05 setembro 2003

Neologismos e neomundos

Um dos órgãos cerebrais mais afetados pela hipoplausibilose é uma pequena região ao lado da área de Brocca chamada Centro de Simancol Gramático. Praticamente todo gramático normativo ou prescritivo profissional tem o CSG quase totalmente atrofiado por ataques sucessivos de hipoplausibilose. ¡Êta gente sem simancol! E o pior é q ficam com aquela pose toda achando q são mais 'desenvolvidos' e 'cultos' e o escambau.

Olhem a Academia Brasileira de Letras, por exemplo, uma instituição dedicada a baixar a auto-estima de todo brasileiro q não soletra, não conjuga e não pronuncia exatamente como seus membros. ¿Por que não vão plantar pirulito em careca de otário? O brasileiro médio acha q fala errado, q não pode usar palavras q não estão no dicionário, tira sarro de quem não soletra como está no dicionário, e coisas assim. E ao mesmo tempo, ¡êta ironia do terceiro-mundo!, admira, inveja e imita tudo q vem dos EUA e da Europa, de países onde ou não existe nenhuma academia normativa da língua ou onde cada um fala e escreve como quer e não dá a menor bola pra o q dizem as academias. Acho q nem você q está lendo pescou onde está a hipoplausibilose nisso, né?

A teoria do Dr Plausível é muito simples: cultura q rejeita neologismos, desvios do padrão, &c na língua q fala é cultura q não cria idéias novas, não desenvolve as antigas e em suma anda em círculos atarracados em volta do q já existe. ¿Vcs já notaram q toda idéia nova vem com um vocabulário novo? Logicamente não é o vocabulário q cria as idéias, mas é a liberdade de criar termos novos o q permite a desenvoltura na manipulação das idéias. Cada vez q um brasileiro tem uma idéia q poderia ir prà frente, fica gastando sinapses e neurônios com a regência verbal, a ortografia e o cuidado pra não passar um carão. ¡Qta bobagem!

Os malapropismos do Vicente Matheus são ridicularizados no Brasil enquanto q os do equivalente estadunidense, um jogador de baseball chamado Yogi Berra, ficaram célebres, a ponto de ele ser homenageado até em desenhos animados: o nome original do Zé Colméia é Yogi Bear. Os disparates q Berra disse continuam a ser citados, e são vistos exatamente pelo q são: frases estranhas e engraçadas; ao passo q a baixa estima lingüística do brasileiro transforma as frases estranhas e engraçadas do Vicente Matheus em veleidades vergonhosas e aberrações ignorantes.

E por essas e outras, o Brasil parece condenado a pegar a rabeira da história. ¡Êitcha!

03 setembro 2003

Acento reservado para gramáticos

O Dr Plausível vira e mexe recebe pra tratamento a teoria de que, quanto à acentuação, as palavras da língua portuguesa se dividem apenas entre oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas. ¡Que classificação mais inepta! Basta vc mesmo, leitor, ler de novo a primeira frase deste parágrafo e verá que chegando ao final não leu oxÍítona, paroxÍítona e proparoxÍítona, mas sim "Ôôxitona, pÁároxítona e prÔôparoxítona "; e se lembrará q o próprio professor q insistiu em enfiar essa classificação em seus tímpanos inocentes provavelmente disse: "quÃnto à Ácentuação, as palÁvras da língua pÔrtuguesa são clÁssificadas em Ôôxitonas, pÁároxítonas e prÔôparoxítonas." Tal é a força da palavra escrita q 99,999% de todos os professores de português repetem fielmente o q lêem sem questionar nem mesmo a própria garganta.

Uma classificação q surgiu apenas pra padronizar a escrita vira dogma. A verdade é q na fala a acentuação das palavras no português é amplamente flexível, irregular e volúvel. Veja estes exemplos reais coletados por este q vos escreve:

"é nÊecessário fÍiscalizar esses processos dÔo congresso"
"a trÂansferência da Áadministração do Iraque"
"um estado Íindependente" ou "um estado indÊependente"

Ou seja, enquanto fala, o usuário da língua está pouco se lixando pra o q dizem os gramáticos. É só na hora de refletir q o usuário prefere repetir as baboseiras impostas. Aliás, dada a torrente de dogmas q regurgita e a tenacidade de seus vetos e suas condenações, todo gramático prescritivo tem vocação mesmo é pra padre.

