22 junho 2006
Bola ao pé
O Adam Gopnik, num artigo da New Yorker qdo do torneio na França, mostrou q o futebol só pode ser esse sucesso todo entre a plebe ignara pq é uma metáfora inconsciente da vida: uma baderna de gente tropeçando e trombando, parcamente controlada por regras simples amiúde violadas, e cujo placar final é zero a zero.
Mas, além do q já disse sobre o papel preponderante da sorte no esporte, o Dr Plausível vai deixar pra depois a demonstração de como o futebol na verdade humilha o Brasil. Então vc já pode parar de ler isto aqui e ir lá ver seu jogo, vai.
13 junho 2006
01 junho 2006
A norma estulta, essa incompreensiva
Pracimademoá,
Pela última coisa q vc disse, me dá a impressão de q não consegui explicar nada. Vou tentar resumir tudo aqui, só pra q vc não fique pensando coisa feia de mim ou do doutor.
Toda "regra" gramatical é uma codificação inferida a partir dum fenômeno natural. A gramática normativa é um disparate porque a língua não é uma invenção humana, mas um fenômeno humano, ou seja, algo q já tem "regras" naturais. Ninguém precisa ficar fuxicando.
O português é uma das línguas q foram surpreendidas no século 19 pela repentina evolução em todos os ramos do conhecimento justamente numa época em q se tentava, através das academias, consolidar e codificar certas línguas baseando-se nisso q vc chamou de "refinamento do entendimento e das manifestações humanas". Vc poderia argumentar q as próprias academias foram parte dessa evolução, mas o buraco da língua é sempre mais embaixo. A língua é sempre vários graus mais complexa do q qqer refinamento do entendimento possível numa normatização. Sorry. Quem normatiza uma língua tem o plano "vamos codificar a língua da maneira mais racional e refinada possível pra termos um instrumento sólido e coerente com o qual poderemos realizar a contento todas nossas interações." Mas ninguém tem bola-de-cristal, e muito menos uns lexicógrafos e gramáticos inferindo regras numa sala fechada, abafada e empoeirada. Não dá pra prever quais conceitos, quais tecnologias, quais modos de interação vão ser criados, o q é q a mente humana vai produzir – seja através dos gênios, seja através do povão. Assim, não dá pra prever quais novos fenômenos surgirão e portanto quais "regras" naturais a própria língua vai criar pra se adaptar a eles. Por exemplo, ¿quem iria prever a internet, onde a língua escrita vem tentando se acelerar, disseminando abreviações perfeitamente coerentes, claras e cabíveis como 'vc', 'pq', &c? Eu só não grafo 'qual', 'quais', 'quem' e 'quaisquer' com 'ql', 'qs', 'qm' e 'qsqr' pq sei q muita gente retrógrada iria bobamente fazer questão de não me ler.
É gritante a inépcia do português no mundo de hoje. A revolução industrial, por exemplo, jamais poderia ter acontecido num país de língua portuguesa. Sorry. Impensável. O português de ontem e hoje simplesmente não tem a ginga, a abertura, a sutileza, a precisão e a nitidez de línguas como o inglês, o alemão e o japonês, q lhes permite sustentar e agilizar o intercâmbio de idéias, a ampliação diária de novos horizontes. Mas o povo (todos nós) sente o empurrão do tempo, e constantemente, dia após dia, frase atrás de frase, tenta puxar o português pra uma maior ginga, uma maior abertura, uma maior elasticidade e criatividade; e o tempo todo, quaisquer novidades lingüísticas (q são concepções, conceitos novos) são inapelavelmente censuradas pela tutelaria de plantão, esfregando a gramática normativa no nariz das criações necessárias. Fala-se muita merda, claro. Mas um dos resultados mais nefandos da norma estulta é q pouca gente realmente gosta do português, do jeito, por exemplo, q os ingleses gostam do inglês, se divertindo, se emocionando e se esclarecendo: ninguém se diverte com o português depois de passar pelo corredor polonês q é a escola. Papo de brasileiro é, via de regra, ou chato ou chulo ou chucro (e eu aprendi a fazer isso com o inglês). Por causa da normatização, o uso do português, q deveria fluir naturalmente, é atormentado por inseguranças, vergonhas, arrogâncias e desperdício.
É claro q nada do q está dito acima deve ter a mínima importância pra alguém q acha necessário colocar sela e arreios na língua pra conquistar o Oeste. Mas é bom q se lembre q na mente e no coração das pessoas existem mais coisas do q prevê a vã gramática.
27 maio 2006
O Dr Plausível e seus aforismos
24 maio 2006
O clichê é o clichê mais clichê do clichê
O clichê de dizer q a prostituição é a profissão mais antiga do mundo é como todo clichê: uma tontice q alguém algum dia desembuchou e, como soou perfeitamente apta, espirituosa e bem-acabada em uma situação, e provocou risadas &c, foi então repetida por quem a ouviu, esperando sugar um pouco do mérito original, e repetida pelo segundo ouvinte, e assim ad nauseam até virar uma tontice q quase todo o mundo diz sem prestar atenção no q exatamente significa. Com razão, Proust detestava os clichês. Eles cabem perfeitamente no q descreve a palavra inglesa 'mindless'. Mas não são de todo ruins: como 97% de tudo q se faz socialmente é também mindless, os clichês são um temperinho q diverte o populacho em sua penosa tarefa de cambalear entre o nascimento e a morte.
