Joseph Addison, The Tombs in Westminster Abbey in "The Spectator", 30 de março, 1711
Nosso extracurricular doutor sempre sai de fininho qdo alguém começa a falar da "função da arte", ou F*art, mais conhecida como "fart": às vezes faz barulho, às vezes não faz, mas sempre cheira bem a quem a produz.
Mas...! como todo sábio, nosso exegético humanista sabe q arte pode não ter função, mas certamente tem conseqüências.
Pois se a arte usa símbolos, então esses símbolos têm significados, não? E, mesmo q não percebibos conscientemente, se os significados aparecem como símbolos, estes necessariamente sugestionam de volta aos significados, ainda q inconscientemente, ora pois não?
Então.
Desde criança, qdo nosso doutorzinho passava ao largo do Monumento às Bandeiras (MaB) recém-inaugurado, a caminho do Instituto Infantil de Plausonomia, alguma coisa naquele trambolho lhe parecia fora de lugar. Jendia, em respeito ao trabalhador paulistano, nosso sexagenário doutor evita passar perto, pra não engarrafar o trânsito com suas estrondosas gargalhadas, q fazem revoar os gansos do parque e contagiam os motoristas, q páram onde estão e riem sem saber do quê.
A hipoplausibilose galopante da primeira metade do século XX – q dizimou cérebros inteiros do 3° mundo – é a única explicação pra q um estorvo conceitual daquela enormidade tenha sido descarregado sobre esta valorosa cidade e sido ou pessimamente idealizado ou pessimamente compreendido, a tal ponto q jendia muito paulistano se orgulha do MaB, e nem levanta um pelinho do sobrolho qdo ouve os desavisados de plantão chamando-o de tudo qto é nome ufanista, tipo "emblema histórico e arquitetônico de São Paulo",
"a mais completa tradução da cidade"... ¡Ôô miasarma!
Porque, note bem, meu leitorado, enquanto todo povo q se preza constrói monumentos fálicos e verticais, como flechas apontando o céu, simbolizando pujança, poder, &c, alguns tronchos descerebrados acharam por bem construir no meio de São Paulo um símbolo fálico deitado ao contrário e... ¡¡indo pra trás!!
HAHAHAHAHAHAHA
É um símbolo desfálico, caído ali.
Mas se fosse só isso, não tinha problema. No entanto, o escultor encheu sua obra com mensagens subliminares de prepotência, embromação, obstrucionismo, malandragem, burrice, &c – essas coisas q, todo o mundo sabe, não fazem a glória dum povo...
Olha isto aqui:

¿Vc diria, leitor amigo, q esse indivíduo está imbuído na nobre tarefa de puxar a canoa das monções, desbravando com seu suor as matas brasileiras? Engana-se. Claro q ele NÃO está. Observe o colégua do outro lado:

Ao sair das mãos, as cordas fazem uma curva lânguida, caída, frouxa. Vc poderia dizer q ela acompanha a curvatura da canoa, claro. Mas...! olha mais de perto. Aqui está a continuação da corda da direita:

e aqui a da esquerda:

A corda ali toda desmilingüida só pode dizer uma coisa: ¡Os caras tão FINGINDO q trabalham!
Olha só este aqui:

ââârgh... ûûûrgh... O cara prendeu a corrente entre a perna e o casco, e finge q faz força... ûûûûrgh... ûûûûrgh... ¡Ufa ufa, q calor!
¡Ôô malandragem!
HAHAHAHAHAHAHA
Agora veja isto:

Tadinho, né? Desfaleceu-se de tanto trabalhar.
Mas ¿por q cargas d'água tão carregando o desfalecido? ¿Não seria muito mais ãã inteligente levá-lo dentro da canoa? Em vez disso, desperdiçam o muque de dois homens fortes q poderiam estar puxando a c... ãã... fingindo q puxam a canoa. Pô. ¡Incompetência, sô!
Agora considere este grupinho:

¿Q é q esses tão fazendo parados aí, pergunto? Uma festinha? ¿Com uma coisa ali q parece suspeitosamente com uma pizza?
(Tá bom, tá bom, já sei. Mas se logo atrás deles tem aquele cara q *supostamente* está puxando a canoa, ¿q é q estão os outros fazendo ali, obstruindo o caminho? ¿Qual é a idéia?)
Tem mais este grupo aqui:

Com os dois líderes à frente a cavalo, ¿não parece um bando de autômatos puxa-sacos? Diga a verdade. E ¿q é q estão fazendo? ¿Q são essas cordas em volta do pescoço? ¿Notou q um deles tem uma cabeça ínfima e um braço q parece uma perna? ¿E q os da frente estão fazendo um esforço desgraçado pra não parecerem mais altos q os líderes?
¡Ôô miasarma!
¿E os líderes? Olha bem pra esses líderes:

Dois cavaleiros viajando sentados, distanciados do resto, fazendo absolutamente NADA pra ajudar, mesmo com aquele monte de corda sobrando, e... ¡¡um deles ainda faz pose empinadinho olhando pra trás!!
!!!
Em lugar de usar a cachola e fazer os cavalos puxarem a canoa, temos q lá na outra ponta, onde seria a desglande, tem UM só gato-pingado, um nativo deste continente, um índio q não tem nada a ver com a história toda, o ÚNICO q parece estar tentando fazer alguma coisa de útil:

(É apenas por causa desse índio q o povo apelidou o MaB de "deixa-que-eu-empurro". Ou seja, todo o mundo instintivamente vê o q está acontecendo.)
Note também a corda toda, q está ali como estão todos os recursos desta terra: desusados, fazendo peso. E aí fica patente a pior idéia desse monumento: a própria presença da canoa, seu status ambíguo de raison d'être e tranqueira inútil, sua condição de peixe fora d'água na inglória terra firme. A canoa em terra torna este um monumento ao atrito, à lentidão, ao uso errado dos recursos, à deselegância.
E pra completar a piada, como a inscrição original no monumento já está ilegível, o CONDEPHAAT mandou colocar uma plaquinha mais modernosa ali perto...

...onde há um detalhe q o próprio monumento simboliza:

HAHAHAHAHAHAHAHAHA
.......
Mas ¿pra quê notar tudo isso, né?
A questão q abre as ilhargas do riso no doutor é a profunda vala entre o q o MaB pretende simbolizar (a conquista do Brasil, a colaboração entre as raças) e – por ser conceitualmente tão mal-ajambrado – aquilo q ele termina simbolizando no inconsciente de quem passa por ali todo dia, todo dia, vendo o líder q não ajuda, os autômatos puxa-sacos, aquela corda q não está tesa, o índio q trabalha sozinho, o doente estorvando o trabalho, a festinha no caminho do progresso. Seria ingênuo e hipoplausilético acreditar q a incompetência do artista não conspurca o inconsciente do povo.
(O Dr Plausível não é o único a ver essas coisas: por algum motivo o Brecheret teve q negociar durante 25 anos* com sucessivos governos pra conseguir terminar o MaB.)
A opinião do doutor é q o povo paulista não merece ser escarnecido e enganado permanentemente. Esse Monumento do Esforço Inútil, esse embaraço estadual perpetrado em granito, esse trambolho troncho e falso-moderno, tinha q ser dinamitado, transformado em cascalho e relegado à memória – onde nunca deveria ter entrado.
Mas ¿a expectativa de q isso aconteça? Zero.
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*Descontados os anos da 2ª guerra.