25 agosto 2003

Ditado sem vírgulas

Quem passar pela Marginal Tietê estes dias pode deparar-se com uma visão incôngrua: à beira do asfalto, ergue-se a 15 metros do chão, como um anúncio de liquidação, um cartaz enorme vermelho onde se lê:

A IRA DE DEUS
O MUNDO SE CALA
AOS DITADORES

desse jeito mesmo, sem pontuação e sem a menor explicação.

Mas ¿q raio de geringonça cerebral bolou essa frase, encomendou o cartaz, pagou e instalou e ainda espera estar transmitindo uma mensagem? ¿Será q eu é q sou um desespiritualizado amístico e aminimalista? Fiquei vários minutos rodando a frase daqui pra lá na cabeça, tentando entendê-la. Ao recomendar a frase pra tratamento com nosso esplêndido Dr Plausível, ele simplesmente a leu e disse, "Esse cartaz não é implausível, assim como não o são as formações aleatórias de nuvens no céu ou os desenhos q fazem no chão do bosque as suaves gotas de orvalho caindo a esmo aqui e acolá numa manhã qualquer de primavera."

¡Qta sabedoria! ¡Qta sapiência!

O rústico pensar da colônia

Todo propagandólogo ou marquetinhólogo vive dizendo q todo mundo só faz o tempo todo anunciar o q vende. Então tá. Também todo músico diz q tudo é música, todo biólogo diz q tudo é biologia e todo lixeiro diz q tudo é lixo. Mas a crença do Zé Reclame até q tem um fundo de verdade. Por exemplo, se eu estou dormindo à sombra duma palmeira à beira da praia, eu logicamente estou anunciando q estou dormindo à sombra duma palmeira à beira da praia. Basta confrontar o Zé Reclame com esse fato e sua inescapável interpretação, q ele automaticamente cita consciente ou inconscientemente o velho Freud, "Às vezes um charuto é apenas um charuto", dito no susto qdo alguém insinuou algo sobre o uso do mesmo.

Mas citando nosso exímio Dr Plausível, "propaganda nunca é charuto": sempre tem algo escondido nas entrelinhas. Vejam por exemplo este texto encontrado no folheto dum bar numa cidade praiana meio histórica:

"Localizado na paradisíaca e histórica cidade de Blablablá, o Bar Blebleblé, com criatividade e sofisticação, resgata e concilia com o presente, todo o clima, a mística e os encantos do passado. Num ambiente despojado, alegre e aconchegante, com a melhor música e uma culinária fundada nos mais saborosos grelhados servidos na tábua, além do melhor chopp de todo o litoral bliblibli, oferece uma diversificada carta de vinhos com mais de 60 variedades especialmente selecionadas e acondicionadas em adega climatizada, serviços de Wine Keeper para a imprescindível degustação e espaços exclusivos para prazeres também exclusivos, como Clube do Whisky, Clube da Vodka e o Clube do Charuto."

¿Será q alguém acredita nisso? O folheto foi levado ao consultório do Dr Plausível pelo CBeetz e pela PDufrayer, q estiveram no local e traduziram o texto acima pra algo mais próximo à realidade:

"Venha ficar surdo e bêbado num ambiente q procura disfarçar o presente e só consegue insultar o passado, ouvindo alguém cantar no último volume, bebendo um chopp industrializado, comendo num pedaço de madeira q custou uma bagatela, e cheirando a pestilência dum charuto logo ao lado. Vc pode pedir qqer um dos vinhos q nosso comprador achou na distribuidora, e ao cambalear prà rua, não deixe de manter a tradição da cidade: tropece no calçamento irregular e caia de boca num pedregulho paradisíaco."

Mas também fazer texto pra folheto de barzinho deve ser uma tarefa inglória, não? ¡Caaacilda! Chega o dono do bar e pede, "escreve umas coisas bonitas aí... cidade paradisíaca... ambiente sofisticado... sei lá, inventa aí". Só podia dar no q deu. ¿Onde é q estão os fantasmas coloniais qdo a gente precisa deles?

24 agosto 2003

Pipocam et cinemenses

Como bem lembra o Zé Geraldo, ¡q vexame, esse tal Spielberg, hem? O cara misturou os genes dum tubarão com os dum leão e ainda enfiou os dum cupim, e criou um peixe q ruge e come madeira. Cada idéia.