Por tantas implausibilidades repetidas em clichês, também são implausíveis as explicações deles. Recentemente, um desavisado aventou q aquele clichê sobre a prostituição originou-se ãã... ¡no inglês! Ele disse algo como "essa expressão faz sentido no contexto anglo-saxão de 'profession' (e acho que a origem do clichê é o inglês)".
Hmm.
Tanta coisa é traduzida do inglês hoje em dia, q daqui a pouco vão achar q até a Bíblia foi escrita originalmente em inglês. ... Ah, não, peraí. Já tem gente q pensa isso. (Mas são euaenses; então se perdoa.)
Um sintoma de anglo-centrado é sempre procurar e "achar" a origem das coisas no inglês. Pra começo de conversa, a própria palavra 'profession' vem do latim. Por outro lado, se a proto-prostituição era uma profissão, deveria haver pagamento; pagamento implica em dinheiro, dinheiro supõe casa da moeda, &c. Várias outras profissões embutidas aí, não?
Outra coisa, se vc substituir 'profession' pelo conceito inglês de 'calling', já faria mais sentido. Só q "the world's oldest calling" não seria a prostituição, mas a nobre atividade de mijar, de onde vem a expressão 'a call of nature'. Sexo também é 'a call of nature', claro; mas mulher prefere mijar antes do sexo – de onde se depreende q mijar é mais antigo q prostituir-se.
É certo q uma ou outra mulher prefere não mijar, pra aumentar a pressãozinha lá dentro durante o coito. Mas... mas... mesmo assim...
ãã– Voltemos à cretinice do clichê em si.
Puta não pode engravidar. A prostituição só pode ter aparecido depois da compreensão e desenvolvimento de métodos anti-concepcionais e de abortagem. E só isso aí já pressupõe outras tantas profissões. Então ¿por q catso alguém achou algum dia q a prostituição é a profissão mais antiga do mundo?
Sei lá. Mas aqui vai a receita de tratamento contra a hipoplausibilose embutida nesse clichê:
1. Escreva a frase numa pequena folha de papel azul.
2. Engula.
3. Veja se vira bosta. Se o papel for defecado num estado ainda reconhecível (¿entendeu agora o porquê do azul?), lave e engula de novo.
4. Repita os passos 2 e 3 até o papel passar totalmente ao estado de bosta.
[O Dr Plausível agradeceria aos leitores pela lembrança de outros clichês hipoplausibiléticos para diagnóstico e tratamento.]
16 maio 2006
12 maio 2006
Quem sabe sabe
A consulta, é claro, não deu em nada.
02 maio 2006
El imperio cuentra-alpaca
"¿O equatorenho estava falando portunhol também?" perguntou educadamente.
"Ah, não. É difícil pra eles," disse o cliente. "É mais fácil quem fala português entender quem fala espanhol do q quem fala esp..."
O doutor já estava gargalhando.
----------------
Hmm.
Peraí. Deixa eu ver como é q vou dizer isto.
Hmm.
¿Que porra? ¿Por que caralhos o equatorenho não fala português? ¿Pq é q o brasileiro tem q aprender inglês pra falar com euaense e tem q aprender espanhol pra falar com equatorenho? O Brasil virou 'el imperialista de Latinoamérica', mas ¿é só pelo tamanho? ¿A língua portuguesa não tem intrínsecamente a mais mínima força pra se impor sobre o espanhol?
É uma história irônica, a do português. Por natureza uma língua periférica, uma simplificação imediatista dum dialeto marginal do espanhol, na extremidade da Europa um pouco aquém do fim do mundo, o português, por várias incongruências entre a geografia política européia e a novomundana, em quinhentos anos se tornou a língua do país mais rico, populoso e produtivo da América Latina. Mas parece q nada, nem mesmo o poder econômico brasileiro, nem mesmo o carisma do povo brasileiro, nem mesmo a disseminação da música brasileira, nem mesmo a beleza da mulher brasileira, nem mesmo o poderio bélico do exército brasileiro, nada consegue fazer o desgraçado do equatorenho fazer um esforcinho pra aprender a língua de seus superiores.
O doutor se pergunta: ¿será isso conseqüência duma fraqueza na essência da língua, ou será resultado da simpatia natural do povo brasileiro, esse povo bonzinho? ¿será uma vantagem pro brasileiro, q diversifica e flexibiliza seu cérebro poliglota, ou será apenas mais uma cagada na longa série de desvalorizações da identidade e cultura brasileiras?
O doutor sinceramente não sabe. De maneira alguma isso lhe impede de gargalhar, pela ironia, mas admite q não sabe.
24 abril 2006
O astropauta
Jornalista é alguém pago pra dizer o q não sabe sobre um assunto q não conhece. Mas nenhum jornalista vai pôr em risco o leite das crianças fazendo essas perguntas ao astropauta, pois, num aspecto, o jornalista é igualzinho a um profissional de qqer outro ramo: sua prioridade número um é tirar o cu da reta.
