Todo propagandólogo ou marquetinhólogo vive dizendo q todo mundo só faz o tempo todo anunciar o q vende. Então tá. Também todo músico diz q tudo é música, todo biólogo diz q tudo é biologia e todo lixeiro diz q tudo é lixo. Mas a crença do Zé Reclame até q tem um fundo de verdade. Por exemplo, se eu estou dormindo à sombra duma palmeira à beira da praia, eu logicamente estou anunciando q estou dormindo à sombra duma palmeira à beira da praia. Basta confrontar o Zé Reclame com esse fato e sua inescapável interpretação, q ele automaticamente cita consciente ou inconscientemente o velho Freud, "Às vezes um charuto é apenas um charuto", dito no susto qdo alguém insinuou algo sobre o uso do mesmo.
Mas citando nosso exímio Dr Plausível, "propaganda nunca é charuto": sempre tem algo escondido nas entrelinhas. Vejam por exemplo este texto encontrado no folheto dum bar numa cidade praiana meio histórica:
"Localizado na paradisíaca e histórica cidade de Blablablá, o Bar Blebleblé, com criatividade e sofisticação, resgata e concilia com o presente, todo o clima, a mística e os encantos do passado. Num ambiente despojado, alegre e aconchegante, com a melhor música e uma culinária fundada nos mais saborosos grelhados servidos na tábua, além do melhor chopp de todo o litoral bliblibli, oferece uma diversificada carta de vinhos com mais de 60 variedades especialmente selecionadas e acondicionadas em adega climatizada, serviços de Wine Keeper para a imprescindível degustação e espaços exclusivos para prazeres também exclusivos, como Clube do Whisky, Clube da Vodka e o Clube do Charuto."
¿Será q alguém acredita nisso? O folheto foi levado ao consultório do Dr Plausível pelo CBeetz e pela PDufrayer, q estiveram no local e traduziram o texto acima pra algo mais próximo à realidade:
"Venha ficar surdo e bêbado num ambiente q procura disfarçar o presente e só consegue insultar o passado, ouvindo alguém cantar no último volume, bebendo um chopp industrializado, comendo num pedaço de madeira q custou uma bagatela, e cheirando a pestilência dum charuto logo ao lado. Vc pode pedir qqer um dos vinhos q nosso comprador achou na distribuidora, e ao cambalear prà rua, não deixe de manter a tradição da cidade: tropece no calçamento irregular e caia de boca num pedregulho paradisíaco."
Mas também fazer texto pra folheto de barzinho deve ser uma tarefa inglória, não? ¡Caaacilda! Chega o dono do bar e pede, "escreve umas coisas bonitas aí... cidade paradisíaca... ambiente sofisticado... sei lá, inventa aí". Só podia dar no q deu. ¿Onde é q estão os fantasmas coloniais qdo a gente precisa deles?
3 comentários:
A fome de glamour.
De uma hora para outra, así no más, todos querem glamour instantâneo, como sopa instantânea ou os tais cup noddles, aquele simulacro de macarrão com qualquercoisa.
Porém, o instantâneo cobra seu preço. A instantaneidade do cup noddles ou de qualquer outra coisa instantânea se traduz num monte de química tão colossal que mesmo a mais platinada das blondes vitaminadas e sintetizadas se arrepiaria de pavor.
Glamour, assim como petróleo e comida boa, não vem do nada. Não adianta empestear a vista do leitor com uma enxurrada de palavras fáceis. Não tem glamour num barzinho pardieiro pretensioso num fim de mundo. Não tem.
Um amigo meu me disse uma vez que a música dessa pequena cidade era uma barca e que ele estava no volante
¡Dá-lhe, Belly!
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