Mas a pergunta do ZG ("¿por que ruge o tubarão do Spielberg?") só tem uma resposta: porque o filme é estadunidense e foi lançado no verão de lá. À primeira vista, essa resposta parece q não tem nada a ver. Mas lembro q o Dr Plausível estuda a hipoplausibilose no cinema há várias décadas, e em seu último livro "Tela à Vista" (Ed Sphincter, 540 pgs, R$5.400) demonstra q o grau de hipoplausibilose num filme estadunidense é diretamente proporcional à proximidade do lançamento ao verão boreal. Vcs podem checar. Todo filme q sai entre Junho e Agosto é um compêndio de enredos fáceis e rápidos, temas paranóico-sensacionalistas, atuações padrão e desenlaces idem, em que a plausibilidade tem mais chance de sair intacta q um ator coadjuvante tem de ainda estar vivo na última cena.

Mas aí a pergunta virou outra: ¿why the fuck filme de verão tem q ser implausível? Aha...!, reponde o Dr Plausível, porque os EUA são uma democracia rica, ou seja, são um país onde os anseios legítimos da manada são total e irrestritamente satisfeitos, ou seja, um país onde a Voz do Povo é soberana, e a Voz do Povo diz: "ué, ¿tubarão não devia rugir?".

Mas ¡ó panem et circences! o povo parece q não sei...

21 agosto 2003

Entre atentados e conseguidos, todos escapam

E aí, ¿vcs acreditam em notícia de jornal? Difícil, né? Ainda mais qdo o jornal noticia um comunicado dum governo. O Dr Plausível sempre diz q jornal noticiando comunicado de governo é como maquiagem de velha: uma tentativa de esconder algo q fica ainda mais evidente.

Pois vejam só esta: um comunicado hipoplausibilético do governo estadunidense avisa q gente ligada ao Bin Laden conseguiu entrar no Iraque (ué, ¿eles não estavam lá o tempo todo?). No dia seguinte explode um caminhão bomba embaixo da janela do chefe da missão da ONU em Bagdá, matando um cara q queria ver o Iraque governando a si próprio rapidinho. Ninguém assume o atentado conseguido, mas um outro comunicado hipoplausibilético lança suspeitas sobre aquela gente ligada ao Bin Laden.

¡Q coisa, hem? ¡O mundo todo parece que bebeu!

Muita gente diria q neste caso o tratamento do Dr Plausível seria um despropósito. Mas vejam bem, ¿eu estou dizendo alguma coisa? ¡¿Eu estou insinuando alguma coisa?¡ ¿Hem?

18 agosto 2003

Quem come tudo não come nada

A primeira vez q o Dr Plausível ouviu falar daquela turma q categoricamente afirma viver de luz e não precisar de comida, ele nos surpreendeu já com um comentário na ponta da língua: "¡¡hhhhrrrr-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-QUA-tóç-QUA-QUA-QUA-rrrrhhhh-pfrfrfr!!!" Desde então seus comentários têm sido mais moderados, e passaram do "¡¡hhhh-HA-HA-HA-HA-HA-HA-HA-tóç-HA-HA-HA-rrrrhhhh-pfrfrfr!!" ao "hhh-HO-HO-HO-rrrrhhhh-pfrfrfr!!", e agora o assunto não desperta mais q um "¡hrhrhrhr....pfrfrfr!" No entanto, o edificante e extrovertido Dr Plausível não deixa de dar ouvidos aos críticos q ressaltam o fato de q um terapeuta não deve tirar sarro de seus pacientes, especialmente aqueles q mais precisam dele.

Mas ¡q idéia essas mulheres foram ter, hem? Vejam só este sintoma de hipoplausibilose galopante:

"A possibilidade de viver totalmente e exclusivamente de Luz (...) é verdadeiramente um salto quântico na evolução humana."

(¿Já repararam como os hipoplausibiléticos pseudo-científicos têm tesão usando jargão das ciências exatas de última geração?)

E este outro:

"A escritora Evelyn Levy Torrence rebate a afirmação do endocrinologista, dizendo que as pessoas miseráveis morrem porque não têm conhecimento do processo de captação da luz."

¡Haja mau hálito!