Também é essa a prioridade do presidente, seja ele quem for. O Lula chegou aonde está porque tira o cu da reta melhor do q ninguém. Ele é o Grão-Mestre Nacional de Esquivamento Anal; e ele é q deveria ser motivo de orgulho aos brasileiros, não esse pelego Mark Bridges.
Em assuntos como esse do programa espacial, o Lula é como qqer outro presidente: pegou o bonde andando e nem viu q linha era. Ele fez, em seu estilo necessariamente peculiar, exatamente o q qqer outro gato-pingado faria em seu lugar; e também pensou o mesmo: "Taquipariu, vou ligar o piloto automático nesta solenidade, e depois eu volto ao q interessa."
10 abril 2006
O prefato
Entendo bem a diversão do doutor. Só pode ser coisa de mitômano achar q as vidas de 17 milhões de habitantes sofram alguma influência dum gato pingado qqer q desembocou na prefeitura a caminho do ostracismo ou duma eleição pra governador ou presidente. A prefeitura de SPaulo não é um cargo; é um degrau – pra cima ou pra baixo, geralmente pra baixo. Agora um tal de José Serra q, eleito pra 4 anos como todo mundo, se sentiu especificamente especial o bastante pra renunciar após 15 meses pra tentar manter o partido no governo do estado.
A lógica é mais ou menos assim:
(a) se o prefeito faz uma boa administração, é pouco criticado; ele então se considera popular e renuncia pra se candidatar ao governo do estado;
(b) se faz uma má administração, é muito criticado; ele então se considera impopular e portanto sem chances, e aí cumpre seu mandato.
?!?!?
'Prefeito' deve originar de algo como 'pré-feito' ou 'pré-fato'; porque não é possível, ¿né, dona-de-casa?
07 abril 2006
L'esprit d'escalier
-¡Bom dia!
-Bom dia...
-Por gentileza, ¿o responsável da linha?
-Sou eu.
-E ¿seu nome, por favor?
-Ãã... F... Joaquim. ¿De onde é?
-Bom dia, senhor Joaquim. Eu sou do Banco de Dados.
-¿Banco de Dados daonde?
-Da Folha de São Paulo.
-Ah não, brigado. Eu não leio jornal.
-¿O senhor não lê jornal?
-Não.
-E ¿qual o motivo?
-Ãã... É q, sabe, qdo eu era criança, a gente tinha um cachorro (ele chamava Pufe), e qdo ele fazia cocô na sala, meu pai enrolava um jornal e dava na cabeça dele umas dez vezes, aí ele foi ficando deprimido, deprimido (porque ele não entendia, né?, o motivo de meu pai cair de porrada nele), até q ele morreu; aí eu botei a culpa em meu pai, lógico, e teve uma briga homérica lá em casa, e meu pai então quis provar q a pancada de jornal enrolado não doía, e avançou pra mim pra me bater na cabeça, aí eu recuei um pouquinho e tropecei num pufe q minha irmã tinha usado pra... pras brincadeiras dela, né, aí eu caí e bati a cabeça na quina da mesa, fui pro hospital, o maior escândalo, mas tirei raio xis e não deu nada, mas foi um trauma, viu?
-O senh...
-Aí depois, qdo eu tinha uns doze anos, eu tava descendo uma rua ali perto da Quintino Bocaiúva e passei ao lado duma banca de jornal e o jornaleiro saiu de repente e começou a gritar comigo dizendo q era eu q todo dia passava lá e esfregava meleca de nariz na Gazeta Esportiva q ficava ali pendurada de mostruário e ele queria me espancar ali mesmo, e umas senhoras q tavam ali perto não deixaram, e eu dizia q não, q eu nunca passava por ali, q eu morava em Cruzindanga, mas o jornaleiro não queria acreditar e dizia q sim, q era eu mesmo, q eu tinha cara de melequento, malandro e...
-pu pu pu pu pu pu
-Ninguém nunca me dá atenção...
02 abril 2006
Uma sugestã
Nunca participei de manifestação, e muito menos o Dr Plausível. De políticos, soldados, filósofos e outra pessoas armadas: distância. Mas volta e meia me pergunto por que os manifestantes mantêm aquele respeito todo perante gente não q lhes dá a menor bola. Fazem cara de criança mimada e ficam gritando frases feitas, tipo:
"¡Aumento!"
"¡Fora, fulano!"
"¡Queremos justiça!"
"¡O povo unido jamais será vencido!"
Essas coisas já viraram pano de chão velho: não lava nem o rodo. Pena q nenhum manifestante jamais consultou o Dr Plausível. Seu conselho seria simples, eficaz e muito mais a propósito: os manifestantes se juntam em silêncio de mão no bolso perto de onde o político atacável vai passar; assim q ele aparecer, eles fincam os olhos nele, fazem cara de ódio e berram em uníssono, uma só vez:
"¡Idiota!"
¿Não seria mais legal? E surtiria mais efeito.
(Tanto político merecedor e ¿vc foi logo pensando no Lula?)
