Permeando a colossal e detalhada estrutura da civilização, a maior parte dos seres mais complexos há de reconhecer a ubiqüidade da Racionalidade –fruto fortuito da física– e do Senso de Justiça –brinde bastardo da biologia. Embora os caras se jactem da Rac. e do Senso de Just. como construtos humanos, essas duas abstrações têm com a física uma conexão mais fundamental do q há, digamos, entre a instituição do casamento e a biologia. É por causa dessa conexão q todo o mundo procura explicar seus atos e idéias invocando sempre a Rac. e a Just. –tragicômicamente sem no entanto levar em conta q pode tar sendo vítima inocente dum ataque hipoplausopoplético na região HL73m da massa cinzenta.
Mas, sendo a biologia em grande parte uma consumação do acaso, a Justiça não é um mapeamento quid pro quo da Racionalidade. O bundo abunda em abostras do desacordo entre as duas. Por exemplo, ¿por que cargas d'água na supracitada instituição do casamento o mais comum é q se renomeie a mulher com o sobrenome do pai do homem, e qdo vêm os filhos esse mesmo sobrenome prevaleça sobre o do pai da mulher? A explicação invoca a praticidade: é racional q os sobrenomes não se amontoem à cada nova geração, q um neto de Zébrio Abreu Borja, Xenha Costa Dias, Vânio Engels Faria e Úrvula Gomes Hassenteufel não se tenha q chamar pelo trambolho Rânio Borja Faria Dias Hassenteufel Abreu Engels Costa Gomes. Portanto, o costume racionaliza o processo e chama o moleque de Rânio Faria Borja, e dá o mesmo sobrenome à sua irmã Sujely. Veja na figura abaixo o q acontece. Os homens tão em azul e as mulheres em rosa (aiaiai, os clichês). Os sobrenomes herdados de pais tão em fonte preta; os de mães, em fonte vermelha. Note q cada mulher herda como sobrenome principal o sobrenome principal de seu pai.

Pelo método tradicional, como se vê, ao fim de duas gerações os oito sobrenomes iniciais se reduzem à dois: os irmãos Rânio e Sujely são Faria Borja; seus primos Felvin e Quotilde são Borja Faria. Mas ¿por quê? ¿Por quê restam apenas os sobrenomes dos pais de seus avôs, dos avôs de seus bisavôs? ¿Quê aconteceu com suas avós e bisavós? ¿Quê aconteceu com a identidade de TODAS as mulheres envolvidas? Todas elas ficaram 9 meses com um peso à mais, em geral sacrificaram-se muito mais fundamentalmente em prol da existência e manutenção dos filhos, e no entanto sua linhagem é sumàriamente esquecida. Pois tanto qto existe uma linhagem masculina, existe uma feminina. Se todo humano é fruto sine qua non dum homem e duma mulher, e deve sua genética à ambos, o senso de justiça aí falhou: a linhagem masculina permanece ùnicamente pq prevaleceu a crua biologia: o homem é em geral mais forte, mais violento e mais cretino do q a mulher. Não é ä toa q a sogra do marido seja folclòricamente uma personagem desagradável: ela é a mais injustiçada, pois seu sobrenome é o primeiro à ser descartado. (Nos pouquíssimos sistemas matrilineares, a injustiça se inverte: é a linhagem feminina q permanece, pq aí prevalece a crua domesticidade: a mulher é em geral mais estável, mais teimosa e mais cretina do q o homem... ¡Êpa, uma contradição!)
Mas não se desesperem, afoitos defensores da Racionalidade e da Justiça: tem uma solução. Sempre q um casal de conhecidos tá grávido, o Dr Plausível propõe q batizem a criança diferentemente de acordo com seu sexo. Se menino, q herde o sobrenome do pai; se menina, q herde o da mãe. Uma série de homens preserva um dos sobrenomes; uma de mulheres preserva o outro. Muito mais justo, né não? Reconhece, leitor machista; estraçoa teu preconceito; expunge tua cisma; esbarronda tua repulsa.
Pra q o sobrenome da prole represente tanto a linhagem do pai qto a da mãe, há três métodos de organizar a coisa. O primeiro é o q vcs já conhecem: ao sobrenome da mãe, segue-se o do pai em qqer caso, mas esse já vimos q é injusto. Aplicando-os äquela família acima, há tbm um segundo e um terceiro métodos q fazem mais justiça ao lado feminino da coisa. Um deles preserva quatro sobrenomes; o outro, os oito –pelo menos até a terceira geração.
No segundo, tanto o filho qto a filha herdam o sobrenome do pai do pai e o da mãe da mãe, mas os da menina invertem os do menino pq elas herdam como sobrenome principal o de suas mães e avós. Por exemplo, Rânio Hassenteufel Borja é irmão de Sujely Borja Hassenteufel; sua prima Quotilde Faria Dias é irmã de Felvin Dias Faria.

Este método tem a vantagem de ser fácil de explicar e entender, e sua maior justiça é evidente: quatro sobrenomes foram preservados, dois da linha paterna e dois da linha materna.
No terceiro método, o filho herda o sobrenome do pai da mãe e o do pai do pai; a filha herda o da mãe do pai e o da mãe da mãe. Pros meninos, só sobrenomes da linha masculina; präs meninas, só dos da linha feminina.

Este método é o mais justo: embora recombinados, os oito sobrenomes se mantêm intactos nas três gerações. A desvantagem é a confusão: Rânio Euler Borja é irmão de Sujely Costa Hassenteufel, e sua prima Quotilde Gomes Dias é irmã de Felvin Abreu Faria.
O método mais prático é o menos justo, e o mais justo é o menos prático; escolha-se o meio termo.
Mas pergunta aí se algum conhecido, amigo ou parente do doutor já aceitou a sugestão plausível; pergunta se alguém algum dia vai aceitar. A Racionalidade e a Justiça –esses poderosíssimos construtores de civilizações– perdem feio pra dois atributos subjacentes do Universo: a regularidade e a inércia –q