Descontando a possibilidade de má fé pura e simples por parte dessas fotossintéticas hipoplausibiléticas, é possível q elas acreditem mesmo q "não comem coisa alguma": pois ¿não é do feitio de muitas mulheres e afins exagerar a interpretação duma observação? ¿Quem já não viu uma magrela reclamar q está gorda como uma baleia, ou uma desnarigada dizer q tem uma napa de tucano? Elas não estão descrevendo a realidade, mas apenas dizendo como se sentem. Então ¿não seria possível q essas pessoas-plâncton estejam apenas exagerando? De algum modo devem recuperar as forças perdidas na televisão vespertina insistindo q vivem de luz, e depois se alguém lhes pergunta se já jantaram, dizem "Não, nada.", frase esta q pràs pessoas racionais equivale a dizer "Nem sinto q acabei de devorar uma lasanha."

¡Ó anorexia cerebral! ¡Ó fome de miolo!

14 agosto 2003

A garoa e a rocha

A política e o Dr Plausível são como a garoa e a rocha: a primeira de vez em qdo molha a segunda por fora e estamos conversados.

É nesse clima de indiferença mútua q o exaltado e enfático doutor analisa a propaganda política. Digam a verdade, mes enfants, ¿tem coisa mais implausível q as esperanças eleitorais da maioria dos candidatos a qqer cargo? Tem gente q não tem simancol nem na terceira vértebra à esquerda, ¿não? Analisemos um caso tomado aleatoriamente: Quércia. Eu poderia falar de qqer outro empostado e falastrão de segunda: o nome não importa muito; aliás, q eu saiba, o Quércia pode até ser o ser humano mais correto, hábil, empreendedor, justo, transparente, capaz, eficiente, iluminado, honesto, competente e esforçado em todo o universo e mais dez metros. Mas até mesmo o mais correto, hábil, &c ser humano do universo pode ser vítima de hipoplausibiloses plantadas em seu cérebro pelas turbas ensandecidas de puxa-sacos. Pois ¿que é q enfiaram na cabeça desse sujeito q lhe dá a impressão de q é só aparecer por aí falando os lugares-comuns de sempre e de repente consegue ser eleito? Alguém tem q chegar ao pé do ouvido dele e dos outros sem-chance e dizer bem baixinho pra não assustar, "Escuta meu, se manca. Vai cuidar de tua vida. Aqui vc está fazendo papel de papel de parede."

09 agosto 2003

Ponto gelado

Mas ¡q coisa, não? Já vai fazer um mês q sugeri a criação de cursos de Plausibilidade I, II e III nas escolas de propaganda & marketing e até agora, nada. Enquanto ninguém se anima, nosso escrupuloso e evoluído Dr Plausível vai vivendo de favor, vendo aberrações plausibilógicas até em anúncio de sofá. ¿Já viram esse último do Ponto Frio? Nas agências de publicidade, esse tipo de anúncio deve ser dado aos estagiários. Pois vejam se não concordam com o Dr Plausível: logo no comecinho do anúncio, o garoto propaganda (q parece felicíssimo por estar anunciando sofás e batedeiras) diz algo como "¡O Ponto Frio quer ter vc aqui e agora baixou os preços de verdade!" Mas ¡¡¡o quêêêê??? ¿Quer dizer q toda vez q o Ponto Frio anunciou "preço baixo" até agora era mentira? Quando comprei aquela máquina de lavar Enxuta e aquele aspirador de pó Electrolux no Ponto Frio do Jabaquara, crente de q estava fazendo um bom negócio, ¿quer dizer q estavam descaradamente me fazendo de trouxa? Se mentiram antes, ¿quem garante q agora estão dizendo a verdade?

E outra coisa. Lá no fim, aparece o slogan padrão "¡Que bom ter você aqui!" Mas peraí. ¿Primeiro diz q me quer lá e logo fala como se eu JÁ estivesse lá? E ¿quem disse q eu vou?

¡O cérebro dessa gente parece q congelou!

06 agosto 2003

Pai dos burros tb pode ser babaca

A exemplo do Dr Plausível, q é um assíduo usuário de dicionários, nunca encontrei um dicionário da língua brasileira cuja reputação escapasse ilesa dum diagnóstico plausibilógico. Há pouco saiu o Dicionário Houaiss de Sinônimos e Antônimos, q é até bom e útil mas tb não é lá essas coisas, e q recomendo para tratamento com nosso energético e esclarecido humanista.