28 março 2006
Origens Lingüísticas do Atraso Brasileiro
Foi num desses artigos q o doutor originalmente publicou a tese amplamente comprovada de q uma das maiores mazelas do Brasil, senão a maior, é a metonímia elíptica*, q diariamente causa incalculáveis prejuízos econômicos, culturais e sociais neste país. Em outro, refutou inapelavelmente a tese de q o ensino da norma culta pode ajudar a desenvolver o raciocínio e portanto o país. Mas não vou chatear os leitores deste blogue com citações: além de serem todos extremamente técnicos, os artigos trazem transcrições fonéticas da fala brasileira de diversas regiões e, pra quem não é do ramo, fica chato pacas. Por exemplo, duas das mais fáceis de entender são:
"Çta psan djaugúa coiz?" (Você está precisando de alguma coisa?)
"É pski téça baguncéê." (É por isso q está essa bagunça aí.)
Vou só resumir aqui o q o doutor disse de duas expressões q usou pra demonstrar sua tese central sobre o atraso brasileiro:
(a) "[Jogar] conversa fora."
(b) "Falou, tá falado."
(a) O doutor fala trocentas línguas, então não vou discutir: ele afirma q não há em nenhuma das línguas mais desenvolvidas uma expressão q diga e fale "jogar conversa fora". E se vcs atentarem pro q essa expressão brasileira significa, verão q é na verdade um belo insight. Três línguas européias competem entre si pelo prêmio de Maior Desperdiçador de Neurônios: o francês, o espanhol e o português. Realmente, colocar todos os pluraizinhos, os acentinhos, as concordanciazinhas e os diminutivinhos nos lugarzinhos corretinhos é coisa de quem não tem mais do q fazer e, de fato, joga conversa fora toda vez q abre a boca. Essas três línguas têm muita argamassa pra pouco tijolo. É de se elogiar q só o português tenha produzido esse insight. Nem tudo está perdido.
Mas mesmo qdo não se usa as regritas, joga-se conversa fora. Numa frase comum como "Eu tou indo na feira.", apesar de apocopar 'estou', o falante usou 'eu' desnecessariamente. E ¿que catso significa "ir na feira"? Não pode ter muito a dizer uma língua em q algo de significado contraditório pareça fazer sentido porque, no contexto, só pode ter outro significado. É como se ali bastasse um espirro: "tou indo atchim feira."
Mas a expressão "jogar conversa fora" indica algo mais profundo: com tanto neurônio sendo usado pra falar bonitinho, o português faz com q a interação tenha precedência sobre a comunicação: é mais importante interagir do q de fato dizer algo. Daí q se usa "jogar conversa fora" com o sentido de "interargir amigavelmente pela fala". O Dr Plausível não está dizendo q não se joga conversa fora em outras línguas: apenas q no Brasil as características do português transformaram a jogação de conversa fora numa regra e não numa exceção, sendo especificamente por esse motivo q essa expressão colou no Brasil. Nenhuma língua fala do q nela mesma não há.
(b) Uma das maneiras de jogar conversa fora é um tipo de interação bastante comum entre brasileiros, na qual o ouvinte repete o q ouviu quase verbatim. Por exemplo:
A. Eu tou indo na feira.
B. Ah, ce tá indo na feira?
A. É.
B. Ntão me compra ...&c
Se o A for, digamos, um alemão, é bem capaz de o diálogo ficar assim:
A. Eu tou indo na feira.
B. Ah, ce tá indo na feira?
A. (leve irritação) ¿Não foi isso, o q acabei de dizer?
Isso pq o alemão, o inglês e outras línguas têm pouca tolerância pra repetições bobas: são línguas em q, de fato, "falou, tá falado." E no entanto, nenhuma dessas línguas tem essa expressão. É sintomático q a aparente imbecilidade no hábito comum de repetir inutilmente o q já se disse seja compensada pela mera existência da expressão "Falou, tá falado." Tipo, "Ah, a gente repete as coisa, mas pelo menos qdo falou, tá falado." – ?!?!?
Note-se tbm q a expressão fala em 'falar' e não em 'dizer'. 'Falar' é apenas o ato de soar palavras pela boca, não necessáriamente dizendo algo. Ou seja, q a expressão q aparentemente diz "Se vc disse, está dito." na verdade não diz mais q "Se palavras soaram, palavras foram soadas." Agora, se algo q preste foi de fato dito, já são outros quinhentos.
Por exemplo, essa tese toda q vc acaba de beliscar, ¿é algo q preste? ¿O Dr Plausível derridanamente jogou conversa fora, ou falou derridanamente com total seriedade? ¿Foi sarcástico, ou foi preciso?
E essa tua dúvida ¿é sobre as palavras do enobrecido doutor, ou sobre a viabilidade mesma do português? Hmmm.
*Também chamada de 'substantivação elíptica' e 'nominalização elipto-retórica', mais conhecida como 'braquilogia' ou 'braquiologia'.
26 março 2006
A verdade não me deixa mentir
Só erraram no título. Deveria ser Uma Mão Lava a Outra.
