonita defendendo o direito de ser feio, ou gente inteligente se misturando com gente burra. Vem um e diz "beleza é fundamental" e recebe de gente burra louros de poeta. Vem outro e diz "não suporto gente burra" e todos a sua volta meneiam suas caras feias.

« Êta aporréia.

« Dir-se-ia q o maior motivo pra isso é q, bom, 99% da humanidade é burra ou feia, ou burra E feia. Mas ué? Preconceito contra minorias não pode, mas ¿contra maiorias pode? Porque desse quase ninguém se salva. HAHAHAHAHAHA

« Dizem q opinião é q nem cu: todo mundo tem um. Preconceito, então, é q nem peido: todo mundo todo dia solta vários em público mas ninguém admite. »

continua...

06 outubro 2005

Palestras do Dr Plausível

Mês passado, nosso esmeráldico Dr Plausível proferiu uma série de palestras no Hörshbarf Institut de Viena sobre assuntos polêmicos os mais variados. O doutor ia falando e o ambiente ia se iluminando no auditório onde – devido ao intenso calendário cultural desse instituto – suas palestras começavam às 5 da manhã e, por sua maviosa e revelante voz, os compreensíveis bocejos da seletíssima platéia iam gradualmente desaparecendo num confortável silêncio. Aqueles q ouviram tiveram uma bela chance de organizar e disciplinar suas cacholas.

Tentarei, durante as próximas semanas, transcrever e traduzir algumas das palestras mais relevantes, começando pelos seguintes assuntos:

• os preconceitos sem ibope
• o aborto e suas masturbações
• a onisciência divina e o livre-arbítrio humano
• armas ad nauseum et ad absurdum
• o marketing direto ao reto
• a direita, a esquerda e o nocaute da razão

22 setembro 2005

O bardo e a berda

Nosso evocante Dr Plausível ministra cursos de desimplausibilamento em todo o território nacional há mais de 30 anos, e às vezes se sente despoluindo o rio Pinheiros com um filtro Melitta. Por que ¡não é possível, né, meu povo?

Ontem, ficou sabendo q rola na internet um texto de umas 700 palavras começando com "Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma"... ai ai ai... Logo de cara – idéias de terceira mão, texto visivelmente traduzido do inglês – já viu q ia dar alguma meleca.

E não deu outra. Pois ¡¿¡¿como é possível q alguém neste mundo leia esse amontoado de clichês de auto-ajuda, esse compêndio de Lair Ribeiro pasteurizado, esses minutos de sabedoria de almanaque, esse pastiche regurgitado da matraca de mil avós, e achar q saiu nada mais nada menos q da pena de "William Shakespeare"?!?! ¿William Shakespeare, aquele do bigodinho e barbichinha?

????

Ô, povo, bastava uma pesquisinha. O texto original foi escrito por uma tal de Veronica Shoffstall circa 1998 – ainda em seus tenros anos de faculdade decerto depois duma cabeçada ou dum pé na bunda –, e foi emendado várias vezes por duendes ajudantes de Papai William, q acharam 160 palavras muito pouco pra toda a profundeza de seus corações...

E nestes risonhos lindos campos, algum inquilino de mentes alheias meteu-se a traduzir essa gororoba – em vez de criar sua própria – e, sabe-se lá por que catso, achou por bem atribuí-la a "William Shakespeare"...

¿Não é de empastelar os miolos?

Uma das muitas páginas com o texto duendizado é esta, com direito a musiquinha de fundo (q muita gente neste mundo injusto há de atribuir a Mozart...). O poema original está aqui. Note qto trabalharam os duendes...

17 setembro 2005

Inunde seu coração de lágrimas por mim

Uma coisa engraçada sobre essa diáspora causada pelo Katrina vem do fato de os EUA serem considerados por seus próprios habitantes como um grande paizão solidário q não vai deixá-los sofrer, não!

Tivesse o sinistro ocorrido em outras épocas, qdo havia mais iniciativa individual, menos fobias promovidas pelo estado e menos presteza em distribuir culpas, talvez já estivessem todos os habitantes da região voltando pra casa, limpando seus quintais e dando um jeito de voltar à normalidade.

¿Ou não? ¿Ou eu estou enganado e quem não concorda comigo não está?

hmf

15 setembro 2005

A esperança como negócio (3)... Premeditando o cheque

¡Baita gargalhada!
¡¡¡¡HAR-HAR-HAR-HAR-HAR-HAR-HAR-HAR!!!!...

¿Viram só a final do festival de música da tv curtura?

¡¡¡¡BLARG-BLARG-BLARG-BLARG-BLARG!!!!...

¡O ganhador é filho do apresentador!...
¡Q coisa feia...! Parece festival em cidadezinha do interior...