Todo dicionário de sinônimos impressiona pelo vulto, mas este é resultado de puro acaso, pois ¿toda palavra não deve aparecer no mínimo três vezes? Por exemplo: babaca: adj, s coió, papalvo; coió adj, s: babaca, papalvo; papalvo adj, s: babaca, coió. Mas ¿não parece malandragem? Pra mim parece. Todo dicionário de encontrar palavras deveria ser feito nos moldes do Thesaurus do Dr Roget. O único publicado no Brasil, q eu saiba, foi o heróico Dicionário Analógico (Idéias Afins) de Francisco FS Azevedo, dificílimo de achar (uso meu exemplar a toda hora, mas já está antiquado e se desmontando). Esse negócio de ter q ir daqui pra lá e de lá pra cá à procura duma palavra q nos escapa é coisa de coitado.

Nada disso é implausível, claro. Implausível é um editor alardear q fez um dicionário de sinônimos e antônimos do qual propositalmente tirou certas palavras q considerou demasiadamente informais. ¡¡É isso mesmo o q fez o moço q editou o DHSA!! O exemplo q dei (babaca) foi fictício, pois no DHSA aparece babaca: basbaque; e aí vc procura basbaque e aparece basbaque: babaquara, ingênuo, papalvo, pateta, simplório, tolo. ¿Cadê babaca? Sumiu. Mas não é erro, não. O próprio editor diz com todas as letras na introdução de dicionário mais empolada q já li: "Não há vocábulos de gíria inseridos nas sinonímias, mas eles aparecem no dicionário como entradas (veja fofocar, por exemplo). A intenção é sugerir ao leitor palavras não informais, se precisar evitar a gíria em seus textos." ¡¡SE PRECISAR EVITAR?? ¿Q catso de dicionário é esse? Se eu compro um dicionário de sinônimos, ¡é justamente pq não quero evitar certas palavras! (Além disso, notem q ele menciona um "leitor" e não um "escritor" ou "usuário". Sintomático, ¿não?)

E ¿qual é o critério pra "palavras informais"? Pro coió, deve ser "palavras que acho feias" ou "palavras de uso corrente", ¿ora pois não? Pois ¿vcs já ouviram alguém usar basbaque em vez de babaca? Eu, nunca. Quer dizer então q se eu estiver tentando me lembrar duma palavra q o editor do DHSA considerou deficiente em "não-informalidade", ¿vou ter q comprar outro dicionário? ¡Ora, façam-me o favor! ¡Quanta babaquice! Q seja, então.

31 julho 2003

A intenção apressada de fazer o errado

Um comentário sobre o texto anterior afirma q a "desinformação" na televisão brasileira é "propositalmente idealizada", ou seja, q existe uma curriola por trás das incontáveis implausibilidades q assolam as produções nacionais. Hmm. O Dr Plausível – q estuda o problema há décadas e não somente em relação à televisão – vê sim uma implausibilidade nesse argumento da intencionalidade. É como ver conspirações onde só existem agrupamentos. Uma emissora de televisão é uma organização por demais complexa pra q qqer intenção se transforme em erros de lógica hora após hora, dia após dia, por anos a fio. As implausibilidades televisivas demonstram antes de tudo inépcia ao lidar com dados e idéias, suas seqüências e suas interações – burrice mesmo. E tb não se sustenta o argumento de q muita besteira passa pq tudo é feito com pressa e pra ontem: a pressa prejudica o acabamento das obras mas não sua concepção. O relato sobre a filha raptada por exemplo, não saiu daquele jeito pq algum fodão na emissora quis desinformar, ou pq foi feito às pressas, ou pq em algum momento o produtor disse "ah, vai assim mesmo". A questão é mais embaixo: a pessoa q idealizou a trama e/ou escreveu o roteiro simplesmente não tem tutano pra perceber como as várias partes duma história têm q se encaixar.

Muita gente vê intenção nos erros alheios, como se vê um rosto nas nuvens, ou como qdo vc xinga a pedra em q tropeçou. Difícil é compreender o fato de q o mundo está abarrotado de gente burra e/ou preguiçosa; difícil é entender a burrice alheia.

30 julho 2003

Epístolas novelescas

O Dr Plausível às vezes não tem nada pra fazer à tarde, a parte do dia em q as improbabilidades matinais gradualmente dão lugar às impossibilidades noturnas. É a hora em q todo mundo relaxa um pouco e a televisão meio q abre espaço pra os menos favorecidos de simancol plausibilético.