22 março 2006
O radóstico agnical
Mas vira e mexe me aparece nos comentários alguém q, achando entender o termo 'agnóstico radical', impunemente improvisa impropérios impugnantes imputando imperfeições imperdoáveis. A crítica comum aos agnósticos é a de q são ateus covardes, egoístas preguiçosos e pensadores vacilantes.
HAHAHAHAHAHAHAHAHA
É bem possível q haja agnósticos q combinem com essa descrição. Não, contudo, os radicais. Os radicais são aqueles pra quem a questão da providência, criação e existência dum deus não fede nem cheira: ninguém sabe nada de nada. Porém, a um nível mais profundo, a expressão "crer em Deus" nem sequer faz sentido prum agnóstico radical. Vejam a mesma pergunta posta a um crente, a um ateu, a um agnóstico e a um agnóstico radical:
¿Deus existe?
crente: Sim.
ateu: Não.
agnóstico: Não sei.
agnóstico radical: ...?!?!?
Eis aqui um diálogo típico entre um fuçador e um agnóstico radical:
F: ¿Deus existe?
AR: ...?!?
F: Então vc não crê em Deus.
AR: ...?!?!?
F: Ué, ¿vc crê ou não crê?
AR: ...?!?!?!?
Aos ouvidos do AR, o 'diálogo' soa assim:
F: ¿Vbznñglfng mnhfns?
AR: ¿O quê? ¿Como?
F: Então vc não blmpqrkgñ em vnzlms.
AR: ¿Como? ¿Quê? ¿Hein?
F: Ué, ¿vc fngzbljnmñpxs ou não xzbvfnglrtspfñgl?
AR: ¿Ué o quê? ¿Como? ¿Que disse? Ãã?
Pro AR, a existência ou inexistência de Deus, a transcendência ou destranscendência dos dogmas, a necessidade ou desnecessidade das tradições são questões q não fazem a menor diferença, cosmicamente falando: a ignorância da gente é tão vasta, q tanto crer como descrer são apenas atos de soberba e presunção.
De fato, as crenças recebem um ajuda especial da soberba e da presunção. O agnóstico radical às vezes desconfia q a expressão "eu creio" significa na verdade "eu quero":
Eu quero em Deus (viver bem, não sofrer, ir pro céu, ter vida eterna, q meus inimigos se ferrem, &c).
... e não admira q as religiões todas procurem negar precisamente aquilo q mais as promovem: ao mesmo tempo em q se valem de laços familiares e étnicos mais q de atributos dogmáticos pra se manter e crescer (Eu quero em Deus q tudo dê certo pra mim, meus familiares e meus semelhantes.), buscam cinicamente sustentar q 'crer' é uma expressão de altruísmo capaz de congregar todas as raças e classes. Hmm. E é melhor vc começar a crer já, senão vc não consegue nada do q quer – muito pelo contrário, vai levar na cabeça muita coisa q não quer. Ou seja, ao crer, tua alma vai realizar todos os desejos e anseios de tua animalidade. – ...?!?!?
Mas tem um detalhe q pouca gente pesca no termo 'agnóstico radical': pro AR, a questão da (in)existência de deuses é uma questão secundária dum sub-assunto piquititico do conhecimento. Bilhões de pessoas neste mundinho se definem idiotamente a partir de suas crenças, qdo o q na verdade define o indivíduo e o distingue dos outros são seus conhecimentos – e o q vc sabe é TUDO q vc sabe: vc sabe falar português, vc sabe o q teu pé esquerdo tá sentindo agora, vc sabe o q fez ontem, vc sabe o q dizem os textos religiosos, vc sabe q a água congela no frio e evapora no calor &c &c &c &c &c. Os próprios crentes sabem intuitivamente q o conhecimento é mais definidor pois, afinal, crer é uma expectativa de saber: a fé é uma confiança num saber futuro: o crer almeja o saber: questões de crença são avassaladoramente menos relevantes do q questões de conhecimento. Mas nem os q se auto-definem 'ateus' percebem isso: a cada vez q pensam em crença como defininte, tão jogando o jogo insípido e bocó dos teístas; a cada vez q se definem como ateus, tão entregando a bola de bandeja pro time adversário. Se o saber é multivezes mais relevante do q o crer, então não faz sentido se definir a partir do crer. Pois pensa bem, leitor, se vc não tem uma coisa quase imperceptível, tal como a unha dum dos dedos médios do pé, vc não se define como 'não-unhático'; porém, se é IMPOSSÍVEL vc ter uma coisa super defininte da aparência, tal como cabelo, faz sentido vc se dizer 'careca'.
Então. ¿Sabe QDO ateus e teístas vão enxergar q a crença é um definidor quase irrelevante do indivíduo? Nunca. O hipoplausivírus os viciou nos argumentos circulares da crença.
E ¡ó dogmas defensivos! ¡ó tótens truculentos! não me venham dizer q estou aqui promovendo uma visão de mundo melhor q as outras. Só estou explicando o q quer dizer 'agnóstico radical'. Quem tendeu, tendeu. Quem num tendeu, num tende mais.
17 março 2006
poca onda
"I beg you. Let not America go wrong in her first hour."
¡¡¡HARHARHARHARHARHARHARFÓÓÓóóó...!!!