¡¡¡¡BRUHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHcófcófââââ!!!!...

A música vencedora tem até vários méritos, e a consagração pode ter até rolado na maior honestidade. Mas – nosso espontâneo Dr Plausível sempre ensina – é possível agir honestamente e ao mesmo tempo sem ética nenhuma. O engraçado nem é a marmelada goiabenta de chuchu q foi essa final, e sim o fato de q tanto o paizão curuja qto os outros quatro apresentadores simplesmente se es-que-ce-ram de mencionar essa, digamos, importante informação nepo-genética na biografia do contemplado. Aliás, na final, o genitor esteve estranhamente ausente da telinha...

Pois é. wandi doratiotto, fundador do Premê, bastião da tv curtura e apresentador do festival, é pai de danilo moraes, ganhador do festival, cujo prêmio totaliza 200 mil reais. ¡Vá ser real assim lá no Brasil, sô!

¡Sonoras gargalhadas!

¡¡¡BLASTOFAPAPALABARATAQUAPATAPA!!!...

E o rapaz não só é filho do apresentador, como já trabalhou prà tv curtura. Além disso, sua música também ganhou o prêmio de "melhor arranjo", feito por um cara ('ironicamente' escolhido por sabe-se-lá-quem da própria tv curtura), q é amigo e colaborador do dito cujo apresentador.

¡Junto com o Mensalão, agora temos o Festivalão! ¡CPI já!

¡¡¡BRABRABRABRABRABRABRABRABRAcófcófpffffhhh!!!...

¡Vai lucrar assim com a esperança alheia lá no Brasil, sô!

10 setembro 2005

O esprit de corps das plantas

Nosso endossado doutor não costuma se meter com filósofos. Aliás, nem com filósofos nem com qqer outra espécie de gente armada. ¡Êitcha tchurminha, viu?

Mas tem um tal de não-sei-das-quantas Carvalho q viaja na maionese mais q o normal, e o Dr Plausível às vezes perde alguns minutos por ano pra desatar longas gargalhadas lendo a produção do indivíduo. E tome Hellmann's. HAHAHAHAHAHAHA Esse cara deve ter duas mãos direitas. Porque não é possível alguém se achar tão no centro dum atualissíssimo e importantessizíssimo debate nacional sobre o sexo dos anjos e a 4ª Internacional Comunista. ¡Cada um q me aparece! ¿Será q ninguém percebe q a inteligência absurda desse camarada é um subproduto de sua paranóia? pfffffrrrrrrrhhhh....

Outra: ¡vai gostar de estadunidense assim lá em São Francisco! HA! É só um peidar q ele já chama de perfume. Pra ele, o Bush é pouco menos q um herói. Esse é um sintoma q o colocaria numa Clínica de Repouso Dr Plausível à força, fosse este um mundo justo.

Porque, vejam bem, ¿não é de espatifar os neurônios q um Carvalho venere um Arbusto?

08 setembro 2005

Latrina e suas lausas

Hoje de manhã fui chamado às pressas ao aeroporto pra ir buscar o Dr Plausível. Segundo me informaram, nosso entretente doutor não parou de rir um segundo durante todo o vôo de regresso. Sua gargalhada cristalina e saborosa contagiou os passageiros, as aeromoças, até o piloto. Chegando ao aeroporto, todos ali foram parando de trabalhar pra sentar e rir até q um bóingue quase errou de pista e o doutor foi colocado num contêiner à prova de som.

Isso acontece toda vez q ele vai aos EUA, mas desta vez foi demais. O vírus da hipoplausibilose tbm se propaga pelo ar, e essa Katrina deve ter espalhado trilhões de litros dele por todo o país. Porque ¡vai fazer estrago assim lá na basa do baralho, viu!

Passa um furacão e ¡alguém tem q levar a culpa! ¿Esse pessoal não sabe o q quer dizer 'desastre natural'? ¿E 'imprevisto', será q eles conhecem? HAHAHAHAHAHAHAHA

Se fosse só isso, já estava de bom tamanho. Mas o furacão fez estragos hipoplausibiléticos no mundo todo. O doutor previu, e agora aconteceu: já tem insignes representantes de várias religiões dizendo q o furacão foi uma punição contra os EUA, seja pela invasão do Iraque, seja pelo preconceito contra o Islã, pela desjudiação de Gaza, ou pela bomba de Hiroshima, e já deve ter alguém dizendo q toda aquela região era uma Afro-Gomorra e merecia umas porradas bem dadas.

HAR-HAR-HAR-HAR-HAR-HARFfff
QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÁ-QUÓ-qüé-quiquiki-ki-i-ifffff...