Esses dias, nosso exímio e estudado analista refestelou-se de engulhos e embrulhou-se de gargalhadas durante o programa de Márcia Goldschmidt vendo a dramatização duma suposta carta q relatava acontecimentos supostamente verídicos:
Fulana vai dar à luz uma menina e decide chamá-la Júlia; Sicrana, irmã de Fulana, mora longe e vem ajudar durante os dias por volta do parto; ao nascer, a menina é raptada (Fulana grita "¿Onde está meu bebê? (?) ¡Quero meu filho!(??) "); "anos mais tarde", Sicrana (irmã de Fulana) telefona de longe dizendo q acaba de adotar um bebê (???), uma menina a quem chamou Júlia; Fulana e Sicrana, q são "muito próximas", ficam 15 anos sem se ver; ao cabo dos quais, "minha filha já devia falar, andar"; o marido de Sicrana é assassinado; Sicrana vem morar com Fulana e traz Júlia; Sicrana morre duma doença fulminante; entre seus pertences, Fulana encontra uma carta não enviada em q Sicrana confessa ser a autora do rapto.

¡Ó tripúdio dos tímpanos! ¡Ó castigo das córneas! ¡Quanta acochambração, hem? Reciclagem de fotonovela dá nisso.

(Vale dizer q, após rir às bandeiras despregadas, nosso estóico e egrégio militante sofreu a ressaca de passar várias horas desagradáveis lastimando as sinapses perdidas e condoendo-se pelos telespectadores coitados q as perdem diariamente vendo esses programas.)

25 julho 2003

Vacuidades

Inumeráveis críticos do Dr Plausível teimam em apregoar q teríamos q descartar quase toda obra de ficção, pois a apreciação de qqer livro, qqer filme, qqer peça teatral exige uma suspensão da realidade. Essa gentalha toda q critica nosso excelso e excêntrico humanista deveria lavar bem as cuecas e calcinhas antes de forçar o cérebro a pensar racionalmente.

A ficcionalidade dum relato não o exime do escrutínio plausibilógico. Qdo o autor se esquiva da plausibilidade pra facilitar alguma resolução, o leitor/espectador se sente traído: "Porra, paguei ingresso e fiquei aqui sentando todo esse tempo dando atenção a essa produção ¿e agora esse sem-vergonha me sai com essa?"

Como bem lembrou o mentor intelectual do Dr Plausível, explosões no vácuo em filme espacial são um caso típico e bem conhecido: só mesmo quem desconhece as leis da física sai do cinema deslumbrado com os efeitos especiais, pois ¿como é q pode algo explodir no vácuo pegando fogo e ainda por cima fazer barulho? ¿Faria alguma diferença na história se as 'explosões' fossem silenciosas? E não contentes em produzir estrondos no vácuo, o som ainda por cima chega instantaneamente até nós, q teoricamente estamos a milhares de quilômetros dali. Vácuo é o q os produtores têm na cabeça. Aliás qqer filme de guerra tem esse problema. Uma explosão acontece a cinco quilômetros e ¡personagens de costas pra ela a ouvem instantaneamente!

Aposto q todo técnico em efeitos especiais teve um choque de realidade ao ver os atentados do WTC: avião q bate em prédio não explode pra trás. Agora q todo mundo já sabe, vai ficar mais difícil enganar até os deslumbrados.

19 julho 2003

Ser pra ver

¡Aha!

Uma leitora mencionou a mulher invisível...

De todos os super-heróis impossíveis, tais como o homem-borracha, o aqua-man, a mulher-maravilha, etc, a figura q leva o Oscar de Implausibilidade é sem dúvida a mulher ou homem invisível, ou a politicamente-correta "Pessoa Invisível", criação original de HG Wells. Observem o raciocínio do Dr Plausível:

Todos os heróis têm algum poder humanamente impossível mas aceitável pela imaginação. A Pessoa Invisível, no entanto, além de já ser impossível no mundo natural, traz uma implausibilidade incontornável: ¿como é q ela enxerga? Uma pessoa invisível deve ser completamente cega, pois se a luz a atravessa, também deverá atravessar sua retina invisível, e portanto nenhuma informação de luz chegaria a seu cérebro invisível. Essa turma q fica inventando super-heróis deveria pensar mais nessas coisas, ¿ora pois não?

Assim, toda vez q sonhar em ser invisível pra poder ver o q outros estão fazendo, lembre-se de q 'ser invisível' e 'ver' são (¡ó ironia entre ironias!) duas opções incompatíveis entre si. E se lhe aparecer um gênio concedendo-lhe três desejos, não se esqueça de q, pra realizar esse sonho, já vai gastar dois. É mais prático pedir ao gênio uma mosca eletrônica com câmera & microfone.