¡¡¡QUARKQUARKQUARKQUARKQUARKQUARK!!!
Tem gente q não aprende, né? O Dr Plausível aqui disponível pra evitar q tantos roteiristas passem ridículo, e assim mesmo eles vão lá e insiiiistem.
15 março 2006
mas... mas...
03 março 2006
O grupo do Sérgio
Num país carente de leitura como é o Brasil, é muito disseminada a prática de engrupir o editor e por tabela o leitor pagante. Um contumaz adepto era o PFrancis, de quem já falei aqui, onde tbm falei de outro caso. Essa prática não seria tão ruim se os albardeiros fossem bons tradutores. Afinal, de qqer modo, toda informação deriva de outra, e essa de outra e assim ad infinitum. Mas informação é uma coisa e autoria é outra. ¿Que tal citar as fontes? Êi, e ¿que tal não assinar? Se ao menos disfarçassem demonstrando um decente e criativo conhecimento das duas línguas, ou mesmo bom-senso, o plágio não ficaria tão óbvio. A ocasião faz o ladrão e a inaptidão faz a prisão.
Talvez um termo melhor q 'albardeiro' fosse 'salsicheiro' pois, como se diz, ninguém comeria salsicha se todos soubessem como é feita.
O Sérgio de meu título é, suponho, ãã... um dos críticos de cinema na Folha. O artigo q inspirou estes comentários foi publicado no Guia da Folha no último 3 de março e é quase um manual do albardeiro-salsicheiro. Quem tiver acesso via internet, pode lê-los nestes locais:
http://www1.folha.uol.com.br/guia/ci0303200601.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/guia/ci0303200603.shtml
Abaixo uma listinha dos indícios comuns:
1. Frases com raciocínios evidentemente criados em inglês:
Se adultos podem discutir quais são os seus filmes prediletos entre os indicados e para quem gostariam que os prêmios fossem entregues, este só pode ser um ano atípico na história recente do Oscar
2. Expressões q até fazem sentido em português, mas q, no contexto, só podem ter aparecido na mente dum inglesante:
filme eminentemente popular
3. Expressões contendo preposições q indicam movimento duma maneira inusitada em português:
transpor a fronteira para o território do "cinema de prestígio"
4. Frases em q há uma distância enorme entre palavras q apareceriam próximas em português (note a palavra 'fizeram', inglês 'did'): Nenhuma superprodução ou filme eminentemente popular se mostrou capaz de transpor a fronteira para o território do "cinema de prestígio" ou "de qualidade", como "Gladiador", "Uma Mente Brilhante" e "O Senhor dos Anéis" fizeram.
5. Frases com estrutura modular embutida, típica do inglês, q teriam estrutura mais arredondada se escritas originalmente em português:
A lista dos dez indicados nas duas categorias de roteiro, seleção ampliada do que os eleitores da Academia consideram que houve de melhor na temporada...
6. Expressões sintéticas cheias de significado em inglês, mas q soam vagas se simplesmente traduzidas:
No que realmente conta, nem sinal de "As Crônicas de Nárnia", "King Kong", "Harry Potter", "Batman Begins" e "Star Wars".
7. Frases cuja estrutura inglesa levam desde o início a uma certa entonação, mas q em português confundem o leitor:
De volta aos anos 70, quando o Oscar de melhor filme era disputado por "Laranja Mecânica", "A Última Sessão de Cinema", "Amargo Pesadelo", "Gritos e Sussurros", "Chinatown", "A Conversação", "Um Estranho no Ninho", "Nashville" e "Taxi Driver", entre outros? Nem tanto, mas até lembra um pouco aquele tempo.
8. Frases de efeito q tipicamente aparecem em inglês, incomuns em português:
Diga o que quiser dessa história, exceto que só pode ser coisa de filme.
9. Inícios de frase q remetem a estruturas comuns em inglês, inauditas em português:
Houve mesmo Laura Henderson, a personagem que valeu à inglesa Judi Dench, 71, sua quinta indicação para o Oscar.
10. Estruturas modulares analíticas q em português mais comumente seriam sintéticas:
indicação para o Oscar em vez de indicação ao Oscar.
11. Expressões simplesmente mal traduzidas:
ajudou a revigorar a cena teatral inglesa
12. Aparente ignorância sobre a origem de expressões inglesas:
Aqui, esse pedaço da trama reaparece, (...) mas em chave triste. 'On a sad key' é um termo originado da música (onde key=tom); diz-se q os tons menores são 'tristes'.
13. Expressões aliterativas em inglês q são de uso comum por causa de sua aliteratividade. Em português, a tradução às vezes soa como o primo pobre de alguma outra expressão portuguesa de mesmo significado:
embora os bombardeios aterrorizem Londres, é sempre possível encontrar alegria, companhia e seios nus no Windmill. (inglês=bare breasts)
Nosso estelar doutor pode estar totalmente errado. O jornalista q ganhou uns trocados pela publicação desse texto no Guia da Folha pode simplesmente ter lido todo o material promocional (em inglês) e algumas críticas (em inglês) e, consultando seu invejável conhecimento de cinema, ter escrito essas linhas todas de próprio punho. Ele pode simplesmente ser um mau escritor. Mas... mas... ¿isso não seria até mais hilariante? ¿...q um veículo de circulação nacional se veja reduzido a publicar um artigo assinado dum suposto crítico de cinema q lê tanto em inglês q mal consegue diferenciar o inglês do português em seus próprios escritos?