¡Toma vacina, gente! Só quem conhece o Dr Plausível sabe dos fatos: O Bush está louvando a Deus e a Alá diariamente, rezando de joelhos toda manhã e lambendo o chão em agradecimento ao Ser Supremo por não ter enviado a Katrina duas semanas mais tarde, no dia 11 de setembro. ¡Imagine o q os muçulmanos não diriam!

FUÓ-FUÓ-FUÓ-FUÓ-FUÓ-FUÓ-FUÓÓóóó...
HUARK-HUARK-HUARK-HUARK-HUARK-HUARK-HUARKhhh...
BLARF-BLARF-BLARF-BLARF-BLARF-BLARF-BLARFFFffff....

tsc tsc tsc

(¡Ei, mas ainda estamos no dia 8! Ooooohhhh!)

06 setembro 2005

A esperança como negócio (2): uma réplica

Um caro leitor, sem dúvida vitimado por um ataque passageiro de hipoplausibilose, enviou este comentário sobre o artigo anterior:

O crescimento resolve mais problemas do que cria – principalmente o desemprego e a distribuição de renda – e não depende apenas do crescimento populacional. ... Algumas coisas dependem do "desenvolvimento", que é um passo além do crescimento, representando mais questões qualitativas do que quantitativas. ... o doutor aponta entre fatores externos e a pobreza uma relação de causa e efeito mais destacada do que a dos fatores internos.

A hipoplausibilose pode causar danos irreparáveis. Não consegui contactar nosso epistêmico doutor, q está em férias no Alabama. Mas é num espírito de solidariedade pós-Katrina q me disponho aqui como paramédico a utilizar suas técnicas plausoterápicas pra tentar minimizar o estrago na mente inundada desse leitor.

O vírus atacou em três flancos: o leitor (1) acha q o crescimento econômico não depende apenas do crescimento populacional; (2) acha q o desenvolvimento resulta em melhoras qualitativas mais q quantitativas; e (3) viu no artigo anterior uma certa demonização da Zoropa como promotora de pobreza no terceiro mundo. Vou tratar dos sintomas em ordem inversa.

(3) A Zoropa não pode "causar" a pobreza do terceiro mundo - pelo simples motivo de q a pobreza é, como já foi dito aqui, o estado natural da humanidade, e portanto não pode ser "causado" por coisa alguma.

(2) O famigerado "crescimento econômico", no entanto, por se valer de aprimoramentos cada vez mais minuciosos em ribombocas de parafusetas cada vez mais diminutas e ao mesmo tempo cada vez mais repetitivas, depende da produção incansável de bebês pobres pra q estes, ao crescerem, cuidem de detalhes cada vez mais liliputianos, mais numerosos e comparativamente menor remunerados, e adquiram (coletivamente) cada vez mais produtos cada vez mais padronizados. Ou seja, os detalhes vão ficando cada vez menores e mais numerosos, e seu volume aumenta, e portanto é preciso haver cada vez mais pessoas q se vejam forçadas a cuidar deles: ou seja, os pobres esperançosos.

(1) O "desenvolvimento" é outra falácia q nada mais é q um resultado fortuito do aumento populacional: qto mais gente há no mundo, há mais invenções e descobertas. No entanto, mesmo em número ou relevância, as invenções e descobertas nunca reduzirão a aceleração da criação de problemas, pelo simples motivo de q um problema precisa primeiro aparecer pra depois ser resolvido, e qto maior o número de pessoas, tantos mais problemas novos são criados. Além disso, no q diz respeito à relação entre desenvolvimento e aumento da população pobre, vale o plus ça change, plus c'est la même chose: a Zoropa, as patentes e os royalties de hoje são os nobres, feudos e tributos de ontem, só q com um aumento estapafúrdio nos níveis de encheção de saco e de degeneração do mundo natural.

Tente vc mesmo este reductio ad absurdum: imagine uma tribo de digamos 500 humanos na Idade da Pedra. ¿Vc consegue imaginar essa tribo, mantendo sua população estável ao longo de 100 mil anos, atingir, unicamente por inteligência, sabedoria e empenho, o nível de desenvolvimento, bem-estar e conforto médio dos dias de hoje? Difícer, né?

Em resumo, se em mil-setecentos-e-pedrada a população mundial era x, e hoje um número igual ("x") de pessoas vive bem e confortavelmente, ¿pode-se em sã consciência dizer q houve desenvolvimento, se no interim criou-se um número y=1000.x de pessoas, 100.x das quais têm vida análoga à dos pobres de mil-setecentos-e-pedrada, e sendo q em termos absolutos a distância entre o mais rico e o mais pobre aumentou na mesma proporção?

O Dr Plausível deve estar se divertindo às pampas no Alabama.