14 julho 2003

¡Sebo neles!

¿Vcs já viram aqueles anúncios da coleção de livros editada e promovida pela Folha? ¡Q vergonha, não? Toda escola de propaganda & marketing devia ter curso de Plausibilidade I, II e III, ¿não acham?. Pois vejam se não concordam comigo: Esses anúncios mostram uma pessoa lendo um dos livros da coleção e distraidamente enfiando na contracapa alguma coisa q iriam colocar na boca - uma mulher enfia um batom, um homem enfia um sorvete de casquinha, uma escova de dentes, etc. A suposta mensagem é: se vc ler este livro, vai gostar tanto dele q não vai prestar atenção em mais nada.

Mas o Dr Plausível realizou uma pequena pesquisa com transeuntes anônimos: recortou os anúncios do jornal, mostrou-os aos anônimos transeuntes e perguntou, "Vc compraria ou leria este livro?" Eis uma sinopse das respostas:

- ¡Claro q não! Se eu gostar do livro tanto assim, vou estragar e jogar dinheiro fora.
- Eu nunca ia ler um livro q me impede de passar meu batom sossegada.
- Se ler é hábito de quem não tem coordenação motora, não quero não.
- Jamais colocaria em minha prateleira um gama de tons pastéis.
- ¡Tá louco! Ninguém se intromete entre mim e meu sorvete!
- ¡Eu não! Todo mundo vai achar q eu sou imbecil.
- Ah, nããão. Sou canhoto. Vou estragar a capa.

Como se vê, se a coleção vender bem, será unicamente pq o público está sendo impiedosamente bombardeado de anúncios. Com seu visual pífio e péssima encadernação, dentro de alguns meses esses livros serão o terror dos alfarrabistas.

Mas, perguntar-se-ão meus leitores, ¿q há de implausível nisso tudo? Ora, mas ¿tenho q explicar tudo?

12 julho 2003

Os bushas de canhão

O Dr Plausível deu imperdíveis gargalhadas qdo alguém alto do governo estadunidense finalmente admitiu o q todo mundo já sabia – q pro Iraque destruir alguma massa, tinha q colocar muito molho e queijo ralado. Agora, no dia da independência dos EUA, outro funcionário "descobriu" uma fita em q alguma persona non grata declara exatamente (notem q 'exatamente' está sublinhado) o q o governo estadunidense precisava pra manter o apoio do povinho. E ¡Ê, cacilda!, ¿não é q deu certo? [...impagáveis gargalhadas...]

Todo mundo acha q a principal característica dos estadunidenses é o título de povinho mais sem simancol do planeta. Mas o Dr Plausível discorda. Desde q Orson Welles noticiou uma invasão marciana e levou uma cidade inteira ao pânico, está claro e evidente q o q os EUA precisam mesmo é abrir um franchising de Clínicas Dr Plausível. Mas talvez nem isso bastasse, pois o problema, vejam bem, não é q os filhos do tio Sam sejam hipoplausibiléticos: o vírus da hipoplausibilose infecta informações, textos e enredos, e não pessoas de carne e osso. O q estas precisam é dum detetor de implausibilidades, um desconto-do-vigário. Mas, ¡ó ironias do destino!, parafraseando o q se diz de Salamanca, "Lo que la naturaleza no da, el Doctor Plausible no lo presta."

08 julho 2003

As loiras geneticamente morenas

Carlos P Motta, o mentor intelectual do Dr Plausível, sempre contribue pra engrossar a conta bancária do emérito terapeuta recomendando pacientes hipoplausibiléticos a seus cuidados. Uma de suas recomendações mais célebres é um caso de implausibilidade galopante que acomete grande parte da população brasileira: ¿Será plausível q um país com tantas morenas e mulatas de bundas maravilhosas e naturais produza tantas loiras tingidas de seios turbinados? Ou então esta: ¿Será plausível q o mesmo país q importou o conceito de 'loira burra' também importe a fórmula do xampú tingidor?