Na verdade há pouquizíssimos críticos de cinema no Brasil. Há, sim, uma quantidade enorme de divulgadores de cinema, o pessoal q une seu conhecimento de inglês, seu gosto por cinema e seus contatos com veículos de imprensa pra ganhar a vida modestamente. Nada contra alguém ganhar a vida modestamente. O jornalista q assinou as matérias acima tem minha total compreensão. Mas seu cachê vem dos milhões de pessoas (entre elas, parentes e amigos meus) q gastam dinheiro de seu próprio bolso ao comprar jornais em q esperam obter, no mínimo, uma compreensão imediata do q lêem; e no entanto são rotineiramente expostos à cara-de-pau de albardeiros q nem sequer utilizam muitos neurônios pra costurar os retalhos q roubam. O problema, o hilariante, é o q isso demonstra sobre a maneira como se fazem tantas coisas influentes no Brasil.
A gargalhável seriedade da fachada.
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
21 fevereiro 2006
O sonho pônei
O Dr Plausível não ri só qdo trata hipoplausibiléticos; também ri do q é perfeitamente encaixadinho. Mas aí é um riso estético-extático, reservado älguns budistas e um q outro agnóstico. Uns meses atrás, despucelando-se de rir, nosso empedernido doutor me mostrou uma tirinha de jornal. Olhei e logo vi q se tratava de uma das mais geniais tirinhas de toda a história dos quadrinhos, e na data de hoje escolhi render homenagem ä dita cuja. Sempre sigo o conselho do Tom Stoppard, “don't clap too loudly, it’s a very old world” &c. Mas o autor da tirinha, Caco Galhardo, acertou tão na mosca, q merece uns tapinhas nas costas e uma noitada num puteiro.
O Pequeno Pônei é um cavalinho mal-humorado q quer, por assim dizer, extrapolar sua poneidade. Sempre q declara um desejo de ser outra coisa, vem alguém e diz, “¡Mas você é um pônei!” Por exemplo, na tira anterior, o Pequeno Pônei encontra o Chet Baker:
PeqPon: Chet, estou farto dessa vida fútil. Quero ser profundo como você.
CheBak: Forget it, pal. You’re a pônei.
E aí vem esta obra-prima:
E na tirinha seguinte:
PP: Chet, estamos neste deserto há horas e até agora nem sombra de inspiração.
CB: Eu estou curtindo.
PP: Curtindo o quê, o sol escaldante, a areia penetrante, a solidão implacável?
CB: Não, curtindo andar de pônei.
PP: Não zoa, Chet.
O Dr Plausível pondera q boa parte do mundo se divide entre chets-bakers e pequenos-pôneis: num lado, aqueles poucos q, com talento e trabalho, se encontraram nalguma arte ou ofício e, no outro, aqueles muitos q, procurando uma revelação ou uma mudança de vida, sustentam e enriquecem os primeiros ao tentar percorrer o mesmo caminho q eles, mas na verdade os carregam. Nosso esbaldado humanista com certeza teria coisas mais profundas à dizer sobre a tirinha. Já eu, ¿quê posso dizer senão isto?:
Talvez por tê-los visto algumas horas antes, instantâneamente me vieram ä mente o Ozzy Osbourne, Paulo Coelho e os críticos do Lula.
Explico. ¿Já viram aquele seriado com a família Osbourne? Pois então. Vendo aquela riqueza estapafúrdia em q o Ozzy vive, e por associação (em > ou < grau) todo artista famoso, é impossível descartar a constatação de q aquilo tudo saiu dos bolsos das dezenas de milhões de fãs idólatras impressionáveis q compraram discos à preços ‘de mercado’ (haha) e pagaram pra ver shows exorbitantes economizando as merrequinhas do dia-a-dia.
E também é quase impossível não pensar (e este é meu ponto principal) numa parte desses fãs: os milhões de jovens sem grande talento, tempo ou tino q se ‘inspiram’ nos ‘grandes’ artistas e compram guitarras, teclados, trompetes, baterias, métodos, CDs &c e desperdiçam horas, meses e anos de suas vidas no sonho pônei de também se tornarem ‘grandes’ artistas (nada contra tocar um instrumento pra se divertir ou pra ganhar uns trocados). A grande maioria desses jovens jamais vai chegar à lugar algum dessa maneira; mas durante esse processo, perdem tempo e gastam um baita dinheirão comprando os produtos q ajudam à patrocinar a imensa riqueza dos artistas e fabricantes, distribuidores, lojistas, &c. Tudo se move à partir da aura do artista, a aura de quem tem o pé firmemente plantado em si mesmo, q conhece seus limites, sabe do q é capaz e o faz, e enormes fortunas são carregadas literalmente nas costas de quem procura trilhar o mesmo “longo caminho”. De vez em qdo alguém se dá bem, mas aí o caminho é o caminho dele e não o do artista (q à partir daí é demovido ao status de “influência”).