O comum dos mortais pedirá q não se confunda implausibilidade com incoerência. Diriam q os sintomas relatados indicam o segundo mal, e não o primeiro. Mas o Dr Plausível discorda dessa objeção, por motivos semânticos senão filológicos. Pra nós, usuários da língua (e não pros dicionários, diga-se de passagem), a palavra q empresta o nome a nosso emblemático cientista significa "aceitavelmente semelhante à realidade". Já "coerente" qualifica o bom nexo entre duas idéias ou fatos distintos. Seguindo esse raciocínio, dirão os críticos, brasileiro correr atrás de loira peituda em vez de correr atrás de morena bunduda é incoerente, mas não implausível.

¡Ó leviandade especulativa! O fato de morenas se mutilarem a fim de mimetizar um biotipo concorrente e assim desabonar o próprio, precisa sim duma consulta urgente com o Dr Plausível. ¿Há coisa mais "inaceitavelmente contrário à realidade" do q os resultados de toda a parafernália utilizada por mulheres e homens pra parecer aquilo q não são, desde lábios batonadamente carnudos a ombros enchimentamente largos?

¡Ó desgraça evolucionária! ¡Ó desastre genético!

04 julho 2003

A contabilidade da alma

Voltando à vaca fria das implausibilidades religiosas, o Dr Plausível recomenda tratamento prà oração de S Francisco de Assis q virou letra de música obrigatória em tantos encontros de jovens religiosos: "fazei com q eu procure mais consolar q ser consolado, compreender q ser compreendido, amar q ser amado, pois é dando q se recebe, é perdoando q se é perdoado e é morrendo q se vive prà vida eterna."

Parece uma oração imbuída dum sentimento altruísta e duma beatitude edificante, ¿não?

Mas observem o q está fazendo aquela palavrinha escondidinha entre as duas partes da oração: a conjunção "pois". O autor da oração quer consolar, compreender e amar pois quer receber, ser perdoado e viver eternamente. A oração passa imediatamente de altruísta pra interesseira, de beata pra maquiavélica: o suposto beato caridoso e amoroso pretende assumidamente usar o outro em benefício próprio! ¿Isso lá é sentimento religioso q se apresente? O altruísmo de S Francisco, e das gerações e nações inteiras q repetiram e repetem sua oração, seria mais plausível se a segunda parte fosse abolida, ¿não acham?

Mas, ¡ó alma encalacrada!, grande chance!

03 julho 2003

Nunca diga besteira

¿Já notaram como a hipoplausibilose faz o paciente deturpar o significado das palavras até q elas não signifiquem absolutamente nada? O Dr Plausível chama esse sintoma de "efeito incrível". Um porcentagem alarmante de chamadas de filmes na rede Globo contêm a palavra 'incrível'. Agora a palavra aparece também em revistas, especialmente em manchetes de capa. Observem o disparate, por exemplo, duma chamada na capa do último número de 'Cláudia':

Nunca diga nunca: mulheres incríveis provam que você pode tudo.

¡Ó meus calos! ¿Não é ridiculamente óbvio q se as tais mulheres q provam q vc pode tudo são mesmo incríveis, segue-se q vc (uma mulher supostamente normal) não teria a menor condição de conseguir coisa alguma? Pois se as tais mulheres incríveis são realmente incríveis, ¿q chance tem vc, sua lesma?

Aliás, se o artigo da revista fala de mulheres q por seu esforço e capacidade conseguiram boa credibilidade ¡¿por que é q são chamadas de 'incríveis'?!

¡Ó feminismo às avessas! ¡Ó despiadada incredibilidade!

02 julho 2003

A prece e a pressa

O Dr Plausível já atendeu diversos casos de prece coletiva, uma prática que inspira sérios cuidados. O último caso mais notório no Brasil foi a 'corrente de oração' pra orar pela vida ou a alma do cantor Leandro, q ao q consta era um bom cantor, um sujeito decente e uma pessoa agradável. Mas daí a merecer intervenção divina vai um bom pé de estrada. Muita gente se deixa levar por idéias totalmente incoerentes. Ao q parece, uma mesma pessoa pode simultaneamente crer q (1) Deus é justo e caridoso e q (2) um doente terminal tem mais chance de sobreviver se for suficientemente popular pra q um batalhão de rezadores interceda por ele, do que teria se ele fosse um desconhecido embaixo duma ponte rezando pela própria saúde. Há q ser muito hipoplausibilético pra crer q Deus, seja ele "O" Deus ou um outro deus qualquer, mudaria seus desígnios pra acomodar os desejos duma turba ensandecida por algumas jogadas de marketing.

¡Ora, mas tenham a santa paciência!