O q me leva ao P.Coelho, o “alquimista” q transforma lugares-comuns em ouro de tolo. É o cara q supostamente diz q cada um deve seguir seu próprio sonho e, paradoxalmente, enriqueceu vendendo os mesmíssimos livros à dezenas de milhões de leitores. É gargalhàvelmente triste. Pensei nele ao ver a tirinha, mas poderia ter pensado em qqer um das miríades de outros autores, compositores e filósofos q, ao expressarem sua própria verdade em seu próprio estilo forjado por seu próprio talento e seu próprio trabalho, dão ao pônei a sensação de q ele pode chegar ao mesmo lugar imitando o resultado do trabalho e talento dos gênios –¡parece tão fácil!–, no q está não só enganando à si mesmo como sustentando e enriquecendo, distanciando e inchando a máquina mesma q os engana. Em essência, gozando com o pau dos outros.
E pensei também na pressão implacável pra q gastem fortunas aprendendo outras línguas pessoas q mal articulam um raciocínio claro em sua própria língua ou como se não houvesse mais à dizer e criar em sua própria língua; pensei no batalhão de mãezolas q pagam pra ver e suspiram vendo MBarishnikov ou NComaneci e enfiam as filhas no balé ou na ginástica (esse é o típico sonho pônei: ao aprender o básico de inglês ou de piano, pelo menos vc se diverte); pensei em toda a babação em cima de filósofos e todas as páginas publicadas e compradas q nunca foram nem serão lidas, e nos bilhões de livros comprados q mofam em prateleiras, sebos e cérebros; pensei nos escritores, atores e artistas –de preferência zeuaenses ou zoropeus– e suas hordas de fãs imitando trejeitos, dicções, frases, opiniões, penteados, modas e gostos, fãs q à cada imitação derramam alguns centavos, alguns milhares de neurônios, e assim pagam o aluguel devido como inquilinos de mentes alheias.
Dependendo do gosto, pra cada O.Osbourne e P.Coelho há uma E.Regina e um M.Proust ou outros milhares de artistas e escritores e dezenas de milhares de seus associados cavalgando centenas de milhões de pôneis q acreditam poder transcender sua poneidade pelo simples fato de percorrer um caminho já trilhado. Mais realista seria alguém chegar à cada um desses milhões e milhões de imitadores, fãs e deslumbrados e dizer: “¡Mas você é um pônei!” Mas já q isso seria dum mau-gosto abismal, ninguém se arrisca. Assim, é preciso q um Caco Galhardo coloque a coisa numa perspectiva, digamos, mais metafórica. E por isso, repito, merece bem merecido, e não mais q, uns tapinhas nas costas e uma noitada num puteiro.
Ainda há a questão do pônei em si. Pois ¿há algo de errado ou ruim ou vergonhoso em ser pônei? Pelo contrário, por dois motivos.
(1) O pequeno-pônei é o default do ser humano. Todo mundo é pônei em quase tudo. Já vi o P.Coelho tentando filosofar e posso dizer q não é a praia dele. E ¡me poupem de ver o cara dançando balé! Quem já viu o Ozzy no seriado, sabe q ele é pônei em tudo menos em beber da própria fama. ¿Quê dizer de Nietzsche, q se sentiu o próprio pônei depois q caiu dum cavalo e não pôde virar soldado? ¿Quê dizer de Tchaikovski, q ao q consta era tão bem dotado qto um pônei comparado à um garanhão?
(2) O mais importante é q todo chet-baker começou como pequeno-pônei, mas teve a sorte de desejar aquilo em q seu talento natural e suas circunstâncias desembocavam. Assim, não há nada de errado ou intrìnsecamente ridículo em alguém almejar, sonhar, sofrer influências e trabalhar feito um cavalo pra encontrar o próprio caminho. O ridículo, o ataque hipoplausibilético, é guiar-se pelos outros, deixando as rédeas do focinho nas mãos do chet-baker de ocasião.
E ¿quê dizer de Lula, q é acusado diàriamente de ser um pônei da gramática e está pouco se lixando pois se recusa à carregar a cheta-baker q é a norma culta (NoCu, segundo eu) até um deserto q ele jamais poderia chamar de Lar? Certo está ele, pois apesar do q dizem os pôneis da NoCu, ninguém fala errado a própria língua. Os críticos desse aspecto do Lula são os q promovem a idéia do Brasil como um país-pônei, uma nação de expatriados, uma imitação de pátria. São os q querem o Brasil todo pedindo à um chet-baker “me ensina à ser desenvolvido como vc” e o chet-baker dizendo “tá bom, tá bom, mas é um loooongo caminho.” Merecem gargalhadas (nem estéticas nem extáticas).
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
15 fevereiro 2006
A pergunta calada
Q: How many men must die before we can really have a free and true and peaceful society?
A: Will 6.5 billion do?
(Tradução:
P: Qtas pessoas precisam morrer pra q a gente possa realmente ter uma sociedade livre, correta e pacífica?
R: 6,5 bilhões já dá?)